Se estivesse vivo, Waldemar Costa Filho, prefeito de Mogi das Cruzes por quatro vezes, completaria 100 anos neste sábado, 3. Na ausência dele foi o “Boy”, apelido pelo qual é conhecido o filho e atual presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, o grande homenageado da sessão solene organizada pela Câmara Municipal nesta sexta, 2, para marcar a data. Com o plenário lotado de políticos e autoridades da cidade de 500 mil habitantes, a 59 km da capital, o evento virou um “beija-mão” em busca de apoio do cacique partidário para as eleições de 2024.
Anfitrião da festa, o vereador José Luiz Furtado (PSDB) caprichou na produção. Espalhou fotos pessoais de Waldemar, o pai, pelo prédio do Legislativo municipal, incluindo lembranças da primeira comunhão do ex-prefeito e de sua passagem pelo antigo Tiro de Guerra. Também editou um vídeo com uma entrevista antiga do homenageado. “Não delegue poderes para ninguém. Se fizer isso, estará desgraçado”, dizia Waldemar no vídeo.
Não delegue poderes para ninguém. Se fizer isso, estará desgraçado.”
Waldemar Costa Filho, o pai
No início da cerimônia, o tucano pediu à orquestra da cidade para tocar a “Canção do Expedicionário”, que ficou conhecida como o “hino dos pracinhas”, os soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra. “Era a sua música preferida”, disse o vereador. Antes, a cantora Henriette Fraissat interpretou “Emoções”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e “De Volta pro Aconchego”, eternizada na voz de Elba Ramalho.
A homenagem ocorreu no mesmo dia em que Valdemar e o ex-presidente Jair Bolsonaro almoçaram com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Há uma tentativa de fazer Nunes candidato à reeleição pelo PL, mas, para tanto, ele precisa aceitar mudar de partido.
Ao saber desse almoço – o segundo em menos de um mês –, o deputado Ricardo Salles (SP) ficou furioso e, neste sábado, 2, atacou Valdemar nas redes sociais. Ex-ministro do Meio Ambiente, Salles quer ser o candidato do bolsonarismo à Prefeitura de São Paulo e vê um movimento da cúpula do PL para tirá-lo do páreo. “Quem com os porcos anda, farelo come”, escreveu ele no Twitter. Valdemar não respondeu.
Na sexta-feira, 2, após aquele almoço com Bolsonaro e Nunes, o presidente do PL se dirigiu para a Câmara Municipal de Mogi. Ao lado de Valdemar, o filho, estavam ainda o senador Marcos Pontes (PL-SP), outro nome citado para concorrer à sucessão de Nunes; o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL); e o prefeito de Mogi, Caio Cunha (Podemos), o primeiro a não compor o grupo político da família em 30 anos. Eleito em 2020 com a bandeira da renovação, Cunha diz ter uma relação próxima com Valdemar e não descarta o apoio dele na busca pelo segundo mandato.
Diferentemente de 2020, quando era mais lembrado pelo escândalo do mensalão, após ser condenado a sete anos e dez meses de prisão e cumprir a pena em regime fechado, o ex-deputado está hoje à vontade em circular por Mogi. Desde que filiou o então presidente Bolsonaro para a disputa eleitoral do ano passado, Valdemar só ganhou força.
Com 99 deputados federais eleitos pelo PL, ele não perdeu prestígio nem mesmo após Bolsonaro ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário: depois de assumir a maior fatia do fundo partidário, e também a do fundo eleitoral, no ano que vem, o dirigente virou uma das lideranças mais procuradas no País, com políticos de todas as regiões e diferentes legendas fazendo fila em seu escritório em Brasília.
Pelas ruas de Mogi, a volta por cima de Valdemar começou a ser notada em seu retorno aos eventos sociais, de festas em clubes municipais à inauguração de supermercado. Nos bastidores, o comentário que se ouve é que “Valdemar voltou forte”, mas se esqueceu de um detalhe: formar um sucessor. A pouco mais de um ano para as convenções partidárias, o nome do candidato do PL – ou do grupo do “Boy” – à prefeitura de Mogi ainda é desconhecido.
Furtado está nessa fila, assim como o ex-prefeito Marcus Melo (PSDB), derrotado por Caio Cunha, e o deputado estadual Marcos Damásio (PL), que passa a ser citado na cidade como opção. O nome sairá de uma costura que incluirá, além do PL de Valdemar, o aval do PSD e do Republicanos. Enquanto espera, o vereador tucano faz a lição de casa.
“O presente de Projeto de Decreto Legislativo visa reconhecer que a vida de Waldemar Costa Filho, neste 100º ano de seu nascimento, foi um presente para todo o município, que possui um antes e um depois de sua atuação na gestão política”, afirmou o vereador ao propor a homenagem. Cunha também elogia o ex-prefeito. “Ele colocou nossa cidade no mapa ao planejar e executar as rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga. Os moradores ainda se lembram muito dele”, declarou ao Estadão.
A disputa Valdemar x Salles
Ao discursar durante a sessão, o deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP) seguiu na mesma linha. “A Mogi-Dutra foi construída não pelo governo estadual ou pelo governo federal, mas pela prefeitura de Mogi, sob o comando de Waldemar. Nós todos devemos nos inspirar nele, que tinha a palavra como ponto de honra. E todas essas características foram herdadas pelo filho Valdemar. Em Brasília, todo mundo sabe: ‘Se Valdemar falou, tá falado’”, disse Bertaiolli, sob o olhar atento do “Boy” e aplausos dos convidados. O parlamentar é outro que pode disputar a prefeitura no ano que vem.
Ao longo de quase duas horas, Waldemar, pai, e Valdemar, filho, foram incansavelmente elogiados pelos políticos que tiveram a chance de usar o microfone. Ao ter a sua vez, o presidente do PL brincou ao ver tantos companheiros. “Aliás, companheiro não pode, depois do Bolsonaro”, brincou, em referência à expressão sempre usada pelo presidente Lula e por filiados do PT.
Ao falar do pai, Valdemar o comparou a Bolsonaro. “Meu pai era tão diferente como eu acho que é o Bolsonaro, que é de outro mundo”, disse. “A única ambição que ele tinha era ser prefeito de Mogi, e acho que não puxei ele em nada. Só nos gostos e na honestidade.” O público aplaudiu.
Meu pai era tão diferente como eu acho que é o Bolsonaro, que é de outro mundo.”
Valdemar Costa Neto, o filho
Ao finalizar o discurso, Valdemar agradeceu a todos e, em tom irônico, também ao próprio Lula, que, segundo ele, tem “ajudado muito” Bolsonaro.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.