O ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), afirmou que os valores destinados à manutenção do Parque Olímpico de Deodoro, no Rio de Janeiro, são “muito altos” e defendeu uma readequação orçamentária para garantir a continuidade das atividades no local. As declarações foram feitas na última quarta-feira, 26, durante agenda com o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), em Brasília, um dia após o Estadão procurar a pasta sobre o fim do acordo de cooperação com o Exército. A decisão levou à suspensão de cerca de 80 eventos sociais e esportivos previstos para este ano no complexo de Deodoro, além de paralisar outros centros mantidos pela Marinha e Aeronáutica no Estado, como mostrou reportagem publicada neste sábado, 29.
“Nós estamos sensíveis à causa, que a gente está procurando aqui uma saída. O que, na verdade, nós queremos é que haja uma readequação dos valores que, hoje, são gastos nesse parque. São valores muito altos. [...] É um valor alto, é um valor considerável, que a gente acredita que pode, com a sensibilidade das pessoas que estão investindo naquela área, ser baixado e poder ajudar mais pessoas também, em outras áreas do Rio de Janeiro”, disse Fufuca, em vídeo compartilhado pelo deputado Pedro Paulo em seu perfil no Instagram.

Como mostrou o Estadão neste sábado, o governo Lula, por meio do Ministério do Esporte, não renovou o acordo de cooperação com o Exército, encerrado em fevereiro, que garantia a manutenção e o funcionamento do centro esportivo – um dos principais legados dos Jogos Olímpicos de 2016. A Força alegou que, sem recursos e respaldo jurídico, foi obrigada a suspender cerca de 80 atividades, entre treinamentos e competições, o que levou à paralisação do complexo.
Procurado pelo Estadão no dia 25 de março, portanto um dia antes da agenda do ministro com Pedro Paulo, o Ministério do Esporte se limitou a dizer, por meio de nota, que “aguarda a sanção do orçamento de 2025 para, a partir da nova realidade orçamentária da pasta, repactuar com o Ministério da Defesa a manutenção dos equipamentos”. A pasta não comentou os impactos da paralisação do complexo em treinamentos e competições.
A decisão do Ministério do Esporte também afeta a manutenção do legado olímpico sob cuidados da Marinha, no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), na região da Penha, Zona Norte do Rio, e o da Aeronáutica, dentro da Universidade da Força Aérea (Unifa), no Campo dos Afonsos, na região de Realengo.
Mas esses espaços são menores e já existiam dentro de instalações militares. O principal problema gira em torno do Parque Olímpico de Deodoro, administrado pelo Exército. O complexo está fora da área militar e a Força entende que precisa estar respaldada por um instrumento formal para atuar e, principalmente, por verba para manutenção.
O espaço, com cerca de 496 mil metros quadrados, abrange o Centro Militar de Tiro Esportivo, o Centro de Pentatlo Moderno, o Centro de Hóquei sobre a Grama, o Parque Equestre (para provas de salto, adestramento e equitação) e a Arena Wenceslau Malta – instalação multiuso com capacidade para eventos com até 7 mil pessoas e apta a receber eventos internacionais de judô, taekwondo e jiu-jitsu. Nos Jogos de 2016, sediou competições de basquete e esgrima.
O complexo de Deodoro começou a ser erguido em 2004, com vista aos Jogos Pan-Americanos de 2007. Áreas antes usadas pelo Exército foram cedidas para receber instalações esportivas. Depois da competição, houve desentendimentos sobre como se daria a manutenção do parque. Com a escolha do Brasil, em 2009, para a Olimpíada de 2016, o complexo foi ampliado e virou parte do que se considera o legado olímpico tangível – as benfeitorias realizadas na cidades que recebem as competições e servem para atletas e sociedade como um todo.
Em nota, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marco La Porta, afirmou ter como premissa a “união de forças em prol do esporte brasileiro” e que cabe ao Comitê “mediar, unir as pontas para que encontremos a melhor solução para as partes”.