Há pelo menos nove evidências de falsificação do laudo divulgado na última sexta-feira, 4, por Pablo Marçal (PRTB) para acusar Guilherme Boulos (PSOL), seu adversário na disputa pela Prefeitura de São Paulo, de ter sido internado devido a um surto psicótico causado pelo consumo de cocaína, segundo apurou o Estadão.
Entre outros itens, o RG citado no documento não é o de Boulos e a assinatura do médico José Roberto de Souza —já falecido— não corresponde à que ele usava em documentos oficiais. A família de Souza diz que ele nunca atendeu na capital paulista, e sua filha afirma que a assinatura no laudo não é dele.
Além disso, o psolista teve compromissos públicos numa comunidade da zona sul de São Paulo no dia da suposta internação, 19 de janeiro de 2021, e no dia seguinte, como mostram posts reproduzidos na noite de ontem pelas suas redes sociais.
Reportagens do Estadão também mostram que o dono da clínica que emitiu o falso laudo, Luiz Teixeira da Silva Júnior, já foi condenado por falsificar um diploma para obter registro no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul. Amigo de Marçal, ele aparece em fotos com o ex-coach usando um jaleco do Albert Einstein sem nunca ter trabalhado no hospital, conforme informou o próprio Einstein neste sábado, 5.
Confira abaixo as nove evidências de que o laudo apresentado por Marçal é falso.
Reação rápida da campanha de Boulos
Logo que Marçal publicou seu post no Instagram, na noite desta sexta-feira, 4, Boulos iniciou uma transmissão ao vivo no Instagram, afirmando que o documento divulgado por seu adversário é falso e que o dono da clínica mencionada seria um apoiador de Marçal. “Olha o nível que o cidadão chegou: falsificação de documento”, disse o candidato do PSOL.
O falso laudo já foi removido pela rede social. O documento afirmava que, às 16h45 do dia 19 de janeiro de 2021, Boulos teria dado entrada na Mais Consulta Clínica Médica com um quadro de surto psicótico grave. Segundo o texto, um exame toxicológico apresentado por um acompanhante de Boulos indicaria resultado positivo para uso de cocaína.
Entretanto, no dia da suposta internação, Boulos se encontrou com o vereador Emerson Osasco (PCdoB) e, no dia seguinte, estava distribuindo cestas básicas na Comunidade do Vietnã, também na zona sul. Publicações nas redes sociais, tanto de Boulos quanto de seus apoiadores, comprovam os compromissos públicos do agora candidato à Prefeitura de São Paulo. Além disso, ele participou de um podcast no dia seguinte e teve outras atividades públicas na véspera da alegada internação.
Outra inconsistência, mencionada pelo próprio Boulos durante uma transmissão ao vivo no Instagram, na qual pediu a prisão de Marçal, é o erro no número de seu documento de identidade no suposto receituário. A reportagem apurou a alegação de Boulos e confirmou que o RG no documento realmente está incorreto. Além disso, um dos sócios da clínica onde Boulos teria sido supostamente internado é Luiz Teixeira da Silva Júnior, médico amigo de Pablo Marçal, que aparece em vídeos ao lado do influenciador nas redes sociais. Ele já foi condenado por falsificação de documento público.
A reportagem tentou contato com a Mais Consulta Clínica Médica, mas os números disponíveis no suposto receituário e na conta da clínica no Instagram estão indisponíveis. Outro ponto é que o médico que assinou o receituário, Dr. José Roberto de Souza (CRM 17064-SP), já faleceu, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Outra controvérsia envolve a escolha da própria clínica mencionada na suposta internação de Boulos. Ele é filho de dois médicos e professores de medicina da Universidade de São Paulo (USP). Seu pai, Marcos Boulos, já foi diretor da Faculdade de Medicina da USP. Quando, aos 19 anos, Boulos precisou de tratamento psiquiátrico devido a um quadro de depressão, foi internado no Hospital do Servidor Público Estadual, conhecido por sua excelência no atendimento. Isso levanta dúvidas sobre a veracidade da alegação de que ele teria procurado uma clínica de menor prestígio.
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