A campanha em oito olhares; veja a análise dos colunistas do Estadão sobre a corrida eleitoral

Incerteza em São Paulo em meio a campanha agitada é um dos destaques dos 45 dias de busca por voto pelo País

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Por Redação

Após quarenta e cinco dias de campanha eleitoral e mais alguns meses de pré-campanha em que os candidatos, muitos vezes, mostraram o que tinham de pior para oferecer, eleitores de 5.569 cidades brasileiras vão às urnas para decidir os próximos quatro anos em seus municípios. Em São Paulo, em especial, em meio à tensão de um empate triplo na primeira posição e de movimentos de última hora que podem tornar incerto o resultado das urnas.

Nunes, Boulos, Marçal, Tabata, Datena e Marina Helena Foto: Felipe Rau e Werther Santana/Estadão

As diferenças entre as estratégias de candidatos e ritmo das campanhas nas capitais paulista e fluminense, os efeitos para os padrinhos políticos Lula, Bolsonaro e Tarcísio, a disputa na direita e o baixo nível que marcou o debate público são alguns dos pontos analisados pelos colunistas do Estadão. Veja abaixo cada um deles:

Carlos Andreazza: Campanhas eleitorais em SP e no Rio foram opostas e degradantes para a democracia

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Duas jornadas opostas absolutamente, as de São Paulo e Rio de Janeiro, ambas — cada uma a seu modo, diversas as intensidades — degradantes para a porção da democracia cuja saúde se manifesta no voto.

Em São Paulo, a hipercampanha eleitoral. Processo exaustivo, para exaurimento (sobretudo) da atividade política. A impressão de que havia debates todos os dias; que duravam os dias todos. O mesmo debate, todos os dias, os dias todos. O mesmo debate, sem São Paulo. Hipercampanha que impôs a superexposição — o cansaço, a fadiga da imagem — dos candidatos. Também o superaquecimento.

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No Rio de Janeiro, o inverso: a campanha eleitoral ausente — uma espécie de hipocampanha. Quem chegasse desavisado à cidade agora precisaria de tempo e alguma atenção até talvez desconfiar de que os cariocas escolherão prefeito. Foram somente dois debates. Jornada de esvaziamento tocada pelo candidato à reeleição Eduardo Paes. Nem um plebiscito sobre sua administração a coisa esteve próxima de parecer. Um extremo que, por inação, também desqualifica a atividade política.

Leia a íntegra da coluna do análise de Carlos Andreazza.

Eliane Cantanhêde: Golpe final para manter toda a eleição e todos nós em torno de um único eixo, um único nome

O correto seria que o ultraje contra Guilherme Boulos funcionasse a favor de Boulos, como a facada de Adélio em Jair Bolsonaro alavancou a vitória de Bolsonaro em 2018. Mas não. Desta vez, títulos, fotos, análises e repercussões focam o criminoso, não a vítima. Caímos todos na sua armadilha, ou na estratégia demoníaca de sugar não apenas a eleição em São Paulo, mas toda a eleição de 2024 e toda a mídia para um único eixo, um único nome.

Com milhões de indecisos, desinformados, irritados ou querendo ver o circo pegar fogo, imaginem o eleitor que não prestou a devida atenção à eleição e se vê numa fila para votar e de cara com uma urna. Acaba votando no anti-tudo ou no que primeiro nome que lhe vem à mente: aquele que todos nós passamos meses e meses falando dia e noite.

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Leia a íntegra da análise de Eliane Cantanhêde.

Vera Rosa: Que saudade do ‘Cala a boca, Maluf’!

A campanha para a Prefeitura de São Paulo vai ficar marcada como um dos episódios mais tristes e lamentáveis da cena política. Depois de cadeiradas e até soco ao vivo, durante debates nos quais deveriam ser apresentadas propostas para a cidade, o primeiro turno da eleição termina com um golpe baixo do candidato Pablo Marçal (PRTB), que recorreu à “Lei de Gerson” para provocar uma “queimada digital” na última hora.

Mas por que a campanha na capital que antes exibia debates acalorados entre o PT e o PSDB, ou mesmo entre petistas e Paulo Maluf, enveredou por esse caminho?

O que Marçal fez ao apresentar um laudo médico falso para tentar associar Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas foi muito mais do que um ataque ao adversário. Marçal rachou a direita e atacou o jogo democrático.

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Leia a íntegra da análise de Vera Rosa.

Ricardo Corrêa: Eleição em São Paulo testa três estilos de campanha: o de alianças, o do padrinho e o do caos

Os eleitores de São Paulo que estão indo às urnas neste domingo terão que escolher entre três estilos de campanha. Dois tradicionais e de certa forma até insossos, embora distintos entre si, representados por Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), e um caótico e destrutivo, encenado por Pablo Marçal (PRTB). Embora bastante diferentes, as estratégias surtiram efeito semelhante, com os candidatos chegando tecnicamente empatados na maioria dos levantamentos de intenção de voto divulgado nos últimos dias da corrida eleitoral.

Prefeito e candidato à reeleição, com o apoio do governador Tarcísio de Freitas e de um envergonhado Jair Bolsonaro, Nunes nunca escondeu qual seu objetivo na campanha: construir uma aliança sólida com partidos de diversas correntes e que pudessem lhe garantir capilaridade e tempo de TV incomparáveis.

Guilherme Boulos também não inovou. Enquanto o prefeito se baseou no tamanho da aliança e no argumento de que representaria uma frente ampla, o psolista sempre deixou claro que seu principal ativo era o apadrinhamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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É que, no meio do caminho apareceu Pablo Marçal. O candidato que abalou todas as demais campanhas com uma estratégia que baseava-se simplesmente em tratorar os bons modos, o respeito básico e a Lei Eleitoral.

Leia a íntegra da análise de Ricardo Corrêa.

Francisco Leali: Para que serve votar em prefeito se os candidatos vão à beira de um ataque de nervos?

Passaram-se só quatro anos, mas parece que foi em outro século. As eleições municipais de 2020 soam neste outubro de 2024 como algo bem distante. De um tempo em que o eleitor foi para urna ainda sob temor de ser contaminado pelo vírus da Covid-19. Neste ano, chega-se ao momento de escolher o nome do prefeito com os problemas de outra ordem. Eles são cotidianos e futuros e parecem querer arrombar a porta de casa.

Ainda que em algumas partes do País, particularmente na maior cidade brasileira, a campanha eleitoral tenha sido um despropósito, o voto poder ser sinônimo de uma certa esperança. Uma manifestação de que a escolha do mandatário local possa contribuir para aplacar os males que o eleitor enfrenta todos os dias: longas horas no trânsito, o posto de saúde apinhado de gente, as escolas urgindo por mais infraestrutura e a insegurança de chegar ao outro lado da rua sem ser assaltado.

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Leia a íntegra da coluna de Francisco Leali.

Sérgio Denicoli: Centro ganha personalidade nas eleições, rompe a polarização e se consolida como ideologia de peso

As eleições deste ano confirmam que o centro político finalmente encontrou sua voz. Deixando para trás o estigma de posição sem personalidade, isenta, ou oportunista, se firmou como um eixo moderado, que abre espaço entre os polos da direita e esquerda.

E não estou falando do centrão fisiológico, que é um caso à parte e não abarca essa nova força política. Me refiro a algo que emerge como bandeira ideológica, se mostrando como uma força que busca uma política mais focada na diplomacia e menos no conflito.

Direita e esquerda mantêm suas bases sólidas, apesar da fragmentação interna que sofrem. A esquerda já provou sua grande capacidade de brigar unida, juntando suas facções e caminhando na mesma direção, sempre que necessário. Já a nova direita, que se consolidou no Brasil em 2018, passa agora por turbulências e divisões, e ainda não enfrentou o teste de, após os conflitos internos, se unir em torno de um nome de consenso. O segundo turno das eleições poderá deixar esse cenário mais claro.

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Leia a íntegra da análise de Sergio Denicoli.

Monica Gugliano: A dúvida da direita: escolher uma cópia ‘light’ de Bolsonaro ou um boneco ventríloquo

Imagine se você tivesse que escolher entre dois produtos. O primeiro é uma “legítima cópia” do original. O segundo, uma cópia assim... meio mais ou menos... da matriz. Com qual dos dois ficaria? Difícil escolha. E é ela que terão de fazer os eleitores que, no campo da direita, estão divididos entre mandar, neste domingo, 6, para o segundo turno, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), ou o coach, mistura de influenciador, Pablo Marçal (PRTB). Nunes relutou enquanto pode para assumir essa faceta bolsonarista. E foi o mais discreto possível. Engoliu o vice, o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello de Araújo, e não se desgrudou mais do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que hoje, à exceção do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deve ser um dos bolsonaristas mais importantes na hierarquia nacional.

Nunes é um bolsonarista talvez ideológico que tenta transitar também na centro-direita. Marçal, por sua vez, é aquilo que se chama de”bolsonarista raiz”. Das inquietudes aos maus modos, passando pela falta de coerência e solidez nas propostas, Marçal é quase um boneco ventríloquo do ex-presidente. E só não foi uma cópia mais perfeita porque o próprio Bolsonaro se retraiu e deixou a campanha correr frouxa. Largou Nunes ao relento, e oscilou entre o amor e o ódio com Marçal. Ora condecorou o coach com a vergonhosa “medalha imbrochável, incomível, imorrível”, ora disse que Marçal era uma pessoa que “não lhe transmitia confiança”.

Leia a íntegra da análise de Monica Gugliano.

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J. R. Guzzo: Fenômeno sísmico da eleição em São Paulo é a preferência dos trabalhadores pela direita

O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos. Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso. Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.

O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil. Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”. É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.

Leia a íntegra da análise de J. R. Guzzo.

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