BRASÍLIA - Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram gastos R$ 511,5 milhões com passagens, diárias e taxas de servidores em viagens para fora do País. Comparado aos dois últimos anos da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governo petista registrou um crescimento de 71% nas despesas com viagens internacionais. Essa diferença pode ser ainda maior, uma vez que ainda restam três meses para fechar o balanço anual de gastos do Executivo.
O levantamento feito pelo Estadão tomou como base os dados disponibilizados pelo Portal de Viagens do Ministério da Fazenda. Na lista de campeões em gastos de viagens estão um ministro e secretários de quatro ministérios do governo federal.
Apesar de ter mais de R$ 61 mil pagos pelo erário para viajar até Nova York, para acompanhar Lula na 79ª reunião da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, não está entre os dez servidores que mais tiveram passagens custeadas pelo erário. Desde o início do governo, ela teve R$ 303 mil de passagens e diárias pagos com dinheiro público.
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Responsável pelo comando da política externa do governo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira foi quem mais foi beneficiado com recursos para cumprir agendas internacionais. Foram R$ 1,99 milhão do erário destinado ao pagamento dos custos.
Depois de Mauro Vieira, quem mais teve passagens, diárias e taxas custeadas foi Roberto Serroni Perosa, que é secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os gastos das viagens de Serroni Perosa para o erário foi de R$ 1,80 milhão.
Seguindo Vieira e Serroni Perosa, estão quatro servidores do Itamaraty, há uma subordinada do ministro Fernando Haddad e um servidor do Mapa. Na lista dos dez que mais gastaram, também está o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro e o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
Na campanha presidencial de 2022, Lula prometeu “reintroduzir” o Brasil em discussões internacionais, em uma crítica a postura isolacionista de Bolsonaro. Com o lema “o Brasil voltou”, o petista visitou 23 países em 2023 e os seus servidores também aumentaram o fluxo de idas ao exterior.
Ao Estadão, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) afirmou que as agendas no exterior feitas pelo governo federal devem trazer investimentos de até R$ 748 bilhões para o País. “Viagens governamentais são um importante instrumento para o fortalecimento de relações entre países e para a promoção de negócios. O Brasil, após hiato de quatro anos como pária internacional, voltou a ser convidado para os principais eventos globais e a ser recebido pelas principais lideranças do mundo”, disse.
A Fazenda afirmou que Tatiana Rosito cumpre rotineiramente compromissos fora do país, o que invariavelmente impacta no montante de recursos empregados nos procedimentos de aquisição de passagens, os quais seguem as normas e regulamentos da Administração Pública Federal. “Ressalte-se que as atividades rotineiras da secretária envolvem representar o Ministério em discussões e negociações econômico-financeiras regionais e extrarregionais”, disse a pasta.
O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, disse que os custos das viagens internacionais são “consequências naturais das suas atribuições”. “Intensa agenda de trabalho em países estrangeiros, o que justifica os deslocamentos dos seus servidores para participação em reuniões bilaterais e multilaterais no exterior”, completou a pasta.
Já o Ministério da Agricultura e Pecuária afirmou que as viagens dos dois secretários foram necessárias para “reaproximar o governo das contrapartes estrangeiras responsáveis pelos assuntos sanitários e fitossanitários nos países, além de expandir os produtos agrícolas brasileiros no comércio mundial”.
“Além disso, houve participações em feiras internacionais que geraram bilhões em negócios para o Brasil, bem como negociações essenciais para a abertura, expansão e permanência de mercados. As viagens também foram importantes para conhecer modelos de rastreabilidade de animais, um tema cada vez mais relevante para a pecuária nacional”, completou a pasta.
O Estadão também procurou a Anvisa e o Ministério de Minas e Energia, mas não obteve retorno.
Governo Lula gastou mais de R$ 750 mil para custear ida de servidores à Assembleia da ONU
No último sábado, 21, Lula levou mais de 100 pessoas, entre autoridades e assessores, para acompanhá-lo na Assembleia-Geral da ONU. Até o momento, já foram informados que pouco mais de R$ 750 mil foram retirados do erário para custear as viagens da comitiva brasileira. Quem teve o valor de custeio mais alto foi a ministra Esther Dweck, com R$ 46 mil só em passagem de avião.
O valor deve subir nos próximos dias já que, das 100 pessoas, só é possível saber totalmente os valores das viagens de 15 delas, incluindo diárias e passagens. No caso de 19 servidores, é possível saber o valor apenas das passagens. Em 65 situações, não é possível saber nem sobre diárias e nem passagens ainda. Os dados devem ser atualizados nos próximos dias.
No começo do mês, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, viajou ao Catar a convite da sheika do Catar, Mozha bin Nasser al-Missned, para um evento sobre educação. O custo foi de pelo menos R$ 283,3 mil e Janja levou consigo quatro assessores e oito policiais federais.
Em julho, o governo Lula sofreu críticas após pagar R$ 83,4 mil para Janja representar o Brasil como chefe de Estado na abertura da Olimpíada de Paris. O gasto com a primeira-dama foi o segundo mais alto por servidor no mês de julho.
Em 2021 e 2022, Bolsonaro gastou R$ 164 milhões a menos do que Lula com viagens para o exterior
Em 2021 e 2022, que foram os últimos dois anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, foram gastos R$ 298,7 milhões para custear passagens, diárias e taxas de servidores do governo federal.
O campeão em recursos gastos para viagens internacionais no período foi Sarquis José Buainain Sarquis, cujas viagens totalizam R$ 690 mil em dois anos. Servidor de carreira do Itamaraty, ele exerceu no governo do ex-presidente o posto de secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros.
Mesmo com a troca de governo, Sarquis permanece nas Relações Exteriores. No governo Lula, o diplomata é o embaixador do Brasil junto à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em segundo, aparece o ex-ministro das Comunicações Fábio Faria. Genro do apresentador Silvio Santos, falecido no mês passado, Faria é um aliado próximo do ex-presidente e foi deputado federal entre 2007 e o ano passado. As agendas internacionais dele custaram R$ 624 mil ao erário.
Fechando a lista dos dez servidores mais custeados com viagens internacionais, estão outros três ministros: Bento Albuquerque (Minas e Energia), Marcelo Queiroga (Saúde) e Carlos França (Relações Exteriores)
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