Desde domingo, quando a capital da República foi atacada por vândalos, um clima de desconfiança se instalou na Praça dos Três Poderes. Diante desse cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido aconselhado a tirar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) da estrutura do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
A ideia de desmilitarizar a inteligência do governo apareceu nas discussões da equipe de transição, mas ganhou força nos últimos dias, após a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Aliados de Lula retomaram a cobrança pela criação de um ministério para cuidar da segurança pública, separado da pasta de Justiça, comandada por Flávio Dino. A avaliação é de que houve “sabotagem” por parte do governo do Distrito Federal ao não impedir o vandalismo. Mesmo assim, Lula afirmou que o GSI, a Abin e os ministérios da Justiça e da Defesa também falharam.
Como mostrou o Estadão, petistas querem a cabeça do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, sob o argumento de que ele não tem ascendência sobre as Forças Armadas e será tutelado por militares. Na prática, o PT briga para emplacar na cadeira um nome indicado pelo partido. Por enquanto, Lula não pretende mexer com Múcio, embora ele esteja desgastado.
Há no Planalto, ainda, o diagnóstico de que o GSI precisa passar por uma desintoxicação, pois está “contaminado” por agentes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Dirigido pelo general G. Dias, que chefiou a segurança de Lula na campanha e em seus dois mandatos, o GSI já começou a ser desidratado. A proteção do presidente, por exemplo, passou a ser feita pela Polícia Federal. Agora, após os ataques de domingo, ministros próximos a Lula insistem para que a Abin – responsável por fornecer informações estratégicas ao governo – saia da alçada desse gabinete.
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“O excesso de participação de militares na política está levando, progressivamente, à contaminação das forças de segurança”, observou o titular da Casa Civil, Rui Costa.
Servidores dizem haver uma espécie de “Abin paralela”, que ainda atende a interesses de Bolsonaro. Não fosse isso, o que explicaria o fato de alertas da Abin sobre o risco de invasão terem sido ignorados?
A triste realidade, porém, não para por aí. Na janela de vidro do Supremo, a pichação “Perdel (sic) mané” – referência à expressão usada pelo ministro Luís Roberto Barroso ao ser abordado, em Nova York, por um bolsonarista que via fraude nas eleições – exibiu a outra face do terror. E mostrou que a última flor do Lácio passou longe da Praça dos Três Poderes...
*É REPORTER ESPECIAL
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