Estão adiantadas as articulações para levar a secretária de Relações Internacionais da Prefeitura, Marta Suplicy, de volta ao PT. A aliança entre o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é, até agora, o incentivo que faltava para Marta retornar às fileiras petistas. Ela não admite subir no mesmo palanque de Bolsonaro, a quem já chamou de “psicopata”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já fez o convite à ex-prefeita, que deixou o PT em 2015 e hoje está sem partido. Os dois conversaram por telefone e combinaram de acertar detalhes pessoalmente, em uma conversa mais adiante. Se não houver uma mudança de última hora, tudo caminha para Marta ser vice na chapa do deputado Guilherme Boulos, candidato do PSOL à sucessão de Nunes e líder nas pesquisas de intenção de voto.
Diante das notícias sobre o assunto, Marta se mantém em silêncio, o que, para quem a conhece, é bastante sintomático. Nunes e seus auxiliares mais próximos estranharam a atitude da secretária, que saiu de férias em dezembro sem nada dizer.
Não foi o que ocorreu em agosto do ano passado, quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que ela poderia se filiar a seu partido para fazer dobradinha com Nunes. À época, Marta foi logo avisando que essa hipótese não estava no radar. Agora, porém, não se ouviu dela nenhuma palavra.
Valdemar diz não acreditar que Marta entre ‘numa fria dessas’
“Vice do Boulos? Não acredito que a Marta entre numa fria dessas”, afirmou Valdemar à Coluna. O presidente do PL teceu vários elogios à secretária e criticou o candidato do PSOL, já antecipando o tom do discurso da campanha pela reeleição.
“Se bobear, Boulos põe fogo no Brasil com o orçamento de São Paulo”, fustigou ele. “E, além disso, Marta não é tão importante para o Boulos como seria se formasse chapa com Nunes”, insistiu. Ao ser questionado por que chegou a essa conclusão, Valdemar não titubeou: “Os dois têm o mesmo voto da periferia.”
No Palácio do Planalto e na cúpula do PT, a volta de Marta é dada como praticamente certa. A ala mais à esquerda não vê esse retorno com bons olhos porque, quando ela deixou o PT em 2015, após ter sido filiada por quase 35 anos, escreveu uma carta dizendo que o partido era “protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção”.
Ainda senadora, em 2016, Marta votou a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, de quem foi ministra. Mas se nem os integrantes da própria corrente de Lula no PT conseguem influenciar nas decisões do presidente, que dirá a esquerda do partido?
Nunes, por sua vez, quer o voto dos bolsonaristas, mas, se pudesse escolher, gostaria que Jair Bolsonaro não aparecesse tanto na campanha. É que, embora Tarcísio de Freitas tenha conquistado o governo de São Paulo, em 2022, Bolsonaro perdeu a disputa na capital e as pesquisas mostram que o perfil do eleitor paulistano é mais de centro.
Tarcísio quer ajudar Nunes a encontrar ‘vice ideal’
Tarcísio se comprometeu a encontrar um vice ideal para o prefeito, mas, de qualquer forma, o nome passará pelo crivo de Bolsonaro. Se essa aliança for mesmo adiante, como tudo indica, o vice será do PL. Ninguém naquele círculo político cogita, no entanto, a possibilidade de se aproximar do deputado Ricardo Salles (PL-SP).
“Eu nunca falei de dar essa carta para ele, mesmo porque, para fazer isso, teria de consultar todos os deputados federais e estaduais por São Paulo”, avisou Valdemar. “E o Salles só tem um projeto, que é passar na frente do Nunes. Atacando o prefeito sem parar, ele deixa o Boulos crescer. Só que nós vamos com Nunes, torcendo para o Bolsonaro escolher um vice tipo Tarcísio da vida”.
Alckmin afirma que eleição é desvinculada da disputa nacional
Nessa temporada, além do confronto entre os candidatos, a disputa inclui o perfil do vice, que cada vez mais tem o papel de agregar apoio e ser avalista do nome que lidera a chapa, como ocorreu em 2022 na inusitada aliança entre Lula e Geraldo Alckmin.
Nas eleições de outubro, Lula estará no palanque de Boulos e o vice-presidente Alckmin irá para o de Tabata Amaral, deputada do PSB e desafiante de Nunes.
O PSB também já foi sondado por Boulos, mas o presidente do partido, Carlos Siqueira, avisou que a candidatura de Tabata é para valer. “O governo Lula é de frente frente ampla e ninguém vai nos tirar o direito de ter candidatura própria. Vamos com ela até o fim”, garantiu Siqueira. E quem vai ser o vice?
O mundo político diz que o apresentador José Luiz Datena, recém-filiado ao PSB, pode assumir a função de vice não-decorativo, mas poucos acreditam. Em compensação, a aposta na dobradinha Boulos-Marta avançou muitas casas no jogo político de 2024.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.