BRASÍLIA – O Centrão quer controlar o Ministério da Saúde e cobra a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas articulações políticas do governo para não aprovar uma “pauta bomba” na Câmara. Com um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano, a Saúde é comandada por Nísia Trindade, e virou alvo de disputa cada vez mais acirrada.
O ministério foi por muitos anos feudo do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira, sigla que hoje faz oposição a Lula. O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, é adversário dos petistas, mas o grupo de Lira pede espaço no primeiro escalão.
Lula disse nesta quinta-feira, 1.º, que só fará uma reforma ministerial se houver uma “catástrofe”. Mas é justamente disso que se trata no fracassado presidencialismo de coalizão.
Na prática, Lula sabe que terá de oferecer um vultoso “dote” para selar uma aliança com Lira, expoente do Centrão, se quiser aprovar projetos de seu interesse. E a oferta não precisa ser necessariamente para o PP, mas, sim, para um nome indicado pelo presidente da Câmara.
A Saúde abriga pouco mais da metade das emendas parlamentares individuais (R$ 11 bilhões de um total de R$ 21 bilhões) e Nísia, ex-presidente da Fiocruz, não é filiada a nenhum partido. Lula sempre gostou dela, negando que vá entregar o ministério à barganha política. Mas, além de uma ala do PP, o próprio PT está de olho na pasta, que enfrentou denúncias de irregularidades durante a pandemia de covid-19, quando era dirigida por Eduardo Pazuello, hoje deputado pelo PL.
O Palácio do Planalto teve muita dificuldade nas negociações para aprovar na Câmara a Medida Provisória de reestruturação da Esplanada. Aliados de Lira dizem que o governo só se livrou da derrota porque Lula chamou deputados para conversar nesta quarta-feira, 31, entre eles o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
O União Brasil comanda três ministérios (Comunicações, Turismo e Integração), mas não é raro a bancada votar contra Lula. Elmar nega, porém, que o partido queira substituir o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ou mesmo o chefe da Casa Civil, Rui Costa, seu rival na Bahia.
“O que queremos é a mudança de comportamento, e não das pessoas. Se o presidente assumir a articulação política, fica tudo bem”, disse Elmar. “Quando a gente fala com Deus, não tem de escolher o santo”, completou. O deputado não quis revelar o teor de sua conversa com Lula. “Foi um encontro reservado e só quem pode falar sobre isso é o presidente.”
Na lista das medidas que ainda passarão pelo crivo do Congresso, nos próximos dias, estão a reforma tributária e o arcabouço fiscal, já aprovado na Câmara, mas ainda à espera de votação no Senado.
“Precisamos achar um ponto de equilíbrio nessa relação”, afirmou o deputado Fausto Pinato (PP-SP). “O governo terá de fazer alguns gestos para ampliar a base aliada e pôr em prática o seu programa.”
Distribuição de emendas parlamentares e cargos nos Estados, além de convites para que deputados e senadores acompanhem Lula durante inaugurações de obras em suas regiões são sempre citados pelo Centrão como “essenciais” para curar as “cicatrizes” desse relacionamento cada vez mais difícil entre o Planalto e o Congresso.
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