O governo vai usar o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável para pôr em discussão temas cruciais, como a reforma tributária e até mesmo o novo arcabouço fiscal, que deve ser apresentado até abril para substituir o teto de gastos. O grupo terá entre seus integrantes o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva.
Batizado de “Conselhão”, o colegiado foi criado no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, mas acabou extinto em 2019, após a posse de Jair Bolsonaro, e será ressuscitado. O empresário Rubens Ometto, dono da Cosan, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco, e a socióloga Neca Setubal, herdeira do Itaú Unibanco, também vão compor o novo “Conselhão”.
Em dezembro do ano passado, Josué Gomes da Silva já havia sido convidado por Lula para ser ministro da Indústria e Comércio. Não aceitou e a cadeira acabou ocupada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. No último dia 16, uma assembleia de sindicatos da Fiesp destituiu Josué do cargo. Nesta quinta-feira, 26, porém, ele e o antecessor Paulo Skaf – visto como incentivador do confronto – assinaram uma nota de armistício, dizendo que trabalharão em conjunto para pacificar a Fiesp. Josué é filho de José Alencar, que foi vice de Lula de 2003 a 2010.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, convidou o presidente da Fiesp para participar do “Conselhão” quando o empresário esteve em Brasília, na semana passada. O colegiado reunirá representantes de vários setores em grupos temáticos: de dirigentes sindicais a empresários, passando por universidades e movimentos sociais.
A novidade, desta vez, é que também terá foco na sustentabilidade, um dos pilares da agenda de desenvolvimento anunciada por Lula na campanha. “O Conselhão será um espaço de debate de propostas que podem ir para o Congresso ou que já estão lá”, disse Padilha ao Estadão.
Questionado se o novo arcabouço fiscal terá de passar pelo crivo do grupo antes de ser enviado ao Congresso, o ministro afirmou que todas as sugestões serão bem vindas. “As discussões vão acontecer no Conselhão. Mas não tem essa de ter um filtro antes”, destacou Padilha.
Em sintonia com o colega, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dito que a equipe econômica recebeu uma “herança delicada” da gestão Bolsonaro e afirma ser necessário uma “agenda econômica completa” para planejar o desenvolvimento do País. “O fiscal é uma parte da lição de casa”, argumentou ele, recentemente.
A ideia do governo é que o Conselhão entre em funcionamento até o início de março. A equipe econômica espera que o Congresso aprove a reforma tributária e o arcabouço fiscal ainda neste semestre. Mas o Centrão, que dá as cartas na Câmara, não garante nada. Tudo depende de muita negociação com o Palácio do Planalto, que envolve cargos e distribuição de recursos públicos.
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