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Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Lula quer mais povo e menos palácio nos anúncios de medidas para tragédia no Rio Grande do Sul

Presidente reclamou de não ter agenda com desabrigados; nos bastidores, integrantes da equipe econômica falam que calamidade terá efeito no ajuste fiscal e é covid do governo Lula’

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de anunciar novas medidas de socorro ao Rio Grande do Sul no próprio Estado não foi apenas para ter a seu lado os chefes dos Poderes na viagem. Lula desembarcará nesta quarta-feira, 15, em Canoas e, desta vez, quer visitar ao menos um abrigo em São Leopoldo.

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A portas fechadas, o presidente reclamou com auxiliares de terem montado para ele uma agenda que o mantinha numa sala, sem contato com as vítimas, nas duas vezes em que esteve no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias 2 e 5, Lula sobrevoou regiões alagadas e fez pronunciamentos. Mas medidas de grande impacto, como a suspensão da dívida com a União por três anos, e um pacote que totaliza R$ 50,9 bilhões, foram divulgadas no Planalto.

Agora, em Porto Alegre, Lula vai instalar um gabinete federal para coordenar o trabalho de seu governo durante a calamidade provocada pelas fortes chuvas, que já mataram 148 pessoas e deixaram 538 mil desabrigados. O ministro escalado para a tarefa é Paulo Pimenta (Comunicação Social), que em 2026 pretende disputar o governo gaúcho pelo PT.

Além disso, o presidente anunciará um auxílio emergencial para 100 mil famílias que perderam tudo nas enchentes. O valor do voucher deve ser de R$ 5 mil por família, pago em uma única vez.

O desenho das medidas foi fechado na tarde desta terça-feira,14, durante encontro de Lula com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, no Planalto.

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Na véspera, em reunião de emergência com todos os ministros, Lula avaliou que o governo está perdendo a batalha da comunicação para seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que ministros batem cabeça, anunciando “ideias” não combinadas com a Casa Civil, como numa orquestra desafinada.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, é alvo de críticas de colegas. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Rui Costa, chefe da Casa Civil, é alvo de críticas por parte de colegas, que o veem como mal-humorado e arrogante. Lula avisou, porém, que Costa – muitas vezes definido pelo primeiro escalão como uma espécie de “Dilma de saias” – fala em seu nome.

A referência ao temperamento da ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016 e hoje preside o Banco dos Brics, é comum na Esplanada.

Ninguém do governo diz publicamente, mas existe uma preocupação da equipe econômica com o futuro do ajuste fiscal.

Nos bastidores, há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do governo Lula. Os mais pragmáticos lembram que o governador Eduardo Leite (PSDB) é adversário de Lula e quer concorrer ao Planalto, em 2026.

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Trata-se de um raciocínio mesquinho diante de uma catástrofe sem precedentes, que pode se agravar ainda mais se o Congresso aprovar o “pacote da destruição”, com 25 projetos de lei e três emendas que “flexibilizam” licenças ambientais País afora.

O cavalo Caramelo, o cachorro vira-lata que continuou “nadando” no ar após ser resgatado, o cardiologista Leandro Medice, do Espírito Santo, morto após trabalhar um dia inteiro como voluntário para salvar vidas, e a bebê Agnes, levada pela enxurrada quando o barco virou, são símbolos dessa tragédia sem fim.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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