Conhecido no mercado da política como aquele que vai em todas as festas, mas não dança com ninguém, Gilberto Kassab é um dos presidentes de partido mais assediados desta temporada. O PSD de Kassab não lançará candidato à sucessão de Jair Bolsonaro e tudo indica que vai liberar o voto dos diretórios regionais.
A estratégia fez o passe de Kassab subir. Tanto que, nos últimos dias, o PT aumentou a ofensiva com o objetivo de atrair a centro-direita para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no primeiro turno da eleição. O problema é que 73% das seções do PSD nos Estados não querem ter candidato próprio ao Palácio do Planalto, segundo consulta feita pela cúpula do partido.
Dividido entre o apoio a Bolsonaro e a Lula - até agora, só o diretório do Ceará defende a adesão a Ciro Gomes (PDT) -, o PSD deve autorizar cada Executiva estadual a decidir seu caminho nas eleições. Desta forma, sem chapa própria, sobra mais dinheiro do Fundo Eleitoral para os candidatos à Câmara dos Deputados.
Apesar de ter feito elogios a Ciro nesta terça-feira, 3 -, atribuídos no meio político à aliança regional, no Ceará -, o presidente do PSD já previu o naufrágio da terceira via. Na tentativa de fisgar o PSD para o palanque de Lula, petistas chegaram a oferecer ao próprio Kassab a vaga de vice de Fernando Haddad na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Ele recusou, embora ainda alimente o sonho de ocupar o governo paulista. A amigos, o ex-ministro costuma dizer que só voltará a entrar no páreo quando resolver processos pendentes na Justiça.
Em São Paulo, o PSD tem como pré-candidato o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Hamuth, um ex-tucano também sondado, sem sucesso, para fazer dobradinha com Haddad. Diante da prioridade de apresentar o PSD como aliado na campanha de Lula, o PT faz de tudo para selar acordos com a legenda em Estados como Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, e Pernambuco.
“O PSD é a noiva cobiçada desta eleição, mas agora vai ficar independente e com atitude”, comparou o vice-presidente do partido, Guilherme Campos, ele próprio candidato a deputado.
Após receber três “nãos” de políticos convidados para representar o PSD na corrida ao Planalto - o primeiro, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG); o segundo, do tucano Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul; e o terceiro, de Paulo Hartung, que comandou o Espírito Santo -, Kassab “mergulhou”. De timoneiro da terceira via, passou a ser aquele que procurava uma boia de salvação.
Ida de Afif para campanha de Tarcísio
Não foram poucos, porém, os que estranharam a ida de Guilherme Afif Domingos para coordenar o programa de governo do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos ao Bandeirantes e aposta de Bolsonaro na campanha. Afif está no PSD de Kassab, mas é muito ligado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, de quem foi assessor especial até poucos dias atrás.
Kassab não interferiu, de fato, na indicação de Afif. Quem conhece bem o presidente do PSD, no entanto, afirma que ele tem interesse redobrado em São Paulo. Embora pretenda apoiar Lula mais adiante, caso o petista vá para o segundo turno, uma de suas metas, atualmente, é derrotar o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa no cargo a eleição ao Bandeirantes. Os dois eram amigos e já foram até sócios, mas agora são desafetos.
Era com esse intuito, aliás, que Kassab planejava filiar Geraldo Alckmin, quando o ex-governador - hoje vice na chapa de Lula - ainda estava no PSDB. O cálculo do ex-prefeito de São Paulo é pragmático. Nos bastidores, ele planeja atuar para ficar ao lado de quem tiver mais chances de conquistar a joia da coroa. E ainda não tem convicção de que esse nome seja o de Haddad.
A portas fechadas, Kassab chegou a dizer que Tarcísio - agora sob o comando do marqueteiro argentino Pablo Nobel, antes na pré-campanha do ex-juiz Sérgio Moro - tem potencial para ganhar, embora seja do Rio. Tarcísio é o atacante escalado por Bolsonaro, que Kassab vive criticando. Coisas da política, no mundo dos camaleões.
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