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Os bastidores do Planalto e do Congresso

PT tenta enquadrar militares e vê ‘republicanismo excessivo’ do governo Lula para ajudar Centrão

Proposta de resolução política do partido afirma que PT foi prejudicado nas últimas eleições para as prefeituras por causa de emendas parlamentares

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Foto do author Vera Rosa

Depois das conclusões da Polícia Federal sobre a trama golpista e dos percalços enfrentados nas disputas municipais, a cúpula do PT decidiu comprar nova briga com os militares e também com o Centrão, grupo que estaria sendo beneficiado por um “republicanismo excessivo” do governo.

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A proposta de resolução política que passará pelo crivo do Diretório Nacional do PT, em reunião no próximo sábado, 7, destaca que o partido vai retomar as articulações para mudar o artigo 142 da Constituição e para impedir que militares da ativa disputem eleições e ocupem cargos civis.

“Política não é e nunca foi lugar para as Forças Armadas”, diz um trecho do chamado “texto-base” da resolução, que ainda pode ser alterado.

Lula no desfile de 7 de Setembro: PT quer retomar articulações para impedir militares de ocupar cargos civis. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na teoria, comandantes militares concordam com isso, tanto que apoiaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), hoje parada no Senado, sobre o assunto. Mas divergem de mudanças no artigo 142, que foi distorcido por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro – indiciado no inquérito do golpe – como justificativa para defender uma intervenção militar no País.

As estocadas da cúpula petista, porém, ultrapassam as fronteiras das Forças Armadas: o documento sustenta que o PT foi prejudicado nas últimas disputas para as prefeituras por um “republicanismo excessivo” do governo Lula. O termo chegou a ser usado a portas fechadas, na reunião da Executiva do PT de 28 de outubro, após o mau desempenho do partido nas urnas.

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Produzida pela tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, a versão preliminar da resolução política afirma agora que inúmeras realizações da administração Lula foram “eclipsadas” pelo orçamento secreto. Detalhe: a CNB é justamente a corrente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O argumento dos dirigentes é que, diante de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares, “dinheirama distribuída num piscar de olhos, ou no átimo de um PIX”, candidatos do PT ficaram sem discurso “frente a nomes do Centrão e da direita”. Não é só: mesmo sem defender em público a reforma ministerial, o partido recomenda que, em 2025, o governo se organize olhando para quem estará a seu lado em votações cruciais e também no palanque de 2026.

Emendas são alvo de ‘estica e puxa’

Na atual temporada, as emendas são alvo de um “estica e puxa” que tem irritado o Congresso, principalmente o Centrão, por causa de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. Apesar de liberar o pagamento das emendas, Dino exigiu que os parlamentares divulguem quem enviou e quem recebeu os recursos. É tudo o que eles não querem.

Se o dinheiro não sair, no entanto, deputados e senadores ameaçam barrar a votação do pacote enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê o corte de gastos.

Um ano após ter aprovado uma resolução que atacava o “austericídio fiscal” – nome com o qual batizou o arcabouço proposto por Haddad –, a cúpula do PT agora aplaude o titular da Fazenda.

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Jilmar Tatto (à direita) com Fernando Haddad: "Estamos cada vez mais governistas". Foto: Filipe Araújo/Divulgação

“Estamos cada vez mais governistas”, resumiu o deputado Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT. “O que está por trás dos ataques ao plano apresentado por Lula e por Haddad é especulação brava”, afirmou Lindbergh Farias (RJ), que será líder da bancada do PT a partir de fevereiro de 2025.

A proposta de resolução política para a última reunião do ano do PT diz que Lula faz um “ótimo governo” e elogia suas articulações na Cúpula do G-20 e na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. No diagnóstico dos petistas, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos acende um “preocupante alerta” para o campo democrático no mundo.

Mesmo com os elogios a Lula, dirigentes do PT admitem, porém, que o governo precisa de ajustes na comunicação. “Para isso, é urgente, inadiável, engajar-se no embate político com quem sequestrou os canais diretos de comunicação com a massa: a extrema direita”, assinala um dos trechos do documento.

Haddad é poupado de críticas por causa de uma medida enxertada na última hora no pacote e execrada pelo mercado: a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

O PT também promete travar no Congresso uma “luta” pela taxação dos super-ricos e observa que o cenário econômico só não é mais promissor por causa da “sabotagem deliberada” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

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Definido ali como “uma espécie de parasita do sistema financeiro”, que cria “todo tipo de brechas” para que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente os juros, Campos Neto não responde aos ataques do PT.

Às vésperas de deixar o cargo, o presidente do Banco Central continua repetindo que faz um trabalho técnico, e não político. Mas já indicou ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que aceitaria ser ministro da Fazenda, caso um dia ele venha a ocupar a Presidência.

No mercado que, segundo Lula, mais parece uma “entidade”, é comum agora o comentário de que Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, já está pondo as “barbas de molho”.

Por enquanto, apesar de receber uma crítica aqui e outra ali de dirigentes do PT, que o consideram muito preocupado em agradar ao mercado, Galípolo ainda está em lua de mel com o partido de Lula. Resta saber até quando.

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