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Os bastidores do Planalto e do Congresso

Análise|Tabata resiste a ser avalista de Boulos em possível 2.º turno, mas PT vai cobrar apoio

Candidata do PSB diz a interlocutores que não pretende declarar voto; dirigentes petistas e ministros entram em campo para negociar com aliados da deputada

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Foto do author Vera Rosa

A 11 dias da eleição, a deputada Tabata Amaral, candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, disse a interlocutores que, se não for para o segundo turno da disputa, como indicam as pesquisas de intenção de voto, não apoiará ninguém. Mas a manutenção de Pablo Marçal (PRTB) no pelotão de frente, mesmo com as cenas de pugilato envolvendo sua campanha, fez com que ministros e dirigentes do PT antecipassem articulações políticas e entrassem em campo.

As conversas com aliados de Tabata sobre como pode se dar a adesão da deputada no caso da passagem de Guilherme Boulos (PSOL) para a segunda etapa do confronto mobilizaram o Palácio do Planalto. Vira e mexe auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembram que tanto ele como o PT apoiam a campanha à reeleição do prefeito do Recife, João Campos (PSB), namorado de Tabata. O PSOL, no entanto, tem uma candidata na capital de Pernambuco.

Tabata diz que eleger Nunes ou Boulos significa "mais do mesmo".  Foto: FlowNews/YouTube

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Levantamentos mostram que Boulos está tecnicamente empatado em primeiro lugar com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e também com Marçal. Embora o comitê do deputado descarte oficialmente a estratégia de apelar ao voto útil para evitar o “mal maior” representado por Marçal, na prática é isso o que vem acontecendo.

O concorrente do PSOL tem o respaldo de Lula, que classifica a vitória em São Paulo como fundamental para o projeto político do PT. Fincar estacas na capital paulista é um passo muito importante para a esquerda enfrentar o bolsonarismo nas eleições presidenciais de 2026.

Tabata, por sua vez, conta com o aval do vice-presidente Geraldo Alckmin, que se filiou ao PSB em 2022, depois de passar 33 anos nas fileiras tucanas. No governo Lula, o PSB também comanda o Ministério do Empreendedorismo, com Márcio França. Lúcia, vice na chapa de Tabata, é casada com ele.

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Debate promovido pelo Grupo Flow entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo tem soco de assessor de Marçal em marqueteiro de Nunes. Foto: Reprodução Youtube Flow

Na noite desta segunda-feira, 23, após o debate promovido pelo Grupo Flow – que terminou com um soco desferido por um assessor de Marçal no publicitário Duda Lima, marqueteiro de Nunes –, a candidata do PSB se insurgiu não apenas contra a violência, mas também contra o voto útil.

“Colocar o Nunes, colocar o Boulos (na Prefeitura) é mais do mesmo”, disse ela, ao batizar a estratégia lançada nos bastidores de “voto com medo”.

À coluna, Tabata afirmou que, quando pede aos paulistanos para não se pautarem pelo medo na hora de votar, está se referindo aos problemas de São Paulo. “Quero que o eleitor possa escolher quem é o melhor candidato porque acredita nas propostas para a cidade, e não porque tem medo de mais violência, de que a fila de exames aumente e a escola dos filhos piore”, insistiu.

Convencido de que estará no segundo turno contra Nunes, Boulos tem tentado fazer dobradinhas com Tabata nos debates. Diz, por exemplo, que o prefeito e Marçal são “os dois candidatos bolsonaristas” dessa eleição. Na maioria das vezes, porém, Tabata não mostra reciprocidade aos acenos do deputado.

“Essa questão do voto útil é abominável”, observou o presidente do PSB, Carlos Siqueira. “Numa democracia, o primeiro turno é feito para os candidatos apresentarem suas propostas. Vamos deixar para discutir o segundo turno na hora certa”.

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Espólio de Datena também entra na mira

Não é apenas a “herança” de Tabata, no entanto, que desperta o interesse dos concorrentes mais bem posicionados nas pesquisas. Os votos dos eleitores de José Luiz Datena, candidato do PSDB, são disputados tanto pelo prefeito como por Boulos.

A portas fechadas, integrantes da campanha do MDB têm convicção de que, se Nunes for para o segundo turno, como apontam as pesquisas, a maior parte dos apoiadores de Datena migrará para ele.

Mesmo próximo de Boulos, Datena contou a dirigentes do PSDB que suas relações com Nunes melhoraram depois dos episódios vergonhosos envolvendo Marçal. Após dar sinais de recuo nos índices de intenção de voto e ensaiar uma performance “paz e amor”, o influenciador vestiu o antigo figurino beligerante e, a dez segundos do fim do debate do Flow, acabou sendo expulso do estúdio.

Datena joga cadeira em Marçal no debate da TV Cultura e recebe solidariedade do PSDB. Foto: Reprodução TV Cultura

Há dez dias, durante o debate na TV Cultura, Datena jogou uma cadeira em Marçal depois de uma série de provocações do adversário, que o chamou de “Jack”, gíria usada na cadeia para se referir a estuprador.

O fato fez com que 41 filiados do PSDB, apoiadores de Nunes, pedissem a expulsão do apresentador. Mas, por unanimidade, a Executiva municipal do PSDB recusou o pedido.

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“Ao reagir em legítima defesa, Datena pode ter salvado São Paulo de uma tragédia”, disse à coluna o presidente do PSDB, Marconi Perillo, numa referência a Marçal. “Os debates estão chegando ao nível da barbárie. As emissoras precisam ter regras mais duras para evitar esse desvirtuamento.”

Datena está em quinto lugar nas pesquisas, atrás de Tabata. No segundo turno, o apoio do PSDB promete expor, mais uma vez, o racha tucano, além de ressuscitar a troca de acusações entre a ala que sempre defendeu Nunes e os chamados “cabeças brancas”.

Apesar da ruína, o PSDB ainda aposta em Datena para eleger uma bancada na Câmara Municipal. Motivo: em abril, seus oito vereadores deixaram o partido.

De protagonista que fazia contraponto ao PT, o PSDB velho de guerra espera hoje apenas as cenas do próximo capítulo. E o resultado da eleição que se aproxima tem tudo para definir o destino desse coadjuvante.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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