BRASÍLIA - A viagem da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao Catar custou pelo menos R$ 283,3 mil. Janja esteve em Doha no começo deste mês a convite da sheika do Catar, Mozha bin Nasser al-Missned, para um evento sobre educação. Ela levou consigo ao menos quatro assessores e mais oito policiais federais, que fizeram a segurança da primeira-dama. Compradas em cima da hora, as passagens dos policiais federais chegaram a custar até R$ 31,4 mil. Procuradas, as assessorias da Polícia Federal e da primeira-dama não se manifestaram.
Documento da PF obtido pelo Estadão mostra o deslocamento de oito policiais para atender Janja durante a viagem, com custo total de R$ 230.552,00, entre passagens e diárias. O grupo foi composto por uma delegada da PF, um escrivão e seis agentes da corporação. As diárias somaram R$ 42,2 mil, variando entre R$ 6,3 mil e R$ 4,2 mil, conforme a quantidade de dias de cada agente no exterior. Já as passagens custaram entre R$ 15,1 mil e R$ 31,4 mil – o gasto total foi de R$ 186,2 mil.
O documento interno da PF mostra ainda que as passagens foram compradas com pouca antecedência, fora do prazo mínimo estabelecido por uma portaria do Ministério da Justiça de 2018. No documento, a agente da PF responsável justifica a compra em cima da hora pelo fato “de o convite ter sido encaminhado pela organização do evento apenas em 6 de setembro de 2024″, mesma data da viagem. A explicação é contraditória com o fato de que a PF enviou um agente já no dia 03 deste mês, para realizar “atividades de precursoria e reconhecimentos” em Doha no dia 05. O agente que viajou no dia 03 assinou um termo de responsabilidade em 30 de agosto, sugerindo que as passagens foram compradas com poucos dias de antecedência.
Segundo informações do Painel de Viagens do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), Janja levou quatro assessores a Doha: Cláudio Adão dos Santo Souza, fotógrafo; Edson Antônio Moura Pinto, ajudante de ordens; Júlia Camilo Fernandes Silva, assessora do Gabinete Pessoal da Presidência da República; e Taynara Pretto, assessora de imprensa da primeira-dama. No Painel de Viagens, aparecem custos de R$ 52 mil para o grupo, entre diárias e passagens.
Como mostrou o Estadão nesta terça (24), Lula levou esta semana pelo menos 100 pessoas para Nova York para a 79ª reunião da Assembleia Geral da ONU. O gasto com viagens aumentou em 2023, no 1º ano de governo de Lula, em relação ao último ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL). Em 2023, já sob o petista, o governo federal gastou R$ 2,26 bilhões em pouco mais de 810 mil viagens de servidores. Já em 2022, último ano da gestão Bolsonaro, foram R$ 1,54 bilhão para 643,5 mil viagens. Até agora, em 2024, o Poder Executivo federal gastou R$ 1,2 bilhão com 445,2 mil viagens. Os dados são do Portal da Transparência.
Janja foi a Doha para um evento promovido pela ong Education Above All (“Educação Acima de Tudo”), em tradução livre, entidade presidida por Mozha bin Nasser al-Missned. O evento do qual a primeira-dama participou foi a 5ª celebração do Dia Internacional de Proteção da Educação de Ataques, uma data comemorativa estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio de uma resolução aprovada na Assembleia Geral da entidade, em 2020. A data busca chamar a atenção para a importância da educação como direito humano fundamental.
A celebração aconteceu no Centro Nacional de Convenções do Catar (QNCC, na sigla em inglês), no dia 09 deste mês. Ao decidir viajar para participar da celebração promovida pela monarquia absolutista do Golfo Pérsico, Janja faltou às comemorações do 07 de Setembro em Brasília. No Catar, Janja discursou em um painel com o tema “Educação em Perigo: o custo humano da guerra”. Também participou de reuniões bilaterais e visitou uma escola para crianças refugiadas.
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