BRASÍLIA - O ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas publicou nesta terça-feira, dia 15, mensagem em apoio às manifestações de militantes bolsonaristas que defendem intervenção militar e planejam impedir a posse do presidente da República eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em nota escrita com tom elogioso, o ex-comandante disse que os protestos são contra “atentados à democracia” e “dúvidas sobre o processo eleitoral”. Ele ressaltou a “incrível persistência” dos protestos iniciados após a vitória de Lula.
“As duas semanas que se encerram foram marcadas por eventos significativos. A população segue aglomerada junto às portas dos quartéis pedindo socorro às Forças Armadas. Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral”, justificou o general da reserva, que permaneceu no comando da Força Terrestre entre 2015 e 2019.
Embora nenhum número de participantes tenha sido auferido por autoridades públicas, o general falou em “milhões” de pessoas nas ruas e criticou a cobertura jornalística das manifestações. Segundo ele, houve “indiferença da grande imprensa”. “Não se apercebem eles (jornalistas) que ao tentar isolar as manifestações podem estar criando mais um fator de insatisfação”, opinou Villas Bôas, segundo quem “pessoas que lutam pela liberdade jamais serão vencidas”.
O general também citou as recentes notas divulgadas pelo Ministério da Defesa e pelos atuais comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, acerca dos protestos. A carta às instituições e ao povo, uma manifestação sobre temas políticos, foi pensada como forma de alertar o Legislativo e o Judiciário. Já a Defesa pretendia publicar conclusões sobre uma fiscalização inédita nas eleições, que não apontou nenhuma evidência de fraude. Apesar disso, a pasta disse que não poderia atestar nem condenar a segurança das urnas.
Como outras entidades, a exemplo do Tribunal de Contas da União e da Ordem dos Advogados do Brasil, a Defesa também atestou no relatório que os testes de integridade confirmaram o funcionamento das urnas eletrônicas “sem anomalias” e que a contagem de votos no Tribunal Superior Eleitoral não apontou divergências. Os militares conferiram a totalização em 943 urnas nos dois turnos das eleições gerais, sem qualquer indício de irregularidade. A Procuradoria-Geral da República não viu razões para aprofundar investigações, como sugeriu o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, general e ex-comandante do Exército.
Mesmo assim, o antigo comandante insistiu em questionar o sistema eletrônico brasileiro. “Simplificando, a essência da questão se prende a que o ato de votar deve ser privado, enquanto a apuração deve ser pública e auditável”, disse Villas Bôas.
Também em tom laudatório, Villas Bôas disse que a nota conjunta dos comandantes-gerais, publicada em primeira mão pelo Estadão, “demonstrou apego aos princípios e valores militares, bem como ao texto constitucional”. O texto foi assinado pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército), pelo almirante Almir Garnier Santos (Marinha) e pelo brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica). Generais da ativa na cúpula das Forças Armadas descartam qualquer adesão aos pedidos de golpe.
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“Não pode deixar de ser destacada a liderança, o equilíbrio, a serenidade e a autoridade dos atuais comandantes e do ministro, condições com as quais asseguram a disciplina e a coesão de seus subordinados. Externamente, reforçam a confiabilidade que a população, não por acaso, elege como as de nível mais alto do País”, afirmou o general aposentado.
Às vésperas do segundo turno, o Villas Bôas usara as redes sociais para fazer previsões catastróficas sobre o que seria um “governo de oposição”. O oficial apoiador e conselheiro de Bolsonaro falou que esperava a aumento do desemprego compensado por programas sociais “demagógicos”, “submissão ao globalismo”, “destruição do “civismo” e “contaminação ideológica do ensino”, entre outros aspectos negativos.
Em 2019, ao deixar o Comando do Exército, Villas Bôas foi nomeado em cargo de confiança do Gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo general Augusto Heleno. Em junho deste ano, o ex-comandante foi exonerado da assessoria do ministro depois de reportagens questionarem quais eram suas atribuições e que agenda desempenhava no Palácio do Planalto. A demissão teria ocorrido a pedido. Villas Bôas sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa em estágio avançado.
No início do mandato, Bolsonaro chegou dizer que o ex-comandante era um dos responsáveis pelo fato de ele ter sido eleito presidente em 2018. Naquele ano, o então comandante-geral, também no Twitter, avançou em assuntos fora de sua esfera e publicou uma mensagem de “repúdio à impunidade”, interpretada como ameaça ao Supremo Tribunal Federal, às vésperas do julgamento de um recurso que poderia impactar no futuro político de Lula. O petista seria preso dias depois na Operação Lava Jato - os processos e condenações foram anulados mais tarde, no Supremo.
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