Fundado em 1903, o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, é o berço político de conhecidas personalidades da República. Incorporada à Universidade de São Paulo (USP) em 1934, a Sanfran, como a faculdade também é conhecida, já formou 13 ex-presidentes do Brasil. Antes de ascenderem ao cargo mais elevado do País, muitos deles foram membros ativos do XI de Agosto.
O ex-presidente Michel Temer foi o último chefe de Estado egresso da São Francisco. Porém, sua passagem pelo XI de Agosto foi marcada por um revés. Ex-tesoureiro do centro acadêmico, ele disputou a presidência da entidade em 1963, sendo derrotado por Oscarlino Marçal. Apesar disso, a passagem de Temer pela Faculdade de Direito foi determinante. O ex-presidente já disse que foi na Sanfran que encontrou sua motivação para entrar na política e onde desenvolveu suas habilidades de articulação.
Na eleição presidencial de 2018, Fernando Haddad, então candidato ao Palácio do Planalto e atual ministro da Fazenda, também destacou a importância da São Francisco em sua formação política durante um evento no Salão Nobre da faculdade. Similar a Temer, Haddad ocupou o cargo de tesoureiro do XI de Agosto e concorreu à presidência do centro acadêmico em 1984. Ao contrário do emedebista, Haddad venceu a disputa, sendo eleito como 82º presidente.
Naquela época, o petista integrava a chapa “The Pravda” ao lado do jornalista Eugênio Bucci. O grupo era de esquerda, mas crítico aos soviéticos. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 2012, Bucci explicou que o nome da chapa era uma crítica à Guerra Fria. “Havia certa irreverência com esse trocadilho com ‘depravada’. Achávamos que a ordem bipolar degenerava o mundo”, disse ao jornal.
Em seus anos de existência, o XI de Agosto teve um papel histórico significativo, antecipando conquistas nacionais como o voto secreto e o sufrágio feminino. Participou ativamente de campanhas como Diretas Já, Fora Collor e O petróleo é nosso. Além disso, fez oposição tanto à ditadura de Getúlio Vargas quanto à ditadura militar iniciada em 1964.
Em 1919, o centro acadêmico criou o Departamento Jurídico XI de Agosto, que oferece assistência jurídica gratuita à comunidade. Também financia atividades como o Serviço de Assessoria Jurídica Universitária e a Casa do Estudante. Além disso, desempenhou um papel crucial na fundação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e participou ativamente das lutas do movimento estudantil na USP e em todo o Brasil.
Alguns outros políticos que passaram pelo XI de Agosto foram os ex-presidentes Jânio Quadros e Washington Luís, além dos ex-congressistas Ulysses Guimarães, Aloysio Nunes Ferreira Filho e Plínio de Arruda Sampaio. A entidade ainda contou com nomes que seguiram para outras áreas, como os escritores Monteiro Lobato, Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst; o jornalista Júlio Mesquita Filho; o crítico literário Antonio Cândido; e os juristas Dalmo de Abreu Dalari e Miguel Reale.
Fundação
Criada em 11 de agosto de 1827, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco marcou o início do ensino jurídico no País. Também chamada de Arcadas, a instituição inicialmente acolhia os jovens da elite nacional, especialmente os filhos dos barões do café, que antes precisavam estudar no exterior. Dos 13 presidentes que passaram pela faculdade, oito ocuparam o poder durante a República Velha (1889-1930).
Ex-procurador do Estado morto em 2019, Armando Marcondes Machado Júnior foi presidente do XI de Agosto e autor de sete volumes que narram a história da entidade. Em sua obra, ele relata que a associação estudantil foi fundada com o objetivo de ser o principal ponto cultural, científico e literário dos acadêmicos, além de ser o epicentro de reflexão sobre os acontecimentos e desafios nacionais.
Três alunos foram fundamentais para a fundação do XI de Agosto: Pedro Dória, Luiz Pereira de Campos Vergueiro e José Carlos de Macedo Soares. Eles assumiriam a presidência em sequência nos anos de 1903, 1904 e 1905, respectivamente. A primeira diretoria, eleita em julho, contava com 11 membros.
Patrimônio
Com centenas de ex-membros oriundos da elite nacional, o XI de Agosto construiu um patrimônio milionário por meio de doações. Um exemplo é o terreno de 22 mil metros quadrados doado pelo então governador de São Paulo, Jânio Quadros, em 1955, localizado na região do Ibirapuera. Conhecido como Campo do XI, o local possui campo de futebol, quadras e salões disponíveis para aluguel, rendendo à entidade R$ 51 mil por mês, conforme prestação de contas de 2023.
Além disso, o centro acadêmico possui um fundo de investimentos e ações da antiga Ferrovia Paulista S/A (Fepasa). Ainda segundo a última prestação de contas da entidade, o Fundo de Investimento XI (FIXI) chegou a contar com patrimônio de R$ 14,2 milhões em 2020, porém hoje se encontra no patamar de R$3,7 milhões. “Essa situação é significativamente delicada, dado que coloca em risco a continuidade da existência do fundo”, afirmou a gestão atual no documento.
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