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Curiosidades do mundo da Política

Lula já apertou a mão de Paulo Maluf em troca de tempo de TV para Fernando Haddad; relembre

Em 2012, Maluf exigiu uma foto pública ao lado de Lula e repercussão rachou a campanha do PT; anos depois, o presidente revelou arrependimento por registro que marcou a volta do ‘coronelismo’ em São Paulo

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Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já afirmou se arrepender de um gesto que fez há 12 anos, quando buscava angariar mais tempo do horário eleitoral para o candidato dele à Prefeitura de São Paulo. Em 2012, o chefe do Executivo apertou a mão do ex-deputado Paulo Maluf (PP-SP), histórico adversário dele e do PT, em troca de 1 minuto e 30 segundos a mais para a propaganda eleitoral de Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda.

Esse episódio faz parte da série especial do Estadão de curiosidades sobre as eleições de São Paulo. Ao longo desta semana, serão publicadas reportagens sobre momentos que marcaram as disputas para a Prefeitura desde o primeiro pleito realizado após o fim da ditadura militar, em 1985.

Lula posou para fotos ao lado de Maluf e Haddad para formalizar aliança nas eleições municipais de 2012 Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

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Era junho e o período de campanha em São Paulo estava prestes a começar. Haddad, então ex-ministro da Educação, era o candidato do PT e enfrentava o desconhecimento dos paulistanos. Em uma pesquisa divulgada pelo Datafolha na época, ele tinha 8% das intenções de voto.

A estratégia do PT para aproximar Haddad dos eleitores foi angariar tempo de televisão. O partido tinha direito a 6 minutos e 10 segundos, enquanto o candidato governista, o ex-governador José Serra (PSDB), tinha 7 minutos e 40 segundos.

Em busca de igualar o tempo de Serra, os petistas foram atrás de Maluf, que protagonizou duros embates contra políticos do partido no passado. O ex-prefeito exigiu que Lula e Haddad fossem em um almoço na casa dele para selar o acordo e ainda cobrou uma aparição dos três na imprensa. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 2016, ele declarou que não informou os jornalistas sobre a reunião para criar uma “surpresa” com o encontro.

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“Não faço casamento no porão da igreja. Ou é no altar, publicamente com o cardeal, ou não tem casamento. Se o Lula for almoçar em casa, então o partido vai apoiar o Fernando Haddad. (...) Nós ludibriamos os repórteres e os fotógrafos, e quando abriram a porta e viram que era ele (Lula), eu e o Haddad, todo mundo tomou um susto”, afirmou Maluf.

A foto com Maluf impactou a campanha de Haddad e foi interpretada como o “retorno do velho coronelismo da política”, segundo a edição do Estadão de 28 de outubro de 2012. Apesar disso, a estratégia funcionou e o ex-ministro conseguiu se tornar mais conhecido. Ele foi eleito em segundo turno, vencendo Serra por 3.387.720 votos (55,6% dos votos válidos) a 2.708.701 votos (44,4% dos votos válidos).

Edição do 'Estadão' de 29 de outubro de 2012 destaca vitória de Fernando Haddad na eleição e a importância de Lula na campanha Foto: Acervo Estadão

Lula não queria almoçar com Maluf e disse que encontro foi uma ‘cagada’

Na época da foto, o Estadão mostrou que Lula não queria ter ido ao encontro com Maluf. O petista estava de repouso em São Paulo, se recuperando de um câncer na laringe, que fui curado após sessões de quimioterapia naquele mesmo ano de 2012.

Ao Estadão, o atual ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, contou bastidores da fotografia. Segundo ele, que foi um dos principais integrantes da campanha do PT em 2012, Lula foi chamado para ir ao encontro de Maluf hora antes do horário marcado pelo ex-prefeito. “Ele não queria ir”, disse. Após o almoço, o presidente disse a Marinho, a portas fechadas: “Nós fizemos uma cagada”.

Em dezembro de 2017, durante um café da manhã com jornalistas na sede do Instituto Lula, em São Paulo, o presidente disse que “nunca se perdoou” por posar ao lado de Maluf. A declaração foi feita no dia em que o ex-prefeito foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Condenado por lavagem de dinheiro, ele foi solto em fevereiro de 2022.

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“Quando o Haddad era candidato, eu estava com câncer, estava inchado, e foram me tirar da minha casa para eu tirar uma foto com o Maluf. Eu achava que era necessário, sobretudo porque o Haddad ia ter dois minutos a mais na TV e quando a gente não é muito conhecido o tempo na TV ajuda para caramba. Mas eu nunca me perdoei por aquela foto, porque eu achava que não precisava”, afirmou o presidente.

Foto fez Erundina desistir de ser vice de Haddad

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A foto de Maluf com Lula foi a gota d’água para que a deputada federal Luiza Erundina, que na época estava no PSB e foi escolhida como vice de Haddad, desistisse de compor a chapa do PT para a Prefeitura.

No passado, ela e o ex-prefeito trocaram fortes acusações e polarizaram a política paulistana. Erundina foi eleita em 1988 vencendo Maluf em uma disputa acirrada. Quatro anos depois, o ex-prefeito venceu o sucessor dela, Eduardo Suplicy (PT), surfando na baixa aprovação deixada pela gestão petista.

Em entrevista para a Veja após a foto ser divulgada pela imprensa, Erundina disse que não aceitaria ter Maluf no mesmo palanque e afirmou que a união era “desconfortável”. Segundo a deputada, ela cobrou Haddad sobre a aliança com o PP, e Haddad “desconversou” e garantiu que o acordo entre os partidos não estava fechado.

“Se for por nomes, meu partido tem outros nomes. Eu, pessoalmente, não vou aceitar. Vou rever minha posição. (...) A decisão de Erundina está diretamente ligada ao ingresso de Maluf na campanha petista. “Não preciso ser vice para fazer política. É bastante para mim. É muito além do razoável”, afirmou Erundina para a revista.

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Edição do dia 19 de junho de 2012 do 'Estadão' deu ênfase na troca de afagos entre Lula e Maluf e a reação de Luiza Erundina Foto: Acervo Estadão

Oito dias depois da saída de Erundina da campanha, a vaga de vice foi ocupada por Nádia Campeão (PCdoB). Na cerimônia que oficializou a nova chapa, Haddad disse aos jornalistas que não se importava com o apoio de Maluf. “Eu não personalizo essas questões. Para mim, o importante é o apoio institucional”, declarou.