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Voluntários da transição vivem jornada dupla de trabalho

Especialistas se desdobram para manter rotina de trabalho e atuar na busca de dados e elaboração de relatório a tempo da posse do presidente eleito Lula

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Foto do author Adriana Ferraz

Eles sempre fizeram política, mas nunca tinham experimentado estar no centro do poder. Escalados para compor o governo de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cerca de 130 representantes da academia, de movimentos sociais, das classes artística e esportiva e das mais variadas organizações da sociedade civil vivem hoje o desafio de ajudar a colocar em prática algumas das ações que sempre defenderam, mesmo que de fora das disputas eleitorais ou das fileiras partidárias.

Atuando de forma voluntária – ou seja, de graça –, os especialistas cumprem uma jornada dupla, repleta de reuniões e visitas técnicas. E com prazo a cumprir. Até o dia 11, os relatórios das equipes temáticas deverão ser entregues ao vice-presidente eleito e coordenador geral da transição, Geraldo Alckmin (PSB).

A advogada Sheila de Carvalho, ativista dos Direitos Humanos e representante da Coalizão Negra e do Grupo Prerrogativas, é uma das voluntárias no grupo da transição da Justiça. Foto: Wilton Junior/Estadão

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“É uma tarefa gigante, algo novo para todos nós da sociedade civil organizada. Voltar a pensar em política pública baseada na racionalidade é sensacional. A nossa linha aqui é a da razão científica. Temos de fazer um diagnóstico e preparar o governo para os cem primeiros dias. Não é sobre reinventar a roda, nem fazer um plano de quatro anos, mas focar no que é mais urgente”, disse a advogada especialista em direitos humanos Sheila de Carvalho, diretora do Peregum, integrante da Coalizão Negra e do Grupo Prerrogativas.

Uma das mais jovens participantes do governo de transição, Sheila, de 31 anos, diz viver um processo de amadurecimento instantâneo dentro de um debate colaborativo. “Sempre trabalhei próxima, mas nunca na gestão pública. Pessoalmente, para mim é maravilhoso estar aqui, conseguir que nossas agendas sejam ouvidas e ainda dividir o trabalho com pessoas que fazem parte das minhas referências bibliográficas, como (a pesquisadora) Camila Nunes e (a advogada) Carol Proner.” As três compõem o grupo de Justiça e Segurança Pública.

Ainda mais jovem, com 27 anos, a atual presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, também comemora a oportunidade de ser ouvida na transição de governos enquanto já cobra o mesmo canal aberto quando o novo mandato Lula começar.

“A nossa expectativa é de uma abertura democrática que possibilite ao movimento social, especialmente ao movimento estudantil, caminhos para apresentar suas propostas. Temos nos colocado à disposição, trabalhado bastante para produzir um relatório que ajude Lula a atender as demandas reprimidas nos últimos anos”, disse Bruna, do grupo Juventude.

Atual presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), a estudante de direito Bruna Brelaz compõe o grupo de Juventude. Foto: Yuri Salvador/UNE

Foi com uma demanda também bastante clara que o cardiologista Roberto Kalil Filho aceitou atuar na transição da Saúde. Médico do presidente Lula e diretor clínico do Instituto do Coração (InCor), Kalil afirmou ao Estadão que sua participação tem por objetivo o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). “Esse trabalho é fundamental e é aí que eu me incluo”, disse.

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Professor titular da Faculdade de Medicina da USP, ele montou por conta um grupo com professores para auxiliá-lo na tarefa. “O SUS tem uma história de 35 anos extremamente eficaz, mas que precisa ser repensada, a começar pelo financiamento, que sempre ficou aquém. Quanto mais profissionais, acadêmicos e a sociedade como um todo ajudarem, mais importante será o trabalho.”

Na área econômica, o professor de economia da USP Paulo Feldmann vive uma jornada dupla desde que aceitou contribuir nas ações do subgrupo da Micro e da Pequena Empresa. Enquanto finaliza orientações e aulas na universidade, ele acompanha de forma online as reuniões da transição focado em colaborar no diagnóstico da organização do governo atual.

“O grupo de transição não está fazendo o programa do futuro governo, que já está pronto e foi apresentado antes da eleição, mas verificando qual é a atual organização da gestão atual e se ela dá conta do que se pretende fazer”, explica o professor.

“Para quem é da área de administração, esse é um trabalho muito rico que nos permite contato com profissionais das mais diversas áreas. Semana que vem é hora de ir à Brasília”, celebra Feldmann, sem se importar em trabalhar em dobro.

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