BRASÍLIA – O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), pediu desculpas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que não teve a intenção de afrontar a Corte quando votou, nesta quarta-feira, 22, a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões monocráticas de magistrados.
“Teve gente do Supremo que considerou o meu voto como uma afronta. Não vou dizer quem, mas me ligaram e eu falei: ‘Se os senhores entendem que é uma afronta, antecipadamente peço desculpas’”, afirmou Wagner. “(Fiz isso) sem reconhecer minha culpa, mas, se foi interpretado assim, eu me desculpo. Não fiz nada para afrontar ninguém.”
Como mostrou o Estadão, ministros do STF reclamaram, nos bastidores, do voto de Wagner, favorável à PEC que restringe os poderes da Corte. Avaliaram que ele deu munição aos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro ao se posicionar contra o Supremo depois de a Corte ter reagido com veemência à tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Wagner ponderou aos magistrados que sempre viu o STF como fiador da democracia. “Eu defendo a harmonia entre os Poderes e sou um democrata. Eu disse: ‘Sei o serviço que vocês fizeram num momento difícil. Vocês, o governo e o Legislativo juntos’”, destacou o petista. “Não foram só eles.”
Único senador do PT a ir contra o próprio partido, Wagner não deu orientação de voto, sob o argumento de que o debate não envolvia diretamente o Executivo. O PT era contra a PEC, mas o Palácio do Planalto não tomou posição pública.
Wagner assegurou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entusiasta da PEC, não fez qualquer cobrança para que ele votasse a favor da proposta.
Para ser aprovada no Senado, a PEC precisava do aval de 49 senadores. O apoio de Wagner foi considerado fundamental, uma vez que ele também ajudou a atrair os votos dos baianos Otto Alencar e Angelo Coronel, ambos do PSD.
Apesar de protestos do PT e de ministros do Supremo, a posição do líder do governo no Senado também foi adotada para ajudar a facilitar votações de projetos de interesse do Planalto, principalmente na seara econômica.
“Eu votei pela minha consciência, mas eu não posso fazer o jogo do ‘eu sozinho’. Evidentemente, o líder do governo – que tem a tarefa de administrar as diferenças aqui – também tem de fazer um gesto aqui e acolá”, admitiu Wagner.
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