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Opinião | A situação política de Bolsonaro não se altera fundamentalmente com o julgamento

Ex-presidente tem enorme peso eleitoral, mas não o suficiente para definir sozinho a próxima disputa eleitoral

Foto do author William Waack
Atualização:

O problema de Jair Bolsonaro é ser mais forte do que admitem seus adversários, e mais fraco do que ele mesmo julga ser. Como réu por tentativa de golpe de Estado essa situação não se altera fundamentalmente. Ele tem no momento enorme peso eleitoral, mas não o suficiente para definir sozinho a próxima votação.

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O que mais ilustra esse fato é a postura dos possíveis candidatos dentro do espectro de centro-direita, que abrange confortável maioria no eleitorado.Eles dizem a boca pequena que Bolsonaro só pensa em si mesmo e sua família, mais atrapalha do que ajuda, e está desacreditando vários setores. Mas nenhum o critica em público, temendo perder votos.

Aparentemente, seus potenciais “herdeiros” esperam que o tempo corroa ainda mais o cacife político de Bolsonaro. Ser julgado por um tribunal que é visto por largas parcelas da população como parte do embate político entre correntes antagônicas fornece no momento um discurso fácil, o da “perseguição política”. Mas a condição de inelegível enfraquece qualquer candidatura.

Jair Bolsonaro foi transformado em réu pelo Supremo Tribunal Federal Foto: Wilton Júnior/Estadão

Como já ocorreu durante seu mandato, a chave da sobrevivência política de Bolsonaro está no centrão. Que está muito longe de ter uma postura “unânime” sobre o capitão e sua provável condenação no STF. Os donos das várias legendas oscilam entre considerar Bolsonaro uma “boa” ou “má” companhia na luta eleitoral. A postura deles vai depender do famoso “momento” político.

Ou seja, da capacidade de Jair Bolsonaro de arregimentar e mobilizar, sobretudo nas difíceis condições nas quais vai se encontrar (lutar para não ir para a cadeia). A questão para ele é ser visto não só como “vítima”, condição que consegue assumir com certa facilidade. Mas, sim, como real alternativa a um governo em crise de popularidade e que aposta todas as fichas na figura desgastada do atual presidente.

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As pesquisas indicam que Bolsonaro não expandiu consideravelmente seu eleitorado cativo. Numa possível saída via Legislativo (leia-se enfrentamento com o Judiciário) até aqui ele não conseguiu colocar de pé uma coligação com o ímpeto necessário para responder ao STF com uma ampla anistia, por exemplo. Os operadores do centrão se esgueiram entre não ser contra a anistia e não se mexer muito para aprová-la.

Cada um à sua maneira, e trilhando caminhos bem diversos, as figuras políticas de Lula e Bolsonaro chegaram ao mesmo patamar. Não podem ser descontadas do cenário político eleitoral, que não são capazes de decidir sozinhas. São os donos incontestes de uma fatia considerável de votos, mas incapazes de decidir neste momento a quem poderiam eventualmente transferi-los.

De fato, o Brasil está com poucas escolhas.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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