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Opinião | As benesses políticas com a reforma do IR devem ficar aquém do que o governo espera

O que explica o mau humor em largas parcelas da população em relação ao governo é a noção de sufoco trazida por impostos altos, juros altos, inflação alta, maus serviços públicos, saúde precária, educação deficiente e falta de segurança

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Foto do author William Waack

Na visão de Lula é infalível a fórmula de injetar dinheiro para consumo e esbravejar na peleja ricos contra pobres. É o que promete a reforma do IR para fazer “ricos” pagarem por um benefício para os “pobres” (a isenção para quem ganha até 5 mil reais por mês).

Há anos que se apontam as severas distorções do sistema tributário brasileiro e sua falta de progressividade – um dos piores exemplos entre as maiores economias do mundo. Se aprovada como proposta, a reforma vai reduzir para apenas 10% da população economicamente ativa a base de contribuintes do IRPF.

Lula apresenta ao Congresso projeto para isentar de imposto de renda quem ganha até R$ 5.000 Foto: Wilton Júnior/Estadão

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Embora eloquente como retrato do nível de desigualdade do País, não é isto que está em discussão. Nem se trata também de “justiça histórica” em relação à tungada sofrida por contribuintes há décadas por conta da falta de correção da tabela do IR.

Trata-se exclusivamente de recuperação da popularidade perdida através de medidas de incentivo ao consumo das quais a isenção do IR é apenas a mais recente. Com o “bônus” suplementar de permitir a Lula apresentar-se como pai dos pobres, condição da qual andava afastado.

A questão é saber se o presidente vai colher os resultados que espera. A resposta é um provável “não”, e por razões alheias à questão de mérito da reforma do IR. Antecipa-se que ela passe no Congresso pois é sedutora a narrativa da bondade com dinheiro “dos ricos”, e aí está o primeiro problema para Lula.

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Como o Centrão se mostra disposto em grande medida a apoiar a proposta, o ganho político eleitoral se espalha em vez de se concentrar na figura do “pai dos pobres”. É o que já acontece com programas assistencialistas, largamente percebidos como “política de Estado” e não como presente do Lula.

O segundo problema para Lula colher os resultados político eleitorais esperados é de natureza mais ampla. Os estrategistas do governo tendem a considerar fatores isolados, como a inflação de alimentos, para tentar entender as causas da perda de popularidade. Sem terem encontrado até aqui uma resposta clara para o fato de que incentivos ao consumo e mercado de trabalho aquecido não melhoraram a aprovação do presidente – ao contrário.

O que explica o mau humor em largas parcelas da população em relação ao governo é a noção de sufoco trazida por impostos altos, juros altos, inflação alta, maus serviços públicos, saúde precária, educação deficiente e falta de segurança. É um poderoso mix corrosivo da popularidade de qualquer político, ainda mais quando se trata de uma figura antiga, como Lula, que se esmera hoje em repetir o que já disse e já fez.

E que continua acreditando, como demonstra o episódio da isenção do IR, em bala de prata para popularidade.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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