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Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião | As coisas parecem como sempre foram no País, em meio à grande mediocridade

Congresso é um fiel retrato disso, com a representação de interesses regionais, setoriais ou corporativistas sem que se registre uma “força condutora” por parte de lideranças ou partidos nacionais

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Foto do author William Waack

Há um ar de modorrenta normalidade nos debates sobre a regulamentação da reforma tributária. Ela segue exatamente o caminho “lógico”: quem é mais organizado garante para si o que acha ser seu direito. Não há uma discernível noção de conjunto e o grosso volume da conta será pago no final com pesada carta tributária.

O Congresso brasileiro é um fiel retrato dessa normalidade. Fora uma ou outra explosão de temas como aborto e saidinhas, trata-se de tocar os negócios como sempre foram tocados. Ou seja, é a representação de interesses regionais, setoriais ou corporativistas sem que se registre uma “força condutora” por parte de lideranças ou partidos nacionais.

Praça dos Três Poderes, em Brasília, onde estão localizadas as sedes do Executivo, do Judiciário e do Legislativo Foto: Bento Viana/GDF

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Faz parte dessa modorrenta normalidade também a instituição de um sistema tricameral. Temos Câmara, Senado e STF — como sempre, acionado pelos mesmos partidos que se queixam de sua excessiva intromissão. Esse ativismo não tem volta para um ponto qualquer no passado que se poderia chamar de “adequado”.

O sistema todo evoluiu para ter o STF como ele hoje é. Com a “normalização” de decisões individuais e a condução de inquéritos, como o das milícias digitais, sem data para terminar. Virou paisagem à qual o sistema político se acomodou.

A modorrenta normalidade significa admitir que a Lava Jato foi um “erro” que deixou como consequências empreiteiras falidas e reputações destruídas. Tudo isso está sendo corrigido com notável rapidez, e as mesmas figuras envolvidas nos escândalos de corrupção recuperaram capital político e social — tão relevante no “networking” que foi, como sempre, fator preponderante no crescimento e prosperidade de grupos privados associados à máquina do Estado ou dela dependente para seus negócios.

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Admita-se também como volta à normalidade constatar que a influência e loteamento políticos de grandes estatais, com destaque para a Petrobras, voltaram a ser tratados como assunto corriqueiro. Sempre foi assim, incluindo políticas públicas fracassadas e a impressão de que podemos comprar pipoca para ver a reprise do filme.

O que foi “novo” nas últimas eleições, o surgimento de bolhas até aqui bastante herméticas, já se traduziu em normalidade. Na qual as correntes políticas antagônicas parecem ter direito a “fatos” próprios, sequer reconhecidos como tais pelo outro lado.

Há uma patente mediocridade no debate político, na capacidade dos sistemas político e de governo de entregar as respostas que a sociedade brasileira demanda para os severos desafios — os mesmos de sempre. É a nossa modorrenta normalidade.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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