Inelegibilidade é só o começo das atribulações de Jair Bolsonaro. Com ou sem um “mastermind” (que Jair supõe ser o ministro Alexandre de Moraes), o Judiciário se move para destruí-lo como pessoa física também – o “CNPJ” de pessoa política está sendo cancelado.
Não há sucessor designado e não há estrutura partidária ramificada do “bolsonarismo”, o que significa dizer que existem milhões ainda seduzidos pelo nome, mas não um movimento de massas que siga a direção apontada pelo “mito”. O que deve complicar a capacidade dele de “dirigir” correntes políticas sentado do lado de fora das linhas das disputas eleitorais.
É fato que continuam presentes alguns elementos centrais da onda disruptiva que o levou à vitória de 2018. Além das mazelas sociais de sempre e seu conhecido impacto sobre mais da metade do eleitorado, eles são o descrédito da política, a desconfiança em relação às principais instituições (que Bolsonaro se esmerou em aprofundar), a fraqueza dos partidos, a paralisia dos sistemas político e de governo.
Mas é muito raro que esse “caldo de cultura” da insatisfação generalizada e da indignação com a corrupção e com a raiva em relação ao “sistema” se cristalize a cada quatro anos em torno de um nome que surfe a onda. A expressão mais atual desse contexto é a abrangência do que se possa chamar de “centro-direita” levada pelas últimas eleições ao Congresso e a vários governos e Legislativos estaduais.
Por ser abrangente, porém, esse fenômeno político é difuso. Não tem uma “casa”, embora se veja abrigado em várias instâncias formais ou informais (como a Frente Parlamentar da Agricultura, ou entidades que representam setores da economia). Não está consolidado diretamente numa agremiação política (espalha-se por muitas). Reage e se organiza de forma pontual quando provocado por um governo, o do PT, que despreza o significado da palavra “frente ampla”.
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As várias correntes de centro-direita carecem evidentemente do nome de um “líder” – que, aliás, Bolsonaro nunca foi. A questão, porém, é bem mais profunda: a verdadeira carência é a de elites dirigentes organizadas com visão clara de projeto nacional e empenho decisivo em torno de questões que não sejam apenas resolver seus problemas setoriais ou regionais.
Talvez o Brasil tivesse vivido algo parecido a isso nos tempos da famosa “bancada da governabilidade”, nos idos da Constituinte de 1987/88, um breve período já praticamente esquecido de exercício de “pensar o País”. Pode-se criticar os resultados, mas é esse tipo de esforço que combate melhor a estagnação.
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