EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Uma avaliação dos nossos riscos

Opinião | Lula e Bolsonaro enfrentam o cansaço com o “velho”

O eleitor “indignado” e o eleitor “frustrado” tiveram grande influência nas duas últimas eleições presidenciais, mas não está claro para onde correrão agora

PUBLICIDADE

Foto do author William Waack

Lula e Bolsonaro se preparam para serem “decisivos” no segundo turno paulistano. Sem dúvida serão influentes, mas aquém do que acham de si mesmos.

Essa perda relativa de importância não é função da performance pessoal de cada um deles — ela continua basicamente a mesma. E nisto reside o problema para ambos: as eleições municipais em geral e as de São Paulo em especial evidenciaram em boa parte cansaço com a “velha” polarização.

Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) serão menos influentes do que imaginam no 2º turno paulistano.  Foto: Wilton Junior/Estadão

PUBLICIDADE

Lula não é mais o mesmo, pois suas plataformas de “esquerda” perderam claramente apelo eleitoral ao longo de mais de uma década (a vitória dele contra Bolsonaro pode ser vista como ponto fora da curva). Trata-se de séria questão estrutural — e possivelmente de idade também.

Bolsonaro vem perdendo a condição de “mito” por um outro tipo de questão estrutural, também de grande abrangência. As últimas eleições demonstraram a importância da política organizada, hierarquizada, capilarizada e alimentada pelos cofres públicos e pela máquina pública, que se expressou no sucesso de pelo menos seis partidos.

Nas contas de Gilberto Kassab, um dos mais hábeis operadores políticos do momento, essas seis siglas podem ser arrumadas em três de “direita” (PL, PP e Republicanos) e três de “centro” (PSD, MDB e União Brasil). Juntas, tiveram 72 milhões de votos, contra 23 milhões dos agrupamentos de esquerda.

Publicidade

Ocorre que, fora o PL, Bolsonaro não “comanda” nenhuma delas. Ao contrário, dependendo das conveniências regionais ou locais, essas correntes de “direita” caminham até em direções opostas. Kassab chama isso de “transição”, pois quem apostou na polarização das bolhas não se saiu bem nas recentes eleições municipais.

Para 2026, essa “transição” tem algo bem conhecido: é o fato de esse enorme ajuntamento político operar sabendo que não precisa se agarrar a candidatos, pois na relação de forças entre os poderes quem for eleito dependerá desse amálgama (como aconteceu com Bolsonaro e acontece com Lula). Pelo jeito as coisas transicionam para ficar assim como são, menos a acidez de “bolhas”.

Pode-se enxergar em alguns candidatos em grandes capitais (e os respectivos governadores que os apoiaram) algum tipo de “renovação” na política, pois o sucesso eleitoral deles e de seus articuladores não dependeu exclusivamente de Lula ou Bolsonaro. Nesse sentido, têm seu “próprio” capital político, o que sugere cenários mais fluídos para 2026 do que a enfadonha repetição da polarização.

Perdoando a simplificação, é bom lembrar que o eleitor “indignado” e o eleitor “frustrado” tiveram grande influência nas duas últimas eleições presidenciais. Não está claro para onde correrão agora.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.