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Opinião | Os dilemas de Lula e Bolsonaro

A paisagem política está mudando com rapidez para ambos. Para o PT, o problema é falta de perspectiva; para o bolsonarismo, é o fracionamento do grande espectro da “direita”

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Atualização:

Mais cedo do que se supunha, Lula e Jair Bolsonaro ficaram obrigados a pensar em herdeiros para seus votos. O desgaste dos dois nomes tornou-se visível nas eleições municipais. E, para ambos, é ainda mais complicado o caminho até 2026.

No caso de Lula, o tempo pesa de dupla maneira. Aos 78 de idade, Lula não esconde seu cansaço. Aos 45 de existência, o PT não esconde que perdeu eleitorado e, principalmente, ideias. O partido que se julgava “intérprete” das camadas desfavorecidas desaprendeu a falar para os pobres.

Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), cujos partidos aumentaram o número de filiados antes das eleições municipais de 2024 Foto: Wilton Junior/Estadão

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Em 2010, Lula transferiu facilmente seu potencial de votos para Dilma Rousseff, a figura que ele escolheu. Desta vez, não só está em aberto quem ele indicaria caso não se candidate (o que também está em aberto), mas também o tamanho do “legado” eleitoral que teria a transferir.

Desde a primeira vitória de Dilma (quase o tempo de uma geração), o País foi sacudido por acontecimentos que trouxeram entre as consequências uma sólida resistência a Lula e ao petismo — e um forte sentimento antissistema cujo “desenvolvimentismo” do atual governo (leia-se expansão de gastos públicos) não foi capaz de reverter.

Para Bolsonaro, o problema pessoal central é escapar da cadeia. No momento, o cenário mais provável para o ex-presidente é o da apresentação de pelo menos uma denúncia contra ele pelo procurador-geral da República.

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Não se sabe quão robusta seria a denúncia por tentativa de golpe de Estado, mas, dada a atual situação no STF, assume-se que a Corte o condenaria por 5 a 0 (o ex-presidente vai ser julgado na Primeira Turma). Já está inelegível, condição da qual parece ter pouquíssimas chances de escapar.

Para o PT, o problema central é falta de perspectivas, pois o partido não soube entender as transformações sociais no eleitorado de baixa renda. Para a “direita”, é o forte fracionamento do seu enorme e crescente potencial eleitoral. Bolsonaro é um dos fatores que agravam os evidentes rachas.

Os poucos estrategistas que sobraram no PT nutrem a esperança de que a consolidação de sua base, ainda que menor do que já foi, seria suficiente para prevalecer nas próximas eleições. Mas, se o que ocorre nas eleições municipais de São Paulo serve de alerta, num segundo turno o “voto de direita” se consolida no antipetismo, não importam as dificuldades de se concentrar em um só grande nome no primeiro turno.

É importante assinalar que Lula e Bolsonaro permanecem sendo figuras históricas de grande relevância. Mas estão percorrendo de forma acelerada o caminho que vai tirá-los do lugar no qual bem pouco tempo atrás pareciam inabaláveis: o de definir os limites do embate político brasileiro.

Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

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