Os familiares das vítimas da queda do avião que transportava 58 passageiros e quatro tripulantes, no voo de Cascavel (PR) com destino ao Aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, na sexta-feira, 9, vivem agora a angústia pela liberação dos corpos.
É o caso do representante comercial Ricardo Thé Maia, irmão de Constantino Thé Maia, a última vítima identificada pela Voepass Linhas Aéreas, responsável pelo voo, que caiu em Vinhedo (SP).
Ricardo conta que viajou de Natal (RN) a São Paulo - com uma passagem cedida pela própria companhia aérea - sem a confirmação da morte de Constantino, que era o filho do meio de uma família de cinco irmãos. Os dois trabalhavam juntos. A confirmação de sua morte só veio neste sábado pela manhã.
“Nós sabíamos que a chance era pequena, porque ele falou com a gente do aeroporto, mas o nome dele não estava na lista oficial”, diz o irmão, que completou 46 anos exatamente neste sábado. “Como era meu aniversário, eu sabia que ele estaria presente. Por isso, tinha poucas esperanças quando vim a São Paulo.”
A Federação Norte-Rio-Grandense de Voleibol também prestou suas homenagens a Constantino. Em uma publicação, a entidade destacou sua paixão pelo vôlei, lembrando que ele dedicou anos ao esporte e foi o responsável pela tradicional pelada de Nova Parnamirim, onde reunia amigos.
Ao longo deste sábado, Ricardo foi até o Instituto Médico-Legal (IML) para a coleta de DNA, o exame tradicional com a coleta do material genético do céu da boca. Em seguida, participou de uma reunião com representantes da Voepass e do IML. Ele conta que recebeu informações sobre três formas de identificação das vítimas.
A primeira, mais simples e mais rápida, pode ser feita pelas impressões digitais, caso elas estejam preservadas. A segunda opção é por meio da arcada dentária, fotos de tatuagens e cirurgias - Constantino foi submetido a um procedimento de hérnia de disco. A terceira opção - mais complexa e demorada - é a análise do material genético. “O pessoal do IML disse que esse processo pode levar até 30 dias.”
Por causa dessa indefinição, Ricardo ainda não sabe quando voltará ao Rio Grande do Norte. O restante da família está arrasada, principalmente a mãe, Maria do Socorro, de 80 anos.
“Ele era uma pessoa inteligentíssima, que sabia conversar sobre tudo. Era o pilar da nossa família, era quem se preocupava com todos”, conta a sobrinha Raphaela Cecília Thé Maia, de 36 anos. Constantino tinha dois filhos adolescentes.
Além da indefinição sobre o prazo para liberação do corpo do irmão, Ricardo confessa uma angústia ainda mais dolorida. “Pelas informações que recebemos, o caixão será lacrado. Isso significa que não haverá velório. A gente não vai poder vê-lo pela última vez.”
O drama dos Thé Maia é apenas um dentro do grupo de 60 familiares das vítimas do voo 2283 que chegou neste sábado a São Paulo. Todos estão em um hotel na região central da capital paulista. Este domingo será dedicado aos exames e acolhimento de outros familiares que ainda estão chegando à capital.
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O clima no saguão do hotel era de tristeza. Olhares perdidos, lágrimas e abraços foram as cenas mais comuns. Pouquíssimos hóspedes quiseram dar entrevistas. A maioria preferiu o silêncio.
Velório em Cascavel
A prefeitura de Cascavel (PR) informou que o velório das vítimas do acidente será realizado no Centro de Eventos da cidade. O local começará a ser preparado para as cerimônias fúnebres na manhã de segunda-feira (12). “Conforme o fluxo de informações chegarem do Instituto Médico Legal de São Paulo, o Município de Cascavel estará organizando a recepção dos corpos e consequentemente o velório e sepultamento”, diz a nota da prefeitura. “Uma equipe de assistentes sociais já está entrando em contato com os familiares para organizar o velório e sepultamento.”
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