RIO – As causas do acidente com o avião da Voepass, que vitimou 57 passageiros e quatro tripulantes ao cair na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, serão investigadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), sem prazo definido para a conclusão. Os relatórios finais do órgão costumam levar em média, 1.001 dias, cerca de dois anos e sete meses, para serem divulgados, de acordo com a análise dos 1.833 acidentes mais recentes apurados em solo brasileiro, desde 2007.
Um terço dos acidentes aéreos fatais com vítimas no País é causado pela perda de controle da aeronave em voo. Nos últimos dez anos, de 2014 a 2024, foram 388 ocorrências com mortos, entre aviação comercial, privada, de instrução e militar. Destes, 124 – o que representa 30% de todos os casos – foram motivados pela perda de controle dos aviões, segundo dados do Cenipa.
As investigações não buscam apontar um “culpado” pelo acidente e levam em consideração desde a situação climática no dia da ocorrência aos fatores psicológicos da tripulação. O processo minucioso é conduzido pela Força Aérea com o apoio de técnicos da fabricante da aeronave, operadores e entidades ligadas à aviação, como sindicatos e entidades de classe. O objetivo é prevenir novos acidentes e formular recomendações de segurança para evitar que casos semelhantes se repitam.
O chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, explicou em entrevista no início da noite desta sexta-feira, 9, que o objetivo da investigação do Cenipa é “entregar recomendações de segurança para o transporte aéreo”. Segundo o militar, os investigadores trabalham com o princípio da máxima eficácia preventiva, o que explica o elevado tempo de trabalho.
“O Estado brasileiro tem duas grandes responsabilidades. Primeiro, a investigação judicial ou investigação criminal conduzida da Polícia Federal e pelas polícias estaduais. Essa investigação busca responsabilização, busca culpabilização e trabalha na produção de provas, com contraditório para defesas. A outra grande responsabilidade do Estado é a investigação aeronáutica conduzida pela autoridade de investigação civil da Força Aérea Brasileira, cujo objetivo é entregar a segurança para a sociedade no transporte. O objetivo é emitir recomendações de segurança de voo para entregar segurança para a sociedade”, afirmou o brigadeiro do ar.
O Cenipa e a Força Aérea consideram um acidente aeronáutico toda ocorrência em que passageiros ou tripulantes tenham sofrido lesão grave ou morrido em decorrência de contato direto com aeronaves; danos ou falhas estruturais que afetem o voo ou que exijam a substituição de grandes componentes ou a realização de grandes reparos e o desaparecimento dos aviões.
O avião da companhia Voepass Linhas Aéreas caiu por volta das 13 horas, em um bairro residencial de Vinhedo, interior de São Paulo. O voo com origem em Cascavel, no Paraná, tinha como destino Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Segundo a Voepass, a prefeitura de Cascavel e a Polícia Militar paulista, não houve sobreviventes.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), é o acidente com o maior número de vítimas desde a queda da aeronave da TAM, em São Paulo, em 17 de junho de 2007, que vitimou 199 pessoas.
O acidente com o avião da Voepass é mais um caso que ocorre em São Paulo. É o Estado com o maior número de ocorrências em todo o País porque concentra o maior fluxo de decolagens e aterrisagens. Nem sempre, no entanto, as aeronaves partem ou têm como destino solo paulista.
Ao menos 746 pessoas morreram nos últimos dez anos em acidentes aéreos no País, segundo o Cenipa. O ano com o maior número de vítimas foi em 2016. Neste ano, a FAB já contabiliza 27 acidentes fatais com 49 vítimas. Os dados contemplam todas as categorias de aviação.
Especialistas explicam possíveis causas
As condições climáticas estão entre as hipóteses mais fortes para explicar a queda da aeronave ATR-72 em Vinhedo. Imagens da queda do avião, que mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada de “parafuso chato” no meio da aviação, é o principal indicativo de que o acidente ocorreu devido a uma perda de sustentação, o “estol”. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a perda de sustentação da aeronave pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião, mas só a investigação será capaz de dar a resposta.
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A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lamentou o acidente e disse, em nota, que já monitora a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela Voepass, que opera a aeronave.
“A Anac está monitorando a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa, bem como adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes”, diz a nota.
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