Há uma semana, o cheiro de lápis de cor novinho e páginas com imagens prontas para serem coloridas voltaram para a vida da coordenadora de RH Juliana Senna, de 27 anos. Ela, que teve hábito de colorir até os 12 anos, passou a se dedicar a preencher folhas, flores e corações mesmo após um dia cansativo de trabalho. Juliana é uma "jardineira", como se intitulam as adeptas da febre mundial de dar cores ao universo em preto e branco do livro Jardim Secreto- Livro de Colorir e Caça ao Tesouro Antiestresse (R$ 29,90, Editora Sextante), de Johanna Basford. A obra estava em primeiro lugar no último ranking dos mais vendidos pela editora e também no portal PublishNews, sobre o mercado editorial. Na vida de Juliana, o livro chegou como um presente do marido e logo virou vício. "Vi que era antiestresse e eu sou bem acelerada. Sempre gostei de pintar e, todos os dias, dedico 30 minutos para a pintura", diz. "Estou até dormindo melhor." De maneira despretensiosa, a empresária Alessandra Garattoni comprou o livro. E antes mesmo de preencher todos os desenhos, adquiriu o segundo exemplar, da mesma autora: Floresta Encantada (R$ 29,90, Sextante). "Nunca fui uma pessoa das artes, mas tem um quê de encantamento." Alessandra comprou a última obra pela internet, após procurar em vários lugares, onde já havia esgotado. A procura tem sido grande. Desde o lançamento no Brasil, em novembro, Jardim Secreto já vendeu 100 mil exemplares. "Colorir desenhos tão elaborados absorve a atenção de tal maneira que funciona como espécie de 'antídoto' para o dia a dia frenético que vivemos. Vários lançamentos têm tido sucesso com a proposta de colocar o leitor para interagir mais com os livros e torná-los únicos", diz a gerente de aquisições da Editora Sextante, Nana Vaz de Castro. Após um problema pessoal e ter a criatividade afetada, o arquiteto Eduardo Vieira, de 25 anos, comprou o livro. "Faz dois meses que comecei. Foi me ajudando a 'desestressar' e a inspiração voltou. Fico umas duas horas pintando."
Para adultos.
Uma versão apimentada para colorir foi lançada no mês passado. Com ilustrações de Laerte e Adão Iturrusgarai, Suruba para Colorir (R$ 30, Bebel Books) tem algumas imagens sensuais e outras explícitas. "Acho que é muito interessante esse movimento. Nesse frisson digital, as pessoas entram em um ritmo alucinante e é importante o resgate da atividade manual", diz a produtora Bebel Abreu. A primeira tiragem saiu com 1.800 exemplares. Só 300 estão disponíveis.
O psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Armando Ribeiro, diz que a pintura de livros não deve ser confundida com arteterapia. "A arte tem propriedades curativas", explica. "Colorir um livro é apenas parte de um possível tratamento." Mas, segundo Ribeiro, a atividade pode ser benéfica. "É quase como se a gente desse um momento de descanso para nosso cérebro."
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.