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Alunos de Medicina da USP vítimas de desvio tentam parcerias em redes sociais para bancar formatura

Empresas de doces e fotografia e celebrante já indicaram que poderão ajudar; estudantes perderam R$ 937 mil desviados por colega, que foi indiciada por apropriação indébita

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Foto do author Fabiana Cambricoli

Os alunos da turma 106 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), vítimas de um desvio de quase R$ 1 milhão arrecadado para a festa de formatura, tentarão parcerias nas redes sociais para viabilizar a festa de conclusão de curso, prevista para acontecer em janeiro de 2024.

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Os estudantes, que acabaram de ingressar no sexto e último ano da graduação, vinham pagando as mensalidades da festa desde 2019, mas descobriram no último dia 6 que a colega Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, então presidente da comissão de formatura, havia sumido com os R$ 937 mil arrecadados pelos 110 alunos que haviam aderido à comemoração.

Em sua página no Instagram, a comissão declarou que está “reestruturando todo o projeto e pensando em saídas para viabilizar a realização da festa” e que fará “uso das redes sociais para buscar parcerias que possam auxiliar a tirar esse sonho do papel”.

Nos comentários dessa e de outra postagem sobre o assunto, pelo menos três fornecedores de serviços relacionados a festas comentaram que enviariam uma mensagem privada para a comissão, indicando possível parceria: uma empresa de doces, uma de fotografia e um celebrante de eventos.

Houve também dezenas de comentários de pessoas afirmando que contribuiriam em uma vaquinha ou para que os alunos divulgassem o código Pix para uma transferência.

A postagem dos alunos da USP também foi recompartilhada nos stories de uma página de fã clube da cantora Marília Mendonça com 122 mil seguidores. No post, o fã clube pede que seus leitores sigam, divulguem e compartilhem a página da comissão de formatura da turma 106 para que eles consigam “os objetivos que foram retirados deles indevidamente”.

Outros comentários nas postagens foram menos simpáticos: alguns criticaram os estudantes pela perda do dinheiro ou fizeram piada da situação. Um dos internautas sugeriu, de forma irônica, que pedissem o patrocínio das Loterias Caixa. Outro disse que o tema da festa deveria ser lavagem de dinheiro.

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O Estadão tentou contato com integrantes da comissão de formatura da USP para saber que parcerias eles estão buscando e se já fecharam algo do tipo, mas ainda não recebeu resposta. A reportagem também questionou a diretoria da Faculdade de Medicina da USP se haverá algum tipo de apoio financeiro ou institucional para os estudantes vítimas do golpe, mas a instituição não se pronunciou sobre o assunto.

A faculdade foi questionada ainda se Alicia responderá a alguma sindicância interna por causa da conduta e que tipos de sanções pode sofrer administrativamente. A FMUSP respondeu apenas que, “diante do andamento da investigação sobre a fraude contra a Comissão de Formatura, [...] informa que está acompanhando a apuração dos fatos pelos órgãos competentes”.

Entenda o golpe

Alicia informou os colegas no último dia 6 que perdeu todo dinheiro arrecadado. Inicialmente, ela disse que havia aplicado a quantia na corretora de investimentos Sentinel Bank e levado um golpe da instituição financeira. Ela teve acesso ao dinheiro da turma ao solicitar a transferência para sua conta pessoal do recurso que estava sob gestão da empresa Ás Formaturas, contratada pelos estudantes para cuidar da arrecadação.

Os saques começaram em 2021. Os estudantes dizem quem ela deveria ter comunicado outros membros da comissão sobre as transferências, o que não foi feito.

Alicia Dudy Müller Veiga foi indicada por apropriação indébita. Foto: USP Imagens

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Dias depois do anúncio, os alunos descobriram que ela era investigada pela Polícia Civil por lavagem de dinheiro e estelionato após um suposto golpe em uma lotérica da zona sul. De acordo com a investigação, ela teria gasto mais de R$ 400 mil em apostas na Lotofácil entre abril e julho de 2022. Na última data que esteve na lotérica, tentou apostar mais de R$ 800 mil de uma vez, mas não pagou. Ela deu prejuízo de R$ 192 mil para o estabelecimento, que registrou a ocorrência.

Nesta quinta-feira, 19, em depoimento à Polícia Civil, a estudante afirmou que, na verdade, fez aplicações em ações no Nubank e Banco do Brasil, mas que teve prejuízo e, no desespero, usou o restante do valor para jogar na loteria e tentar reaver o dinheiro perdido. Admitiu ainda que parte da quantia foi gasta com despesas pessoais, como aluguel de apartamento, locação de carro e compra de um iPad.

Alicia foi indiciada por apropriação indébita, crime com pena máxima prevista de quatro anos de reclusão, além do pagamento de multa. Ela responderá em liberdade. O Estadão vem tentando falar com a estudante desde sábado, 14, mas não tem retorno das ligações e mensagens.

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