Alvo de promotores, MCs mirins têm vida de luxo em casarão de Heliópolis

Casa de empresário virou produtora, com estúdios de gravação, piscina, salas de produção e dormitórios para os adolescentes

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Por Diego Zanchetta e Serjão Carvalho

Com o aval dos pais, 17 adolescentes que sonham com o sucesso no funk foram morar na residência do empresário Emerson Martins, de 42 anos. Erguido ao lado da Favela de Heliópolis, berço dos pancadões de rua de São Paulo, o casarão de três andares tem estúdios de gravação, piscina, salas para produção de clipes e um dormitório onde ficam algumas das estrelas em ascensão do gênero, como MC Brinquedo, de 13 anos, MC Plebeia, de 15, e MC Pikachú, também de 15. Em abril, os vídeos produzidos na mansão somaram mais de 16 milhões de visualizações no YouTube.

Mas a “fábrica dos sonhos” do funk, como alguns pais de artistas mirins chamam o casarão, entrou na mira do Ministério Público do Trabalho e da Promotoria da Infância e da Juventude. Clipes erotizados e com alusão às drogas que “viralizaram” na internet, feitos dentro do casarão, “ferem a dignidade das crianças e dos adolescentes”, segundo os promotores. 

A dupla de MCs Plebeia e Princesa ao lado de Pikachú e Menassi. Ao fundo, os MCs 2K e Bin Laden Foto: Serjão Carvalho/Estadão

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O assunto invadiu as redes sociais durante a semana. A maior parte das opiniões condenava a exposição dos MCs mirins. Principal revelador de talentos do funk paulistano, Martins, que transformou a casa onde moram os garotos na KL Produtora, discorda dos promotores. O empresário permitiu que a reportagem do Estado acompanhasse, durante três dias, a rotina desses jovens no local.

“Quando teve criança dançando ‘na boquinha da garrafa’ ninguém falou nada; quando teve Sandy e Júnior, nada. Antes já teve o Balão Mágico. Por que a perseguição com o funk? Por que é da periferia?”, indaga o empresário, que antes montava parques de diversão na periferia paulistana.

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Martins faz questão de ressaltar que todos os artistas recebem alimentação, vão à escola e obedecem a regras como não participar “de nenhum” dos bailes funk de rua. “Esse contato com o público quebra a magia do artista. Não pode ser tão acessível assim”, afirma o empresário. Os pais deixam uma autorização por escrito para Martins, permitindo que o filho menor de idade fique sob sua responsabilidade.

Assim que os adolescentes completam 16 anos o empresário pede aos pais a emancipação. “Pai do Brasil inteiro está me ligando”, gaba-se.

Os garotos passam a maior parte do dia gravando novas letras, produzindo clipes e concedendo entrevistas. Dois produtores, um motorista e uma cozinheira ficam na casa à disposição dos meninos. Dois furgões são usados para levar os MCs mirins para aeroportos, shows e entrevistas. Eles também podem visitar os pais a qualquer momento, segundo Martins.

Cachê. Estrela até de baladas de descolados, MC Pikachú mora já há cinco meses na casa de Martins. Foi com a equipe do empresário que ele produziu o clipe da música Novinha Profissional, que teve mais de 8 milhões de visualizações no YouTube em dois meses.

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O garoto já não consegue mais circular por Heliópolis sem ser perseguido por uma multidão.

“Sabe o que ela quer? P.. p...”, diz a letra de Novinha Profissional. Pikachú faz até quatro shows por semana, a maior parte na madrugada. Seu cachê varia de R$ 5 mil a R$ 12 mil por semana. Antes, ele morava com os pais na periferia de Suzano, na Grande São Paulo. “Ele disse que queria comprar um carro. Disse que não podia ter, mas para o pai dele podia. Fomos na concessionária e compramos uma Montana zero para o pai dele trabalhar”, contou o dono da KL Produtora.

Maior exemplo para Pikachú e outros adolescentes do casarão é MC Bin Laden, de 21 anos, o “carro-chefe” da KL. O garoto pobre de Itaquera, na zona leste, já conseguiu comprar casa própria para ele e para a mãe após chegar, há dois anos, à casa de Martins. Seu sucesso Bololo, hahahá, que fala sobre o momento nos bailes funk em que várias motos se juntam para acelerar sem escapamento, já teve 10 milhões de visualizações.

O sucesso de Bin Laden despertou até a atenção do DJ, músico e produtor inglês Diplo, que tocou Bololo, hahahá durante apresentação no festival Lollapalooza. 

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Para entender: Ideia é proibir shows à noite

A Promotoria da Infância e da Juventude abriu inquérito para investigar quem são os responsáveis pela tutela dos MCs mirins do funk paulistano. Eles consideram abusivo e ilegal que jovens com menos de 14 anos, como MC Brinquedo, de 13, e a garotinha MC Melody, de 8, se apresentem de madrugada cantando músicas de conotação erótica. A reportagem do Estado ouviu a mãe de MC Brinquedo, que na quinta-feira fez show de madrugada na festa I Hate Flash, promovida por fotógrafos na balada Estúdio, em Pinheiros, zona oeste. Ela estava assustada com a repercussão da investigação de promotores sobre o trabalho dos MCs mirins e pediu que seu nome não fosse divulgado. “Eu acompanho todos os passos do meu filho, vou nos shows. Ele nunca está sozinho. E, na KL Produtora, ele é muito bem cuidado”, declarou.

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