Marcus Vinicius Rocha, de 22 anos, que também estava no Porsche conduzido pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de uma unidade do Hospital São Luiz, em São Paulo.
Rocha estava no banco do passageiro quando o veículo de luxo, avaliado em R$ 1 milhão, colidiu contra o Renault Sandero do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, na Avenida Salim Farah Maluf, na zona lesta paulistana, na madrugada do domingo, 31. Viana chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu por traumatismos múltiplos.
De acordo com os familiares de Marcus Vinicius, o rapaz está “entubado e em coma induzido na UTI”. Ele teve quatro costelas quebradas e retirou o baço (órgão que fica acima do abdome) em uma cirurgia. “Não há previsão de alta”, informaram pessoas próximas à família ao Estadão.
O Hospital São Luiz afirmou que não tem autorização para passar informações sobre o quadro clínico do paciente.
Fernando Sastre de Andrade Filho e Marcus Vinicius Rocha estavam com as namoradas em uma casa de pôqueer antes do acidente.
Juliana Simões, companheira de Marcus Vinicius, disse à polícia em depoimento que os dois casais haviam tomado alguns drinques na hora do jantar em um restaurante no Jardim Anália Franco por volta das 21h30. Depois, os quatro se dirigiram à casa de pôquer - chegaram às 23h35, de acordo com as imagens das câmeras de segurança.
Ela não se lembra se Fernando bebeu no estabelecimento, mas afirmou que o empresário estava um “pouco alterado” e que os demais integrantes do grupo tentaram convencê-lo a não dirigir. Eles teriam combinado, então, que Rocha acompanharia o amigo na Porsche.
As duas mulheres seguiram os namorados em um Audi Q5, mas se distanciaram no caminho, depois que o Porsche acelerou. Juliana relata que ligou para o namorado, que falou que tinham sofrido um acidente.
O episódio informado por Marcus Vinicius foi a colisão contra a traseira de um Renault Sandero EXP, carro do motorista de app Ornaldo Viana, de 52 anos. A vítima, que trabalhava no momento da batida, chegou a ser socorrida com quadro de parada cardiorrespiratória e encaminhada para o Hospital Tatuapé, mas morreu por “traumatismos múltiplos”.
O caso aconteceu na Avenida Salim Farah Maluf, por volta das 2h da madrugada do último domingo, 31. Pelas imagens captadas pelas câmeras de segurança é possível perceber a violência da colisão. O choque leva os dois carros para o canteiro da avenida, cuja velocidade máxima permitida é de 50 km/h. Um deles bate no poste de luz, o que provoca a queda imediata de energia elétrica no quarteirão.
Em depoimento à polícia, o empresário afirmou que dirigia o Porsche “um pouco acima” do limite de velocidade, mas não precisou a velocidade exata; e negou que estivesse sob efeito de drogas ou bebidas alcóolicas. Por estar internado, Marcus Vinicius não foi ouvido ainda pela polícia.
A Polícia Civil indiciou Andrade Filho por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, lesão corporal ao companheiro de veículo e fuga do local do acidente, mas a Justiça de São Paulo negou o pedido de prisão temporária por considerar que não havia elementos suficientes para isso.
A advogada de Fernando, Carine Acardo Garcia, afirmou que há “um linchamento” contra seu cliente. “O que está se criando é uma disputa entre classes que não existe, não deveria existir. O que aconteceu foi uma fatalidade”, afirmou a defensora. “Existem as circunstâncias em que uma pessoa pode assumir o risco? Existem, mas a Justiça vai ver se foi o caso ou não”, disse.
Na quarta-feira, 3, policiais apreenderam computadores na casa de pôquer. A investigação quer saber se as câmeras do estabelecimento gravaram Andrade Filho dentro do local e se ele ingeriu bebida alcoólica antes da batida.
A Polícia Civil também investiga as razões para os policiais militares que atenderam à ocorrência terem liberado o empresário do local do acidente, que se apresentou quase 40 horas depois do episódio. O ouvidor Claudio Silva disse à reportagem do Estadão que a Ouvidoria da Polícia Civil acionou a Corregedoria da Polícia Militar ainda na segunda-feira, 1, para apurar a conduta dos PMs.
No registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmam que a mãe de Andrade Filho compareceu ao local e disse que levaria o filho ao Hospital São Luiz, no Ibirapuera, zona sul, para tratar de um ferimento na boca. Quando os agentes foram ao hospital para fazer o teste do bafômetro e colher sua versão do acidente, não encontraram nenhum dos dois.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou não ter tido acesso às imagens de câmeras corporais dos policiais militares que atenderam a ocorrência. “Eu sei que a Polícia Militar está apurando se houve erro por parte dos policiais militares em permitir que ele fosse socorrido por familiares. E, se houve erro, os policiais certamente vão responder por isso”, disse nesta sexta-feira, 5.
A Secretaria da Segurança Pública afirma que vai analisar a “dinâmica da ocorrência para identificar eventual erro de procedimento operacional”. A secretaria não precisou quanto tempo levou entre a chegada da PM ao local e o registro da ocorrência.
O empresário nega que tenha fugido e diz que foi o último a sair da cena do acidente, acompanhado da mãe. Na sua versão, tanto Marcus Vinicius Rocha quanto Ornaldo já tinham sido socorridos. Em depoimento, o empresário admitiu que não foi para nenhum hospital porque sua mãe passou a receber “ameaças pelo celular”. Ele afirmou que não viu quais ameaças porque sua mãe não havia deixado que ele visse as mensagens.
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