Em um chuvoso 20 de janeiro de 1985, um Boeing 747 – jumbo de dois andares – fez o pouso inaugural na pista do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. O avião estava lotado de autoridades, abastecidas com champanhe Dom Pérignon, safra 1975, enquanto no interior do aeroporto 20 mil curiosos enchiam as escadas de barro vermelho molhado, pulavam cercas e subiam nos jardins para enxergar melhor a pista. O voo 861 da Varig, vindo de Nova York, estreou a operação de Cumbica.
Há 30 anos, nascia o maior aeroporto do País e hoje o mais movimentado do Hemisfério Sul. De lá para cá, o número de passageiros cresceu 16 vezes, chegando a 108 mil por dia em 2014. Segundo funcionários que acompanharam a evolução do aeroporto, “tudo mudou”. “Até então, quem voava era uma classe privilegiada, elite. A comissária também era diferente: tinha feijoada a bordo, caviar, porcelana”, lembra Joel Carlos Cruz de Oliveira, de 65 anos, funcionário de Cumbica desde 1985. “O painel que mostrava os voos era manual, com papéis confeccionados. Hoje tudo é informatizado”, afirma ele, que coordena o Centro de Gerenciamento de Operações.
O taxista Olando Pelaif Amorosini, de 65 anos, lembra bem do dia da inauguração. “Estava uma chuva que Deus mandava e o chão ficou grosso de terra vermelha. Toda a cidade de Guarulhos veio visitar”, diz ele, que era um dos 43 taxistas presentes naquele dia. Hoje, a Guarucoop, cooperativa de táxi de Cumbica, tem 733 carros. Amorosini recorda que quase não havia corridas a fazer. “A gente sofria porque havia poucos voos. Oito meses depois, virou uma correria danada.”
O aeroporto só operava voos internacionais até agosto de 1985, quando passou a receber malha doméstica. Apenas o Terminal 1 existia, e o plano original era concluir quatro terminais ao longo dos anos seguintes. O 2 foi concluído em 1993, mas os outros tiveram os projetos alterados sucessivamente, até que, curiosamente, o Terminal 4 acabou inaugurado antes do 3.
Lenda urbana. Diariamente, passam por Cumbica 250 mil pessoas – mais do que a população de São Carlos, no interior paulista, que tem 239 mil. “Isso aqui é uma cidade. Acontecem nascimentos, óbitos, roubos”, afirma Oliveira. E, como uma cidade, o aeroporto tem lendas urbanas. Uma delas Oliveira diz que nunca vai esquecer.
Lá por 1989, um cachorro fugiu após ser desembarcado pela extinta Transbrasil. “A companhia não sabia o que fazer. Então, arrumaram um cachorro igual, colocaram na gaiola e botaram para rodar na esteira de bagagens. Mas o dono não pegava, e os funcionários foram falar com ele”, diz Oliveira. O suposto dono rebateu: “Esse cachorro não é meu. O meu está morto. Eu quis trazer para enterrá-lo”. O cão morto acabou não embarcando na origem por um erro da empresa aérea e, por outro erro, o cachorro fugitivo foi parar em Guarulhos.
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