Análise | Apagão em SP: Por que não se consegue prever, evitar e atender mais rapidamente a população?

Solução passa por unir forças para aumentar a resiliência da cidade diante de episódios como a tempestade de sexta-feira

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Por Marcos Buckeridge

Já na primeira tempestade forte da primavera de 2024, milhões de pessoas ficaram sem energia em São Paulo. Reporta-se 1 milhão, mas temos de lembrar que em cada família há cerca de três membros.

De novo, o foco é a empresa Enel, que não consegue atender aos chamados com rapidez, seja por falta de equipamentos ou de pessoal. E as árvores acabam levando boa parte da culpa. A pergunta que é feita é por que não se consegue prever, evitar e atender mais rapidamente a população?

Tempestade derruba árvore sobre carros na Rua Catão no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

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Prever vem deixando de ser o problema, pois há pelo menos uma década temos produzido estudos científicos sobre as árvores de São Paulo. Já sabemos quem são elas, quantas são e onde estão exatamente. Mais do que isto, já sabemos porque elas caem e em que época.

Elas caem, em parte, porque foram mal podadas ou estão doentes e quebram no tronco principal com ventos não tão fortes. Nesse caso, a falha é no manejo da arborização urbana. Porém, ao longo da última década, os secretários do Verde e Meio Ambiente de São Paulo deram continuidade às atividades ligadas à arborização, o que propiciou a colaboração contínua entre cientistas, prefeitura e ativistas. Com isso, o manejo vem melhorando lentamente.

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Outro motivo da queda de árvores é a velocidade do vento. Acima de 80 quilômetros por hora as árvores podem ser arrancadas pela raiz e aí a razão é climática.

Isto posto, a quem se pode atribuir a responsabilidade quando apagões catastróficos como o desta sexta-feira se abatem sobre São Paulo?

A responsabilidade é compartilhada, uma vez que a preparação precisa ser feita com antecedência. O fornecimento de energia pode ser interrompido por vários motivos, entre eles descargas elétricas e queda de árvores. Já o tempo que se leva para restabelecer a energia nos bairros é proporcional à velocidade de ação de limpeza das árvores caídas e da Enel reparar o sistema rapidamente.

As podas, principalmente as mais antigas, foram mal feitas porque a prioridade era a fiação elétrica. Porém, os Institutos de Biociências e de Matemática e Estatística da USP já publicaram ferramenta de inteligência artificial que permite saber com 75% de acerto quando a copa de uma árvore irá interagir com a fiação. Portanto, é possível prever. Basta aplicar. Sobre como podar, a academia e os técnicos da prefeitura já encontraram soluções e é possível nos anteciparmos ao problema antes que ocorra.

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O restabelecimento do fluxo de energia nos bairros depende de uma logística que obviamente deve incluir a arborização. É preciso estar mais bem preparado com equipamentos e pessoal para enfrentar os eventos extremos.

A antiga fábula da formiga, que se prepara com antecedência, e da cigarra, que deixa para a última hora, parece se repetir ano após ano. E nós, como as cigarras, parecemos não entender isso. Tudo deverá piorar com o avanço das mudanças climáticas, quando se esperam aumentos na frequência e intensidade dos impactos das tempestades. Se continuarmos nos comportando como a cigarra, acabaremos ficando sem energia durante um terço do ano.

A solução passa por unir forças entre a empresa (Enel), a prefeitura e a academia para trabalharmos em conjunto para aumentar a resiliência da cidade.

Análise por Marcos Buckeridge

Professor do Instituto de Biociências e Vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP

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