SÃO PAULO - Os autores da maior chacina da história de São Paulo escolheram para agir locais que correspondiam a áreas de patrulhamento do cabo Avenilson Pereira de Oliveira, de 42 anos. Os bandidos também procuraram vítimas com antecedentes criminais e estariam usando coturnos. Seis das vítimas tinham passagem pela polícia. “Estamos analisando se há relação disso com os fatos”, disse o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Para ele, no entanto, perguntar sobre o passado criminal e usar coturno é “típico de quem quer fingir que é um policial”. Moraes admitiu que entre as principais linhas de investigação está uma represália em função do assassinato do cabo da PM em Osasco. O Estado foi aos bairros onde ocorreram os ataques. Moradores e comerciantes que preferiram não se identificar, por medo de represálias, contaram que o “cabo Pereira” era conhecido na região.
Segundo afirmam, no dia em que o policial estava de serviço era certo que haveria patrulhamento nos bairros Jardim D’Ávila, Jardim Munhoz Júnior, Jardim Rochdale e imediações, onde ocorreram os assassinatos. “Era comum ele e o pessoal da viatura dele abordarem os moradores por aqui. Era sempre muito duro. Quando ele já conhecia a pessoa, pedia para ir embora”, disse um comerciante do Jardim D’Ávila.
Segundo um morador do Jardim Rochdale, o policial conhecia bem cada bairro e também os pontos onde ficavam criminosos, principalmente traficantes e usuários de drogas. “Todos daqui o respeitavam. Eu o conhecia como Pereira. Um dia, os policiais fizeram uma abordagem em um grupo que estava no bar e havia pessoas bebendo na calçada. Isso era à noite. Ele mandou todo mundo ir embora para casa”, contou.
Segundo o secretário Moraes, um dos mortos, Presley Santos Gonçalves, de 26 anos, é apontado como gerente de uma ponto de venda de drogas na Rua Cuiabá, onde morreu. Segundo um parente da vítima, ele já havia sido preso por “estar com uma moto que não era dele”.
A Rua Antônio Benedito Ferreira, em Munhoz Júnior, é cheia de bares e comércios. Lá foi o palco do primeiro e maior dos ataques, com oito pessoas mortos e duas feridos. Nesta sexta-feira, poucas lojas abriram as portas, temendo novos ataques. “Foi a primeira vez que vi isso por aqui”, disse o aposentado Juraci Moreira, de 56 anos. “Aqui não fecha nunca, tem sempre muito movimento”, afirmou.
“Eram todos pais de família”, afirmou um homem que mora na região há 35 anos e não quis se identificar. “A gente fica com medo de sair na rua, porque não sabe o que vai acontecer.”
No bar nesta sexta-feira, onde houve a chacina na quinta, as paredes estavam marcadas por disparos de calibre 380. Na calçada, ainda havia cápsulas deflagradas. Questionado se as cápsulas coletadas são de armas exclusivas das Forças Armadas, o secretário Moraes, afirmou que somente as de 9 mm. “As demais, não. O 38 e a 380 são de uso normal, não são usadas pela Polícia Militar. Por isso nós não estamos descartando nenhuma hipótese.”
Casas. Já a Rua Eurico da Cruz, onde morreu Eduardo Bernardino César, de 26 anos, é praticamente só de residências. A vítima caminhava às 21h40, quando foi abordado por dois criminosos em uma moto. “Era um trabalhador. Saiu para comprar salgadinho para a irmã e não voltou”, disse a tia da vítima que, 12 horas após o crime, ainda velava o corpo na via.
Um disparo perfurou a janela do porteiro Gilmar Araújo, de 45 anos. “Estava dormindo e acordei com o barulho dos tiros. Não consegui mais dormir”, contou. / COLABOROU JULIANA DIÓGENES
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