As árvores urbanas ajudam a reduzir o calor, sequestram carbono, melhoram a qualidade do ar e o bem-estar das pessoas. Mas, cada vez que uma chuva forte derruba galhos ou troncos inteiros, acabam se tornando as vilãs da história. As interferências na rede de fiação de energia elétrica estão entre os motivos apontados para apagões.
“A culpa sempre cai nelas. E não é a verdade: a culpa é da manutenção que não está sendo feita e do planejamento (do plantio) que não foi realizado”, diz a bióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Aline Cavalari, que vem estudando os fatores de risco de queda das árvores.
A Prefeitura afirma ter aprimorado o atendimento ao munícipe, reduzindo o tempo de espera para poda e retirada de árvore de uma média de 507 dias em 2017 para 54 dias em 2024. Já a Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na capital, diz realizar as solicitações de poda realizadas pela Prefeitura (leia mais abaixo).
O plantio de árvores de porte inadequado para o local, que entram em conflito com a fiação e sofrem constrição na base do tronco e das raízes por canteiros muito pequenos, além de podas erradas, que causam desequilíbrio, estão entre os problemas típicos das árvores da cidade encontrados pela especialista durante visita às ruas de Moema, na zona sul paulistana, acompanhada pelo Estadão.
O temporal que atingiu a cidade de São Paulo na última sexta-feira, 11, comprometendo o fornecimento de energia elétrica pela Enel para 3,1 milhões de imóveis, o que fez a empresa ser alvo de processo disciplinar aberto pelo governo federal. Houve queda de 386 árvores, segundo a Prefeitura, que afirma que as podas realizadas na cidade atenuaram o impacto das chuvas.
Conforme dados Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), órgão municipal, a cidade registrou a queda de cerca de 1,5 mil árvores - quase quatro vezes mais do que na semana passada- em 3 de novembro de 2023, quando houve volume de chuva menor e rajadas de vento menos intensas.
Zerar esse número pode ser difícil, principalmente quando há ventos acima de 80 km/h, mas ele pode ser reduzido, segundo especialistas. Aline aponta que a manutenção feita corretamente evita a maioria das quedas de árvores de grande porte.
São elas que causam os maiores estragos na fiação e podem até provocar mortes - na tempestade do dia 11 de outubro, duas pessoas foram atingidas por queda de árvore na capital, e uma morreu. Por outro lado, árvores grandes são importantes porque carregam mais serviços ecossistêmicos e ajudam a atenuar o efeito das ilhas de calor.
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Estudos realizados por pesquisadores da Unifesp, como Aline Cavalari, e também da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com a Prefeitura em anos recentes, mostram que, na capital paulista, árvores têm mais chance de cair em bairros mais antigos, onde elas envelheceram e foram alvo de um grande número de intervenções no subsolo.
Elas também caem mais nos chamados “cânions urbanos”, áreas mais verticalizadas em que prédios altos aumentam a velocidade dos ventos e criam restrições que prejudicam o desenvolvimento das árvores. Outros fatores de risco para a queda de árvores na cidade são o estrangulamento das raízes pelas calçadas e canteiros e podas drásticas.
Gerir a arborização de uma cidade do porte de São Paulo, que tem cerca de 650 mil árvores nas ruas, é um desafio. “A prefeitura, as companhias que têm contrato de manutenção, muitas vezes não dão conta de tanto problema”, acrescenta Aline.
Para a professora, a saída é contar com munícipes para solicitar a poda ou remoção de árvores que apresentam problemas - em São Paulo, pelo número 156 - e capacitar melhor os profissionais envolvidos na manutenção.
Com esta finalidade, ela coordena uma especialização em arborização urbana oferecida pela Unifesp, que já formou 250 profissionais atuantes em cidades de todo o País desde 2020. Tão importante quanto a manutenção é planejar o plantio.
“Saber a espécie escolhida para aquele lugar, determinar o espaço de plantio, que a gente chama de berço. A árvore tem de conviver com o munícipe e hoje ela convive com a fiação elétrica, com o calçamento para tentar sobreviver”, afirma a professora da Unifesp.
Apesar de a responsabilidade do fornecimento e dos reparos na rede de energia elétrica de São Paulo serem da Enel, a Prefeitura tem o dever de realizar a poda das árvores na cidade – mas algumas dessas podas demandam intervenção da Enel primeiro, ou seja, é uma demanda compartilhada.
Conforme dados da Prefeitura de São Paulo, havia na quarta-feira, 16, na cidade, 6.081 pedidos de podas de árvore que necessitam da intervenção prévia da Enel para afastar folhas e galhos que estão em contato com a rede elétrica em aberto. O número é quase o dobro do ano passado, quando eram 3.690 pedidos em aberto em novembro, mês do segundo pior apagão dos últimos anos.
A Enel, por sua vez, apresentou outros dados. Disse que “estão em aberto e dentro do prazo acordado cerca de 1,8 mil solicitações de poda realizadas pela Prefeitura, sendo dessas apenas 130 em atraso”. A empresa afirma também que “realiza reuniões semanais com representantes do Município para acompanhar esse trabalho”.
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