BRT, ciclovia, ônibus elétrico: o que SP precisa para ter menos congestionamento e fumaça?

Diversificar as opções de transporte, apostar em modais sustentáveis e reduzir o número de mortes em acidentes são desafios para a maior cidade do Brasil

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Foto do author Juliana Domingos de Lima
Por Juliana Domingos de Lima

Esta reportagem é parte da Agenda SP, conjunto de temas cruciais para o desenvolvimento da cidade de São Paulo. A Agenda SP estará presente em toda a cobertura do Estadão das eleições: reportagens, mapas explicativos, nos debates Estadão/ FAAP/ Terra, sabatinas com candidatos e no monitoramento semanal de buscas do cidadão paulistano

Corredores de ônibus, bilhete único no transporte público e avanço das linhas de metrô fizeram de São Paulo uma das protagonistas do debate sobre mobilidade urbana no País. Mas, para especialistas, a capital paulista precisa acelerar a implementação de soluções inovadoras e sustentáveis para oferecer transporte de qualidade e com menos impacto ambiental aos seus 11,5 milhões de habitantes.

Vista da Marginal do Tietê na altura da Ponte da Casa Verde, sentido zona leste  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Investir nos sistemas coletivos e na transição energética são prioridades. “O carro polui mais, causa mais congestionamento e mortes no trânsito, o que é uma grande epidemia”, diz Mateus Humberto, professor de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP.

Mas como melhorar o transporte público a ponto de incentivar o paulistano a deixar o automóvel na garagem? E como isso pode tornar os deslocamentos mais rápidos, seguros e reduzir congestionamentos?

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Ônibus melhores, mais rápidos e com menos custo

Investir no modelo BRT (Bus Rapid Transit) é uma solução para elevar velocidade média, frequência e precisão das viagens com o mesmo número de veículos e custo menor do que uma nova linha de metrô.

O BRT de São Paulo se limita ao Expresso Tiradentes, em operação desde 2007, que liga o centro ao Sacomã, na zona sul. Em abril deste ano, foi aberta a licitação para o BRT Aricanduva, na zona leste, mas o edital foi suspenso em junho para adequações.

Especialistas defendem ainda aperfeiçoar modelo de remuneração das empresas de ônibus. Segundo Bernardo Serra, do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) Brasil, cidades como Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre avançaram mais na forma de pagamento atrelado a quilometragem e custo do serviço. Isso, diz ele, melhora a eficiência e a oferta em áreas de demanda menor ou pendular.

A SPTrans afirma, em nota, que a fórmula usada desde 2019 considera o custo operacional e o cumprimento do serviço programado na semana-padrão, para “reequilíbrio dinâmico e ajustes de custos”. A remuneração às empresas em 2023 somou quase R$ 10 bilhões.

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O equilíbrio no orçamento do transporte é um desafio extra diante dos planos de tarifa zero, adotada aos domingos na capital desde dezembro de 2023. Parte dos candidatos defende ampliar a medida (leia mais abaixo).

Uma das preocupações é de que o investimento alto na gratuidade diminua a verba para melhorias no sistema. Outra ressalva é de que falta foco para a isenção da tarifa. Para Ciro Biderman, diretor da FGV Cidades, seria melhor estender o vale-transporte para desempregados e trabalhadores informais, o que direciona o benefício para os mais pobres.

Ônibus elétrico, biocombustível e menos poluição

A Prefeitura prometeu, em 2009, substituir toda a frota de ônibus por veículos movidos à energia limpa até 2018. Depois, a meta mudou para substituir 20% da frota até o fim de 2024. Mas, de cerca de doze mil ônibus, só 180 são elétricos à bateria.

São Paulo tem frota de ônibus elétricos menor do que outras metrópoles da América do Sul, como Bogotá e Santiago Foto: Werther Santana/Estadão

A compra de ônibus a diesel é proibida na capital desde 2022. No modelo atual, as concessionárias são responsáveis por bancar a troca, mas o elétrico custa, em média, três vezes mais. Com isso, a Prefeitura passou a subvencionar até 80% do valor. Além de menos poluentes, ônibus elétricos têm maior vida útil e custo menor de operação - com isso, a conta tende a se equilibrar depois.

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Em nota, a SPTrans diz que “as concessionárias estão firmando contratos para entregas de veículos movidos à energia limpa” e “a implantação de infraestrutura de carregamento” nas garagens.

O elétrico é a tecnologia verde mais madura, mas especialistas defendem abrir espaço para outras fontes, como biometano e hidrogênio a partir do etanol, em testes no Brasil.

Trecho próximo a ponte Cidade Jardim da Ciclovia do Rio Pinheiros Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mais ciclistas e pedestres; menos mortes

Para incentivar a mobilidade ativa, que inclui deslocamento a pé e de bicicleta, melhorar ciclovias e calçadas é crucial, mas demanda também segurança, iluminação pública e conforto térmico, como ter árvores e sombras.

“A escala de intervenção de uma rua ou ciclovia requer infraestrutura de menor custo: pintar um piso ou pavimentação adequada. Com um bom projeto pensado para pedestre, muitas vezes nem há custo adicional”, diz a pesquisadora Paula Rabelo, cujo doutorado na USP foi sobre o tema.

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Para Serra, o foco das estruturas para ciclistas e pedestres deve ser o entorno de estações de metrô, trem e terminais de ônibus, para integrar modais. Outra medida é reduzir o limite de velocidade para carros em vias próximas. O número de vítimas de acidentes é o maior desde 2016.

A Prefeitura diz ter criado 96 travessias elevadas em pontos críticos, 115 minirrotatórias para diminuir a velocidade de veículos, 2,8 mil novas faixas de pedestres e reduzido a velocidade de 50km/h para 40km/h em 24 vias.

Quais são os bons exemplos no exterior?

Desde 2018, Santiago, no Chile, tem ampliado a frota elétrica do transporte público. Isso se tornou possível porque, dois anos antes, um consórcio foi criado para avaliar barreiras de implementação, com estudos e testes operacionais para criar um arranjo institucional e um modelo de negócios sólidos.

As companhias de energia adquiriram os veículos e a infraestrutura, enquanto o operador dos veículos paga em prestações mensais, além de subsídios públicos. Pelo acordo, o fabricante fica a cargo da manutenção dos veículos na garagem e a companhia de energia mantém a infraestrutura de recarga. Hoje são 2.267 ônibus elétricos, quase seis vezes mais do que a capital paulista.

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Em Bogotá, na Colômbia, a estrutura da licitação também fez diferença: foram contratos separados para operação e fornecimento da frota, com possibilidade de formar consórcios para as duas frentes. Segundo o governo local, isso permite dar mais flexibilidade, sustentabilidade financeira e eficiência.

Já Sevilha é um exemplo de priorização da mobilidade ativa nos últimos 20 anos. A quarta maior cidade espanhola fomentou uma cultura ciclista ao construir rapidamente uma rede cicloviária bem conectada, hoje de 180 quilômetros, e ampliar seu serviço de aluguel, com 2,5 mil bikes compartilhadas e 260 estações.

Ampliar o espaço para ciclistas e pedestres é apontado por especialistas como uma maneira de melhorar a segurança no trânsito Foto: Marcos Muller/Estadão

O que os candidatos propõem na área de transporte e mobilidade (em ordem alfabética)

Guilherme Boulos

O candidato do PSOL pretende expandir corredores, BRTs e faixas exclusivas para ônibus. “Nossa prioridade será a construção dos corredores Aricanduva, Radial Leste (trechos 1,2 e 3), Miguel Yunes, M’Boi Mirim, Celso Garcia, Itaim-São Mateus (Perimetral Leste), Norte-Sul e Perimetral Bandeirantes (Bandeirantes – Tancredo – Salim Farah Maluf), além de outros previstos no Plano Diretor e no Plano de Mobilidade da cidade”. Sobre a adoção da tarifa zero nos ônibus municipais aos domingos, Boulos afirma que ampliará a gratuidade “com responsabilidade fiscal e garantindo frota adequada e de qualidade comavaliação dos contratos vigentes com as empresas responsáveis pelo serviço de ônibus em São Paulo”.

Sobre substituir a frota de ônibus por veículos com energia limpa, a campanha se compromete com metas. “O objetivo é tornar 50% da frota de ônibus híbrida ou elétrica. Já estamos em conversa com bancos de fomento, como o BNDES, para garantir o investimento inicial necessário para isso. Além disso, vamos incentivar a aplicação da Lei 15.997 para promover a política de incentivo ao uso de carros elétricos ou movidos a hidrogênio”, aponta.

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José Luiz Datena

Para o candidato tucano, os principais problemas de mobilidade na cidade são os congestionamentos e a violência. E promete rever os contratos das empresas que operam o sistema de transporte: “Vamos fazer auditorias em todos os contratos da administração municipal para afastar qualquer suspeita de conexão com o crime organizado e a corrupção. Será o programa Passando a Limpo”.

E promete revisão nos valores cobrados nas catracas: “Queremos tarifas justas para todos os usuários todos os dias da semana e não apenas tarifa zero num único dia da semana”.

Datena também propõe retomar campanhas educativas para diminuir o que ele classifica como “barbárie em que se transformou o trânsito na cidade, com cerca de mil mortes por ano”. Sobre a questão da eletrificação da frota, afirma que vai incentivar o uso de veículos movidos por outras fontes menos poluentes; estimular o transporte por bicicletas, ampliar e modernizar as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas; e, em parceria com o governo estadual, apoiar a expansão do transporte sobre trilhos e prevê ainda “tirar do papel o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do Centro”.

Marina Helena

A candidata do partido Novo afirma que pretende “transformar São Paulo num grande laboratório de inovação do transporte urbano”. E propõe mudanças na forma de contratação dos serviços de transporte: “vamos separar a empresa que opera o serviço da detentora do capital investido nos veículos. Hoje, para participar da licitação uma empresa precisa de milhões de reais alocados em centenas de ônibus. Como pouquíssimas empresas têm tanto capital, não há concorrência”.

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“A substituição da frota de ônibus a diesel é necessária, mas fazer essa troca colocando ônibus elétricos nas ruas é uma bobagem”, afirma a candidata. Sobre os entraves de infraestrutura para que o processo de eletrificação aconteça, a postulante ao cargo de prefeita, pondera que “o custo da construção das estações de energia e o risco de bairros onde o sistema elétrico pode sofrer instabilidades ao recarregar esses veículos não compensa. Defendemos a troca dos ônibus a diesel por ônibus a biometano, muito mais baratos e igualmente sustentáveis”.

Para desestimular o uso do carro e evitar sobrecarga do trânsito, Marina prevê novas modalidades de transporte como patinetes, mototáxis e carros por aplicativo compartilhados.

Pablo Marçal

Candidato do PRTB, o ex-coach afirma que incentivará os munícipes a consertarem suas calçadas e que pretende “resolver imediatamente os 30% que são de responsabilidade da própria Prefeitura”. E promete ainda melhorar a infraestrutura, sinalização, iluminação e faixas exclusivas, seja para ônibus, seja para bicicletas e incluir “tecnologia e inteligência artificial para que os sistemas de monitoramento auxiliem tanto na prevenção quanto na fiscalização do trânsito”.

Marçal cita ainda o transporte hidroviário como modal para agilizar os deslocamentos. Em maio deste ano a Prefeitura iniciou operação na represa Billings, Zona Sul, uma travessia com dois barcos que transportam 385 mil pessoas entre Grajaú, Cocaia e Pedreira. E promete ainda a instalação de teleféricos: “implementaremos também o modal teleférico que além de ser em torno de cinco vezes mais barato que, por exemplo, o metrô, para desenvolver o mesmo trajeto e quantidade de pessoas, evita gastos e tempo de desapropriação, além de ser ambientalmente positivo”.

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Ricardo Nunes

Candidato do MDB que busca a reeleição, Nunes aponta o quanto o gasto com transportes pesa no orçamento da população. “Deslocamento é o terceiro maior custo para as famílias de São Paulo – tanto entre as que usam o sistema público e pagam as tarifas quanto entre as que optam pelo meio individual, com combustível e manutenção”, afirma. O prefeito cita o congelamento da tarifa e a gratuidade aos domingos como pontos altos que devem ser ampliados. E afirma que a administração continuará investindo em novos modais, como a entrega do Aquático, sistema que faz a ligação por barcos entre os terminais Cantinho do Céu, no Grajaú, e Parque Mar Paulista, em Pedreira. “Um trajeto que era feito por ônibus em 1h20 e agora leva 17 minutos.”

Entre as ações que tem como objetivo diminuir a letalidade do trânsito, a campanha de Nunes cita a criação e ampliação da Faixa Azul, corredor iluminado e sinalizado que permite a livre passagem de motociclistas entre os carros: “hoje, são 145 km de faixas exclusivas para motos e, até o fim do ano, esse total deve chegar a 200 km. O programa será ampliado para outras vias, dobrando a abrangência. Serão instalados ainda boxes de recuo nas laterais das pistas”.

Na questão de eletrificação da frota de ônibus, a atual gestão afirma já deixou preparada a aquisição de 2.600 ônibus elétricos para a cidade, o que representa 20% da frota. E promete também a ampliação das ciclovias. Atualmente são 731 km de malha cicloviária e outros 358 km foram revitalizados. “E mais 158 km já estão licitados para a próxima gestão, além de 120 km projetados.”

Melhorar qualidade dos ônibus é um dos principais desafios em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

Tabata Amaral

A candidata do PSB diz que uma das primeiras medidas para reduzir a letalidade no trânsito será usar dados e tecnologia para entender onde os acidentes acontecem, mapear vias com mais mortes e fazer o redesenho viário dos trajetos. “Trabalharemos para a efetivação do Plano Municipal de Segurança Viária e, sob inspiração do programa sueco Visão Zero, investiremos em redesenho urbano e viário para atenuar o tráfego e melhorar as condições para os pedestres, com recuperação das calçadas”. Outra intenção é rever o tempo semafórico e ampliar os semáforos inteligentes, instalar lombadas, rotatórias e faixas de pedestre, priorizando pessoas com mobilidade reduzida e com deficiência.

Sobre as propostas e metas para melhorar o sistema municipal de ônibus, Tabata afirma que o objetivo é aprimorar o modelo de remuneração das empresas concessionárias e ampliar o leque de receitas com exploração de pontos comerciais em paradas, terminais e espaços de publicidade. “Um dos meios é promover o aumento da participação dos recursos da outorga onerosa da construção civil, via Fundurb, para investimento no transporte público coletivo.”

A deputada federal aponta que não pretende ampliar a gratuidade dos ônibus além dos domingos. “O custo estimado para a implementação de uma política dessa seria de R$ 10 bilhões. É inviável”, diz. Tabata afirma ainda que expandir a eletrificação da frota de ônibus e o uso de combustíveis menos poluentes está entre as propostas: “falaremos com o governo federal para garantir que em 2028 haja no novo contrato de distribuição de energia elétrica em São Paulo”.

Veja quais são as outras reportagens da série:

  • Educação - 07/8
  • Desafios econômicos - 09/8
  • Meio ambiente - 10/8
  • Urbanismo - 11/8
  • Centro de SP - 12/8
  • Segurança - 13/8
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