A Fábrica de Bares, empresa que faz a gestão do Bar Brahma e outros estabelecimentos de São Paulo, tem interesse em comprar o Girondino, tradicional café do centro paulistano, que fechou as portas no dia 3 de junho. Segundo os sócios da cafeteria, o encerramento das atividades foi motivado por problemas financeiros, uma vez que a casa viu o faturamento despencar após a pandemia.
Em conversa com o Estadão na tarde desta segunda-feira, 17, Álvaro Aoas, diretor do Fábrica de Bares, confirmou o interesse da empresa em adquirir o Girondino. Ele disse que as partes estão em negociação. Segundo o empresário, ainda não houve acordo por causa, entre outros motivos, de pendências financeiras da cafeteria com os proprietários do espaço.
O diretor diz não ter informações sobre valores, mas afirmou estar “otimista por um desfecho positivo”. Segundo Aoas, “há 50% de chances de dar certo”. A negociação deverá ter conclusão dentro de 10 a 15 dias, prevê o empresário.
Felippe Nunes, um dos sócios do Girondino, confirma negociações com a Fábrica de Bares, mas diz que também existem conversas com “outros grandes players do centro e outras regiões”.
No entanto, afirmou que até agora “não deu sequência (à negociação) com ninguém”. A estratégia interna dos sócios, continua, “é manter a marca viva do café no Centro Cultural Banco do Brasil - São Paulo (CBBSP)”, onde funciona uma unidade da cafeteria, na Rua Álvares Penteado.
A reportagem apurou que a Prefeitura de São Paulo teria ajudado na mediação das partes e aproximado o Fábrica de Bares do Girondino, depois do fechamento do café.
A Fábrica de Bares se apresenta como uma empresa que faz o desenvolvimento, gestão e operação de bares, restaurantes e casas de shows. O grupo tem por método adquirir espaços consagrados e populares de São Paulo e reabri-los após reforma e modernização do ambiente.
Foi assim com os bares Brahma, na esquina das avenidas São João e Ipiranga, em 2001; e o Bar Léo, entre os anos 2012 e 2013, outro tradicional ponto boêmio de São Paulo, situado na Rua Aurora, Santa Ifigênia - ambos no centro da capital.
Além de estarem à frente da administração do Bar Brahma e das unidades do Bar Léo, o portfólio de negócios da Fábrica de Bares envolve o Riviera, Blue Note, Jacaré Grill, Bar dos Arcos, entre outros estabelecimentos parceiros.
Se fechada a compra do Girondino, o empresário diz que manterá o nome e o mesmo aspecto da cafeteria, incluindo a manutenção do endereço onde funcionava desde 1998: no encontro das ruas São Bento e Boa Vista, no coração do centro.
“É um ponto muito tradicional e muito conhecido de São Paulo. As pessoas têm muito carinho pelo Girondino. Não seria inteligente da nossa parte alterar essa identidade”, diz. “Nosso trabalho (do Fábrica de Bares) é ressignificar lugares do centro de São Paulo”, diz Álvaro Aoas.
Espaço já foi ponto de encontro da elite
A cafeteria fazia homenagem ao antigo Café Girondino, fundado em 1875, na Rua 15 de Novembro com a Sé. O local já serviu no passado como ponto de encontro de barões do café e de jornalistas.
O Girondino ‘novo’ era vizinho de frente do Mosteiro de São Bento, outro ponto turístico da capital paulista, e se situava dentro dos perímetros do chamado Triângulo SP - ou Triângulo Histórico - que engloba o Largo São Bento, Pateo do Collegio e Largo São Francisco. Em 2025, a marca completaria 150 anos de história.
O local, apesar de turístico, se notabiliza também pelas cenas abertas de uso de drogas, após o espalhamento da Cracolândia, e pela alta incidência de assaltos e furtos contra lojistas e pessoas que frequentam a região.
Segundo Felippe Nunes, o café teve queda de mais de 60% de arrecadação nos anos seguintes à covid, e operava com 32 funcionários, aproximadamente um quarto do efetivo antes da crise sanitária, quando 120 pessoas trabalhavam na casa.
Bar Brahma foi alvo de pedradas em dezembro
Se assumir a gestão da cafeteria, a Fábrica de Bares vai lidar com um problema que já prejudica outros estabelecimentos sob seu guarda-chuva: o esvaziamento e a decadência da região central. A recorrência de roubos e o espalhamento dos usuários de drogas da Cracolândia têm ajudado a afastar clientes.
Um ataque a pedradas ao Bar Brahma, em dezembro do ano passado, mobilizou empresários da região a buscar melhores condições de segurança. O grupo de empreendedores tem tratado de cobrar o poder público por propostas para revitalizar a área e também comprar câmeras, por conta própria, para reforçar a vigilância na região.
A Prefeitura tem afirmado que realiza políticas para revitalizar o centro, incluindo o endereço onde funcionava o café, desde 2001.
Entre as estratégias citadas pela gestão Ricardo Nunes (MDB) estão o Programa Requalifica Centro, que concede incentivo fiscal e urbanístico para atrair investidores na recuperação de prédios antigos no centro, e a Lei do Triângulo e Quadrilátero, que isenta o pagamento de IPTU dos imóveis da região.
Em fevereiro, o Café Girondino foi um dos estabelecimentos contemplados com uma medida do governo estadual, que liberou linha de crédito de R$ 200 milhões para comerciantes da região. Na ocasião, Felippe Nunes comentou que o financiamento poderia ajudar até em uma possível expansão da cafeteria, com ampliação da equipe.
“Acreditávamos que teria uma retomada maior do centro, que as pessoas retornariam com maior velocidade. Mas como não teve a retomada como imaginamos, saímos de um plano de reestruturar a casa para um cenário de finalizar a operação, lamentavelmente”, disse o empresário.
A Secretária de Segurança Pública do Estado tem destacado o reforço no policiamento na região. Segundo a pasta, roubos e furtos caíram 31,9% e 21%, respectivamente, nos quatro primeiros meses do ano ante o mesmo período de 2023.
Sobre os usuários de drogas, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) informa que o Hub de Cuidados em Crack e outras Drogas, programa do Estado, atendeu cerca de 18 mil pacientes desde a sua implantação, em abril do ano passado.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.