Campos do Jordão e vazamento de gás: quais os riscos de um acidente desse tipo? Como prevenir?

Explosão deixou quatro feridos na noite de sábado, 22, de destruiu 10 dos 32 apartamentos do prédio

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Por Isabel Gomes

Uso de produtos regularizados, manutenção periódica e cuidados com a instalação do gás liquefeito de petróleo (GLP) são procedimentos que devem ser seguidos à risca para prevenir acidentes domésticos com o combustível. A explosão em Campos do Jordão que deixou quatro feridos na noite de sábado, 22, alertou para os riscos no manuseio e armazenamento do produto, comumente utilizado de forma doméstica no fogão ou no aquecimento da água.

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O episódio aconteceu no condomínio residencial Saint Ettiene. A explosão destruiu 10 dos 32 apartamentos e deixou quatro feridos. Conforme a Defesa Civil, uma mulher de 24 anos e uma adolescente de 14 tiveram ferimentos graves. Já uma mulher de 52 anos e outra garota de 14 ficaram feridas de forma leve. A suspeita é que a explosão tenha sido causada por vazamento de gás em uma das unidades do condomínio.

Segundo a capitã Lidiara Kurachi Lenarduzzi, diretora de prevenção da Defesa Civil do Estado , os riscos de acidentes causados por vazamento do produto dependem da dimensão de concentração do combustível no espaço, mas em todos os casos é preciso estar atento. A explosão é ocasionada pelo acúmulo de gás em um ambiente. O vazamento ainda pode provocar incêndio ou colapso da estrutura do imóvel.

Para prevenir este tipo de acidente, a recomendação da especialista é que seja feita a checagem da procedência e do estado dos equipamentos utilizados. Seja dentro da própria casa ou em uma hospedagem, como uma casa de temporada, é preciso verificar o encaixe da válvula de saída do gás, além da qualidade dos itens. A capitã chama a atenção para a necessidade do selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que certifica o produto para o seu devido fim, e para o período de validade do teste hidrostático, que aparece no caso do botijão.

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A recomendação é endossada pela sargento Ana Flávia Batista, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que alerta para outros parâmetros que precisam ser verificados. “O botijão tem de estar íntegro, sem danificações. A mangueira não pode estar muito esticada nem dobrada, e é preciso observar a válvula também. Todo o conjunto tem de estar em perfeitas condições. Se estiver danificado visualmente já há indicação de problema”, explica. Em caso de algo incorreto, é necessária a troca dos itens.

Uma das sugestões da sargento para testar se há vazamento é o popular teste do detergente. É preciso passar uma esponja úmida com detergente, na região onde há o encaixe da válvula de gás. Se aparecerem bolhas na espuma, a conexão entre botijão e válvula está inadequada. No caso de espaços comerciais, como hotéis, a própria vistoria dos bombeiros deve dar conta se há alguma inconformidade na central de GLP.

Explosão de prédio em Campos do Jordão deixa feridos e apartamentos destruídos. Foto: Gerson Monteiro/Estadão

Cuidados dentro de casa

A escolha do local do botijão em casa também é uma medida estratégica de segurança. As especialistas explicam que, idealmente, o objeto deve ficar em uma área externa, com ventilação. Entretanto, o espaço deve ter proteção contra as ações do tempo, como uma área coberta, para evitar a ação da chuva ou de sol diretamente, segundo a sargento Ana Flávia.

Se não houver saída e o objeto precisar ficar em ambiente externo, a ventilação segue como um requisito para instalação segura. “O botijão não pode ficar confinado. Se for apartamento, coloque na lavanderia para tentar ter essa ventilação”, alerta a capitã Lidiara. Portanto, locais como armários, gabinetes, vãos de escada são totalmente desaconselhados.

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Também é preciso estar atento para que o botijão não fique muito próximo de ralos. Por ter maior densidade do que a do ar, o gás tende a descer e, caso se acumule em um cano, por exemplo, há risco de explosão. Da mesma forma, não é indicado que o objeto fique muito perto do fogão, nem a instalações elétricas, indica a sargento Ana Flávia. Já em caso de fornecimento de gás central, a manutenção e a vistoria dos equipamentos utilizados devem ser feitas de modo regular pela administração do condomínio para evitar acidentes.

Outra ação de segurança recomendada pelas especialistas é cessar a alimentação de gás sempre que possível, especialmente ao sair de casa durante longos períodos, como uma viagem. Assim, mesmo se houver algum fator que possibilite o vazamento de substância, há menor risco de acidente. “A gente indica que, se não vai mais utilizar - terminou de fazer o jantar, por exemplo - que feche a alimentação do gás. Vai usar no dia seguinte, abre de novo. Às vezes a válvula está próxima, o manuseio é fácil, então é recomendado tomar essa atitude de cuidado”, explica a diretora de prevenção da Defesa Civil de São Paulo.

O que fazer se houver vazamento?

A suspeita de vazamento de gás se dá, sobretudo, pelo cheiro do produto no ambiente. “O GLT, assim como o gás natural, é quimicamente odorizado, justamente para que a pessoa sinta o cheiro em caso de vazamento. É proposital para que se tenha esse cuidado”, explica a capitã Lidiara. Quando sentir o odor de forma significativa, o primeiro passo é criar uma circulação de ar no ambiente, abrindo portas e janelas, como forma de evitar acúmulo de gás e, consequentemente, uma explosão. Em seguida, é necessário cortar a alimentação do produto, fechando a válvula do botijão ou o registro do gás central.

Também não é indicado riscar fósforo, nem acender ou apagar luzes. A faísca dentro de um equipamento elétrico pode ser o gatilho para uma explosão. Embora o GLP não seja gás tóxico, é recomendado ainda se afastar do ambiente onde há o vazamento, pois a inalação em grande quantidade pode ser prejudicial ao corpo humano, provocando náusea ou desmaio, por exemplo.

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O auxílio de profissionais não deve ser dispensado. “Se estiver sentindo o cheiro muito forte, ligue para o serviço de emergência. O corpo de bombeiros atende este tipo de emergência e pode dar orientações até a distância”, indica a capitã Lidiara.

A sargento Ana Flávia enfatiza a recomendação, lembrando que, em casos de condomínios, a empresa responsável pela manutenção do fornecimento de gás no prédio também pode ser acionada.

Confira as dicas de prevenção de acidentes com gás doméstico:

  1. Compre gás apenas das empresas credenciadas e cheque o estado do botijão ao recebê-lo, observando se há alguma danificação. Se houver, solicite a troca.
  2. Tenha o mesmo cuidado com outros equipamentos, como a mangueira e a válvula, verificando a procedência e a data de validade. Em caso de gás central, esteja atento para a manutenção regular feita pelo condomínio.
  3. Não coloque os botijões em compartimentos fechados e sem ventilação. Na área externa, é preciso uma proteção contra chuva e outras ações naturais.
  4. Nunca instale o botijão próximo a ralos. Por ser mais pesado que o ar, o gás pode se infiltrar em seu interior e explodir.
  5. Caso o registro do gás ou a válvula do botijão fiquem a fácil alcance no dia a dia, feche-os após o uso, para evitar vazamentos. A medida também é recomendada em caso de períodos longos fora de casa.
  6. Se sentir cheiro de gás, corte a alimentação do combustível e abra portas e janelas, para ter ventilação. Não ligue interruptores, tente sair do ambiente para não inalar o produto e acione o Corpo de Bombeiros (telefone 193).
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