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Brasileiras presas após troca de malas: viajantes dizem se sentir ‘vulneráveis’ e reforçam cuidados

No aeroporto de Guarulhos, procura por envelopamento de bagagens cresce 20% após o caso, segundo empresa

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Por Isabel Gomes
Atualização:

O episódio das duas brasileiras presas na Alemanha após terem as malas trocadas por outras contendo drogas acendeu o alerta sobre a segurança das bagagens despachadas em viagens aéreas e tem deixado viajantes apreensivos. Com a preocupação, muitos passageiros vêm reforçando os cuidados, como forma de evitar possíveis ocorrências de perda, roubo ou alteração no conteúdo.

No Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde as malas das goianas Kátyna Baía e Jeanne Paolini, tiveram as etiquetas retiradas, segundo as investigações da Polícia Federal, cresceu a procura pelo serviço de envelopamento de bagagens. De acordo com Fabio de Barros Silva, gerente de operação das lojas Protect Bag, que oferece o serviço em 15 quiosques no aeroporto, o movimento aumentou 20% após a repercussão do caso.

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“No dia seguinte (divulgação da troca das malas), a gente já observou que houve crescimento. Os clientes deixam claro que a escolha é por conta desse episódio e relatam medo e receio, por isso que estão fazendo a plastificação”, afirma o gerente de operação.

O envelopamento de malas é uma das formas de proteção que passageiros podem adotar como forma de evitar furtos, extravios ou outras ocorrências em aeroporto, conforme indicam especialistas. Registrar, em foto ou vídeo, todo o processo de montagem e despacho da mala e optar por bagagens coloridas, com cadeados embutidos, também estão entre as recomendações.

Grande parte das dicas de especialistas já é seguida pela advogada Mariana Perins, de 41 anos, que geralmente viaja ao exterior três vezes por ano para visitar a família. Entretanto, após saber do episódio da troca de malas, a advogada sentiu receio, especialmente porque costuma viajar sozinha e despachar até duas malas, e decidiu, então, reforçar os cuidados com as bagagens para a próxima viagem, que deverá acontecer em três semanas, com destino para Alemanha.

Mariana relata que sempre teve malas coloridas, que é uma recomendação de segurança dada por especialistas para facilitar a identificação do objeto em caso de perda ou roubo, e que costuma usar cadeado. Agora, pretende redobrar os cuidados fazendo vídeos e aderindo ao serviço de envelopamento.

“Vou colocar alguns adesivos como estes de geladeira, bem grandes, na mala, e passar o celofane no aeroporto. Também pretendo filmar todo o processo, desde montar a mala em casa até o peso na balança principalmente na hora de despachar. Eu acho que evita? Não. Não acho. Não sei qual é o esquema utilizado para a escolha do alvo, mas eu acredito que pode dificultar”, diz a advogada. “São medidas paliativas, não resolvem, mas dão uma dificuldade”, complementa.

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O sentimento de Mariana é compartilhado pelo defensor público Vladimir Koenig, de 44 anos, que mora em Belém e costuma viajar com frequência a São Paulo e ao Rio de Janeiro com a esposa. “Quando a mala está comigo, ninguém chega perto, mas no momento em que eu a colocava sob a guarda da companhia aérea eu relaxava. Esse evento me deixou preocupado, porque eu não tenho o domínio sobre a bagagem, e se acontecer algo eu só vou descobrir depois que trocarem (as malas).”

O defensor público, que já tinha os cuidados básicos como uso de malas com adereços e com cadeado embutido, afirma que também irá adotar o hábito de gravar a colocação da mala na esteira da companhia aérea, o peso registrado pela balança e a etiqueta concedida pela empresa. Ele ainda pretende ampliar o uso da tag de rastreamento, que já tem no carro e na mochila, também nas bagagens, como forma de prevenção a perdas.

A ideia, segundo ele, é criar um conjunto de recursos que possam ajudá-lo em caso de uma situação como a vivida pelas goianas em Frankfurt, mas que o contexto o faz se sentir “fragilizado” . “Eu vou ter que juntar vários elementos, vídeo, fotos, tag de rastreamento, para tentar provar que eu não faço parte desse esquema. Isso me deixou muito preocupado. A gente fica em uma posição de extrema vulnerabilidade. [...] Eu me sinto fragilizado como viajante.”

Ministério Público apura falha de segurança no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Foto: J.F. Diorio/Estadão

Relembre o caso

A polícia alemã apreendeu no início de março duas malas com 20kg de cocaína cada, etiquetadas com os nomes de Jeanne e Kátyna, e elas foram presas.

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A base para a libertação das brasileiras na terça-feira, 11, após mais de um mês na prisão, foram as imagens que mostram as bagagens sendo trocadas durante uma escala em Guarulhos. Segundo a Polícia Federal, um dia antes do embarque das duas brasileiras, outra goiana teve a etiqueta da mala trocada por bagagem com drogas ao viajar para Paris, na França, mas não foi presa.

Vídeos obtidos pelo Fantástico, da TV Globo, mostram como dois funcionários do aeroporto identificam as duas malas de Kátyna e Jeanne, uma rosa e uma preta, separam e, discretamente, retiram a etiqueta delas em uma área de segurança e de acesso restrito que é monitorada por várias câmeras.

Em outro vídeo, duas mulheres chegam ao aeroporto com duas malas de cores diferentes por volta das 20h30. Seriam as malas que continham os 40 quilos de cocaína, segundo a polícia. As duas vão até um guichê de companhia aérea após um sinal da única funcionária que está no local, deixam as malas e saem em seguida do aeroporto, sem embarcar para qualquer destino. As duas malas são levadas para o mesmo veículo onde estão as malas de Kátyna e Jeanne e a troca é feita.

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A Operação Iraúna da PF já prendeu sete pessoas por envolvimento no caso.

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