Cemitérios de SP passam para gestão privada: planos vão de limusine a hologramas

Vinte e dois cemitérios municipais passam nesta terça-feira a ser geridos por concessionárias do serviço funerário. Empresas preparam mudanças, que vão do atendimento ao sepultamento

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

Atendimento via WhatsApp, cortejo com limusine, aplicativo próprio, hologramas decorativos em velórios. Os 22 cemitérios municipais da cidade de São Paulo, além de um crematório público, devem ter novidades a partir desta terça-feira, 7, data que marca o início da gestão desses espaços pelos quatros consórcios vencedores da concessão dos serviços funerários e cemiteriais oferecidos pela capital paulista.

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A mudança afeta alguns dos mais tradicionais cemitérios da cidade, como o do Araçá, na zona oeste, e o da Consolação, na região central. Até então, eles ainda estavam sendo geridos pela Prefeitura, em uma espécie de período de transição desde janeiro. Agora, ocorre oficialmente a “passagem de bastão” da gestão municipal para os consórcios, e cada uma deles passa a administrar blocos de cinco a sete locais.

Além da gestão dos cemitérios, as concessionárias podem trabalhar ainda com serviços funerários em toda a cidade. “Uma vez que a gente tem o teto de cobrança pela tabela (da licitação), a gente quer fazer com que a concorrência entre elas possa gerar o bom serviço, o bom atendimento”, disse em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, 6, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

As agências de atendimento irão mais do que dobrar a partir desta terça: passam de dez para 23. A Prefeitura prevê acompanhar de perto esse processo de expansão, até para evitar golpes de terceiros durante as mudanças na oferta dos serviços. “Nós iremos atuar fortemente com qualquer tipo de reclamação para que a gente possa ter as ações muito rápidas”, disse o prefeito. A Ouvidoria, afirmou, será peça central na fiscalização.

A mudança afeta alguns dos mais tradicionais cemitérios da cidade, como o do Araçá (foto), na zona oeste, e o da Consolação, na região central  Foto: Felipe Rau/Estadão

O valor do funeral social ficará fixado em R$ 566,04, uma redução de 25% em relação a antes. As gratuidades estão mantidas para grupos específicos, como aqueles que recebem menos de meio salário mínimo ou os que tenham se cadastrado no Sistema de Atendimento do Cidadão em Situação de Rua (SisRua) no último ano. A gestão projeta R$ 2,1 bilhões em benefícios econômicos para a cidade até o fim da concessão, que dura 25 anos.

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Investimento em tecnologia no atendimento

Da parte das quatro concessionárias, a expectativa é renovar os serviços e investir em tecnologia no atendimento. “A gente quer, logo de cara, trazer uma melhoria no atendimento, na prestação do serviço – seja nas agências, por telefone ou in loco, em hospitais”, disse Juraci Pimentel, diretor-presidente da Velar SP. A empresa administra os cemitérios do bloco 4: Freguesia do Ó, Itaquera, Penha, São Luiz e São Pedro, além do crematório de Vila Alpina, o único municipal de São Paulo.

De acordo com os consórcios, os objetivos passam, neste primeiro momento, por melhorar os serviços mais básicos e aumentar o leque de opções para velórios e sepultumentos. “A gente tem hoje, na parte de cortejo, uma frota estimada em 45 veículos, que vão desde veículos padrão a veículos de luxo”, disse Pimentel. “Tem algumas famílias que, ao procurar o serviço, preferem fazer o cortejo em um veículo mais específico, de luxo. Então a gente tem Mercedes, vai ter limusine no nosso portfólio.”

Outro ponto é que o consórcio prevê disponibilizar, já nesta terça, um aplicativo para que clientes acompanhem o status dos serviços prestados. Além disso, o diretor-presidente da Velar SP afirma que estão previstas melhorias nas condições de banheiro, fraldário e vestiário; revitalização dos cemitérios; disponibilização de Wi-Fi gratuito para todos os clientes; além de segurança 24 horas, inclusive com serviços de ronda motorizada.

As obras estruturais devem ficar para um segundo momento, já que ainda dependem de aprovação dos projetos pela Prefeitura. Conforme o edital, as intervenções devem ser finalizadas em até quatro anos após o início da concessão. Além das reformas, três novos crematórios devem ser criados: um primeiro em Vila Formosa I, na zona leste (bloco 1), outro que deve ser construído junto ao cemitério Dom Bosco, na zona norte (bloco 2) e um terceiro, no cemitério de Campo Grande, na zona sul (bloco 3).

A maior parte dos consórcios planeja adiantar a construção dos crematórios. “A previsão para o início da construção (do crematório de Vila Formosa I) será em meados de 2024, com duração de dez meses”, afirmou Maurício Costa, diretor-presidente da Consolare (Consórcio Atena). A empresa administra os cemitérios do bloco 1: Quarta Parada, Santana, Tremembé, Vila Formosa I e II e Vila Mariana. Além do Cemitério da Consolação, o mais antigo da cidade.

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Além da gestão dos cemitérios, como o do Araçá (foto), as concessionárias podem trabalhar ainda com serviços funerários em toda a cidade Foto: Felipe Rau/Estadão

O primeiro momento, disse Costa, terá como foco obras emergenciais. “Principalmente as voltadas para a recuperação de telhados, redes de energia, iluminação e ventilação, redes hidrossanitárias, focando na parte de banheiros e bebedouros, adequações nas instalações das administrações e agências”, disse. Mas há também a previsão, nos próximos meses, de abertura de um e-commerce e canais de agendamento online de salas de velório e sepultamentos.

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A previsão do diretor de Operações do Grupo Cortel, Rodrigo Macedo, também é ter o crematório funcionando para a população em um tempo menor que o prazo contratual. “A gente quer em, no máximo, dois, três anos estar com esse crematório (do cemitério Dom Bosco) já em operação”, disse. O grupo administra os cemitérios do bloco 2: Araçá, Dom Bosco, Santo Amaro, São Paulo e Vila Nova Cachoeirinha.

Há 60 anos no ramo, a empresa quer também variar as opções de serviços de velório e sepultamento, com uso inclusive de hologramas. “A gente pretende, num futuro próximo, ter salas de velórios com tecnologias que fazem uma cerimônia de despedida mais interessante, que deem um pouco mais de valor àquele momento. Há salas de velório com chuva de pétalas de rosa, com projeção nas paredes em 360º”, afirmou. “Alguns dos serviços podem demorar um pouco mais, porque carecem de intervenções físicas nas salas de velório, mas os que não precisam a gente vai ofertar já.”

Um outro foco, disse Macedo, será no atendimento mais flexível. “A forma como a população de São Paulo é atendida hoje pelo serviço funerário vai mudar drasticamente”, afirma ele, que prevê um investimento de cerca de R$ 100 milhões ao longo dos próximos anos. O plano é que os diálogos com clientes possam ocorrer via WhatsApp e por outros canais do grupo. “Hoje, se alguém perder um parente em São Paulo, necessariamente tem que se dirigir a uma das agências funerárias do município”, disse. Na nova gestão, os representantes, caso acionados, poderão se deslocar até o cliente para atendimento.

Entre outras novidades, serão cerca de 30 opções de urnas de sepultamento para as famílias escolherem. Outro ponto é que, a partir do ano que vem, o grupo prevê não realizar mais sepultamentos no chão nos cemitérios Dom Bosco e Vila Nova Cachoeirinha, em que esse modelo é usado atualmente. “A gente vai transformar todas as covas em gavetas”, afirmou. Isso, segundo Macedo, propiciará um melhor aproveitamento do espaço, o que aumenta no mínimo em quatro ou cinco vezes a capacidade desses locais.

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Além dos blocos citados, há ainda o 3, gerido pelo Consórcio Cemitérios e Crematórios SP (Grupo Maya). Essa concessão inclui os cemitérios Campo Grande, Lageado, Lapa, Parelheiros e Saudade. “O foco do consórcio será no atendimento, priorizando o acolhimento dos enlutados, com empatia para o momento que os usuários dos serviços funerários e cemiteriais estão passando”, disse Felipe Amorim, diretor-executivo do Grupo Maya. A empresa irá focar ainda, segundo ele, em limpeza, conservação e segurança dos cemitérios, bem como em capilaridade no atendimento.

Concessão foi alvo de críticas no ano passado

Como mostrou o Estadão no fim de junho do ano passado, o edital de concessão dos serviços cemiteriais de cemitérios e crematórios públicos e serviços funerários de São Paulo chegou a ser suspenso por cinco vezes pelo Tribunal de Contas do Município (TCM). Houve críticas também do Procon, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e até do Ministério Público, que entrou com ação direta de inconstitucionalidade durante a elaboração do edital.

Na ocasião, a Prefeitura afirmou que tudo isso foi debatido com a equipe técnica. Após as idas e vindas, o edital foi publicado no Diário Oficial em meados do ano passado, após incorporar mudanças sugeridas pelo órgão de fiscalização. Um conceito importante do projeto é que a gestão municipal fixou uma tarifa máxima que pode ser praticada aos serviços já existentes. Também exigiu requalificação completa dos cemitérios e digitalização de 100% dos registros, inclusive os já existentes.

Veja abaixo os cemitérios de cada um dos quatro blocos da concessão e os consórcios vencedores:

Bloco 1: Consolare (Consórcio Atena)

Quarta Parada, Santana, Tremembé, Vila Formosa I e II, Vila Mariana, Consolação

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Bloco 2: Consórcio Cortel São Paulo

Araçá, Dom Bosco, Santo Amaro, São Paulo e Vila Nova Cachoeirinha

Bloco 3: Grupo Maya (Consórcio Cemitérios e Crematórios SP)

Campo Grande, Lageado, Lapa, Parelheiros e Saudade

Bloco 4: Velar SP (Consórcio Monte Santo)

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Freguesia do Ó, Itaquera, Penha, São Luiz, São Pedro e Vila Alpina (crematório)

Conforme a Prefeitura, os endereços das agências funerárias e sites das concessionárias podem ser consultados no atendimento telefônico pelo 156, Portal 156 e sites oficiais do Serviço Funerário Municipal de São Paulo (SFMSP) e da SP Regula, bem como nos sites e telefones das concessionárias.

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