Diante da movimentação dos usuários de drogas da Cracolândia e da alta de roubos de celulares pela chamada “gangue das bicicletas” pelas ruas do centro da cidade, o governo de São Paulo planeja criar uma batalhão policial especial para patrulhar a região e ocupar os espaços com novas sedes de agrupamentos da Polícia Militar.
A criação do novo batalhão está prevista para fevereiro de 2024. O número de soldados e a modalidade de atuação ainda estão em estudo. A opção mais provável é um batalhão da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) para atuar contra os assaltantes de bicicletas.
“Tudo indica que o novo batalhão será formado por motocicletas. É uma modalidade que tem mais agilidade para atender qualquer tipo de ocorrência na região central”, afirmou o vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), ao Estadão.
No caso da “gangue das bicicletas”, os bandidos atuam quase sempre da mesma forma. Quando há concentração de pessoas, eles circulam à espera de algum alvo pelas ruas e calçadas. No momento em que o pedestre se distrai com o aparelho celular em mãos, o ladrão arranca o item da mão da vítima com a bicicleta em movimento. Em geral, um segundo bandido atua para atrapalhar a reação da vítima. É nessa perseguição pelas ruas e vielas, por exemplo, que as motos podem ser mais ágeis e rápidas que as viaturas.
Levantamento do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) aponta que o Estado de São Paulo teve média 950 registros por dia de roubos ou furtos de celular no ano passado. O Estadão mostrou como atuam as gangues de ladrões de bicicletas do chamado “Bonde do Elevado” que quebram vidros de carros, no Viaduto Júlio de Mesquita Filho, na região da Bela Vista.
O lançamento desse novo agrupamento no centro aguarda a formação de policiais que estarão na academia ao longo do segundo semestre. Em março, o governo autorizou a abertura de editais para a contratação de 5.600 novos policiais militares. O centro é a região prioritária de atuação.
A SSP afirma que já incorporou 120 policiais militares no efetivo operacional para patrulhar a área central, a pé e por motocicletas, além de estacionar viaturas em locais de maior incidência de crimes.
Sedes de batalhões vão se mudar para o centro
Também para tentar frear a alta de roubos, estão previstas mudanças de sede de unidades já existentes para a região central. A nova sede da 2ª Companhia do 7º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (7 BPM/M) deverá ocupar as imediações da Rua 7 de Abril a partir do final do mês de agosto. Além disso, a corporação está em tratativas adiantadas para a transferência da sede da Companhia de Força Tática do mesmo batalhão à rua Vitória.
As novas sedes estarão nas proximidades da concentração de dependentes químicos da Cracolândia, que hoje está na Rua dos Gusmões com a Avenida Rio Branco. O Estadão apurou que a mudança de endereço está diretamente relacionada à tentativa de fortalecer o policiamento na região.
Os planos do poder estadual se somam às iniciativas municipais. No início do mês, 400 Guardas Civis Metropolitanos (GCM) passaram a reforçar o policiamento na região central de São Paulo. O poder municipal vem ampliando a Atividade Delegada, convênio com o Governo de São Paulo para que policiais militares reforcem o policiamento durante suas folgas. Das 2.400 vagas do convênio, cerca de 1.500 estão na região da Subprefeitura da Sé.
O espalhamento dos dependentes químicos tem sido um problema para as gestões municipal e estadual há mais de um ano, quando uma ação policial expulsou dependentes químicos e traficantes da praça Princesa Isabel. O chamado “fluxo” ocupou o espaço por cerca de três meses após dispersão da praça Julio Prestes, região ocupada por mais de três décadas.
Em julho, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desistiu de tentar transferir o fluxo de usuários para o Bom Retiro, como havia cogitado na terça-feira, 18. A ideia inicial do governador era aproximar os dependentes do Complexo Prates, equipamento municipal de saúde que apoia usuários e pessoas em situação de rua. Tarcísio recuou diante das reclamações de comerciantes da região, de críticas de especialistas em segurança pública e também da posição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) que afirmou não ter sido consultado sobre a mudança.
No início do mês passado, o governo de São Paulo já havia tentado remover o fluxo do centro. Relatos de líderes sociais e profissionais de saúde apontam que a Polícia Militar, a Polícia Civil e a GCM conduziram o fluxo da Rua dos Gusmões até a ponte Orestes Quércia, na Marginal do Tietê, em um caminho de cerca de três quilômetros. No fim da operação, os usuários fugiram do local e retornaram ao centro.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.