Moradora da zona oeste de São Paulo, Renata Pupo, de 49 anos, planejava ter um carnaval tranquilo neste ano, longe dos blocos da capital. No fim da tarde do último sábado, 18, saiu de carro com as filhas, de 7 e 11 anos, para passar a data na Praia do Camburizinho, em São Sebastião. Uma amiga, que tem uma casa por lá, havia a convidado.
“Não cheguei a checar (a previsão do tempo), simplesmente fiz as malas e fui”, diz Renata, que hoje estuda Psicologia. Sempre gostou de ir ao litoral norte, região que frequenta e conhece desde a infância. “Foi uma viagem tensa, estava uma chuva muito forte, mas não cogitei voltar. Você imagina que vai pegar um trecho de chuva e uma hora passa.”
Ao chegar na Praia do Camburizinho, ela passou no supermercado para comprar comida e foi até a casa em seguida, localizada em um condomínio rente à Rodovia Rio-Santos. Lá, fez janta para as filhas e as colocou para dormir. Estavam sozinhas, e o plano era que a amiga só chegaria a São Sebastião no dia seguinte. Mas isso não chegou a acontecer.
“Liguei para o meu marido para falar como tinha sido a viagem por volta de 23h30. Quando fui ver, estava entrando água pela porta da frente. Tentei colocar algo para conter, mas foi aí que percebi que a água estava entrando também em outras portas”, afirma. Foi nesse momento que ela ligou o primeiro sinal de alerta. “A chuva estava muito forte, não parava.”
Uma hora depois, a água estava passando do rodapé da casa. Ao ver aquilo, Renata ligou para a amiga para saber o que podia fazer. “Tentei limpar, colocar móvel para cima, tinha até peixe dentro de casa”, conta. Dois funcionários do condomínio a ajudaram a levar os pertences para um pequeno mezanino da casa, sem banheiro. As filhas passaram a dormir de forma improvisada por lá.
‘Vi a cama boiando’
Depois de receber ajuda, Renata também tentou descansar um pouco, imaginando que a situação poderia melhorar ao longo da noite. “Quando deu 4h30, acordei num sobressalto. Olhei para baixo e pensei que a água não tinha subido para cima da cama”, relembra. “Quando olhei melhor, vi a cama boiando. A água estava na altura da mesa de jantar. Nesse momento, fiquei apavorada.”
Sem saber o que fazer, ela desceu às pressas para pedir socorro aos vizinhos. “Abri a porta e comecei a gritar por socorro no meio da madrugada. Dois vizinhos apareceram dizendo que estavam na mesma situação”, disse. Desde então, ela não dormiu mais, e passou a procurar alternativas do que fazer. A bateria do celular estava prestes a acabar.
“Eu precisava tirar minhas filhas dali, era tudo que pensava”, conta. Foi quando descobriu que a casa de um casal de vizinhos ficava em um patamar mais alto do condomínio e não estava sendo invadida pela água. “Sabendo que eu estava com criança, eles me ofereceram ajuda e fui com minhas filhas para lá. Um vizinho levou minha caçula no colo.”
Renata ficou até terça-feira, 21, com as filhas na casa do casal, sem conseguir sair dali. Foi no supermercado por dois dias, até finalmente conseguir comprar mantimentos. Ficou cinco horas na fila para isso. “Fui 5h30 da manhã para ficar na fila (o supermercado abria às 7h), só assim consegui”, afirmou.
Nesta terça, Renata aproveitou uma pequena brecha na chuva e finalmente conseguiu voltar a São Paulo. Ela, com as filhas em um carro. O casal de vizinhos, em outro veículo. Subiram até a capital paulista pela Rodovia dos Tamoios. “Tinha mais de 50 deslizamentos pelas estradas, fomos contando no caminho”, disse. Após quase 7h de viagem, estava em casa com as filhas. “Parece que vivi uma semana em poucos dias.”
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