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Cidade de SP aposta em ampliação de faixas para motos para reduzir acidentes; veja lista de avenidas

Segundo trecho da ‘faixa azul’ entrou em operação na quinta passada. Prefeitura defende segurança da medida no tráfego

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Foto do author Priscila Mengue

Um projeto-piloto com 29 quilômetros de faixa prioritária para motocicletas é a grande aposta da Prefeitura para reduzir os acidentes e mortes no trânsito de São Paulo. O segundo trecho da chamada “faixa azul” está em operação desde a quinta-feira, 6, na Avenida dos Bandeirantes, além do primeiro, na Avenida 23 de Maio. O objetivo é incluir também as Avenidas Santos Dumont, Tiradentes, Prestes Maia e Rubem Berta entre o fim deste ano e o início de 2023.

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A proposta tem distinções da experiência testada na gestão Gilberto Kassab (PSD), como a localização entre a primeira e a segunda faixa de rolamento, a manutenção dos mesmos espaços para os carros e ser preferencial (não exclusiva) para as motocicletas.

A equipe do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem apontado dados iniciais de reduções nos acidentes de trânsito após a implantação na 23 de Maio. A medida divide opiniões entre especialistas, que falam ser insuficiente para resolver as altas taxas de mortes de motociclistas no trânsito.

Faixa preferencial para motocicletas foi implantada na Avenida dos Bandeirantes, em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

O objetivo é criar um eixo contínuo do centro à zona sul. Os demais trechos autorizados para implantação e operação pela Secretaria Nacional de Transportes (Senatran), em caráter experimental, abrangem as Avenidas Santos Dumont, Tiradentes e Prestes Maia (entre a Ponte das Bandeiras e a Praça da Bandeira), no centro, com 4 quilômetros; e a Avenida Rubem Berta, entre o complexo viário João Jorge Saad e a Avenida dos Bandeirantes, com cerca de 2 quilômetros. A liberação para testes é válida por um ano.

O recém-implantado trecho da Avenida dos Bandeirantes abrange ambos os sentidos, entre a Marginal do Rio Pinheiros e o Viaduto Ministro Aliomar Baleeiro, incluindo a Avenida Afonso D’Escragnolle Taunay, com cerca de 8,5 quilômetros, totalizando 17 quilômetros. Já o da 23 de Maio foi o primeiro, implementado em janeiro, entre a Praça da Bandeira e o Complexo Viário Jorge João Saad, no sentido Santana/Aeroporto, com 6 quilômetros de extensão.

As vias foram selecionadas entre aquelas com maior registro de fluxo e acidentes com motocicleta. A 23 de Maio, por exemplo, é a quarta com maior circulação de motociclistas (cerca de 50 mil por dia), atrás apenas das marginais e da Radial Leste.

Percurso

O projeto definiu que a faixa azul fica entre a primeira e a segunda faixa de rolamento, para que as motos não tenham contato tão próximo com veículos pesados e pedestres. Além disso, consolida um tipo de percurso já usualmente feito pelos motociclistas.

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A faixa azul é preferencial e indicada aos motociclistas especialmente nos horários de maior engarrafamento. A sua implantação não prevê nenhum tipo de multa e o uso não é obrigatório.

Diferentemente da 23 de Maio, que tem características de via expressa, a Bandeirantes exigiu uma implantação complementar com semáforos em quatro cruzamentos e que considere o maior fluxo de pedestres na região. Além disso, por segurança, foram proibidas conversões à direita em dois pontos e implantadas áreas de espera para motos nos semáforos do trecho (entre os carros e a faixa de pedestres).

Segundo a Prefeitura, 95 acidentes no novo trecho em Operação, nas Avenida dos Bandeirantes e Afonso D’Escragnolle Taunay, entre 2019 e 2022, com 10 mortes e 85 feridos, além de seis atropelamentos.

No caso da 23 de Maio, o Município identificou que 86% dos motociclistas utilizam a faixa azul, e houve queda nos números de acidentes leves, sem registro de eventos graves no âmbito da área delimitada.

Tentativa anterior

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Entre 2006 e 2010, iniciativas semelhante foram aplicadas na cidade. Porém, foi descontinuada com a justificativa de que teria aumentado o engarrafamento. Diferentemente do atual modelo, o anterior reduziu o número de faixas para carros. Um relatório da própria Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), de 2019, chegou a recomendar que o projeto não fosse retomado.

“Tais vias apresentaram elevação dos números de acidentes, mesmo quando o resto da cidade apresentava reduções tanto do número de ocorrências, quanto de vítimas geradas. O sistema proposto foi incapaz de isolar totalmente os motociclistas dos demais usuários, visto que as interações no sistema viário, tanto as previstas quanto imprevistas, são constantes. Os motociclistas ficaram ainda com a ilusão de segurança deixando-os ainda mais expostos aos riscos bem como todos os demais usuários de tais vias”, diz um trecho.


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Espaço para motos fica entre a segunda e a terceira faixa de rolamento. Foto: Werther Santana/Estadão

Segundo estimativas da CET, cerca 1,3 milhão de motos circulam na cidade diariamente.

Segundo o diretor de planejamento e projetos da CET, Luiz Fernando Devico Romano, o projeto poderá ser ampliado para ainda mais vias não divulgadas após janeiro, quando o Senatran avaliará o período de um ano de experiência do trecho da 23 de Maio. A prioridade será para locais com maior fluxo, de ao menos 1 mil motos por hora, ao menos três faixas de rolamento e que permitam intervenções urbanas simples para o alargamento da via (como estreitamente de canteiro central, por exemplo).

Ele descreve a iniciativa como uma forma de organização do fluxo, que estaria acalmando a relação por vezes tensa entre motos e carros. Diz, inclusive, que a média de velocidade das motocicletas caiu na 23 de Maio por permitir um fluxo mais contínuo, sem tanto zigue-zague. “A moto é muito vulnerável.”

Devico afirma que o Município tem mantido um diálogo com as empresas de entrega por motocicleta para difundir medidas de prevenção a acidentes e discutir que não seja estimulado o tráfego em situações de imprudência. Um exemplo que relatou foi de um dia em que uma empresa estimulava entregas mais rápidas sob chuva, justamente quando a direção deve ser mais cuidadosa.

Ele diz que a medida é de saúde pública, não de priorização de um meio de transporte. Em comparação, cita que há quase 700 quilômetros de vias voltadas às bicicletas na cidade. “Não é um estímulo. As motocicletas já estão aí e é preciso tratar. Há três anos, quem mais morre no trânsito de São Paulo é o motociclista, a maioria jovens de 18 a 24 anos. E a pandemia trouxe justamente gente para a moto.”

O projeto começou a ser elaborado em setembro de 2021, inspirado em experiências na Malásia e na Austrália. No mundo inteiro, a moto se tornou problema de saúde pública, com vítimas fatais e com sequelas permanentes, diz. “Estamos ordenando esse fluxo, melhorando, diminuindo o conflito entre automóvel e carro. A gente foi juntando um pouco de cada ação e adaptando o projeto para São Paulo.”

Gil Almeida, presidente do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP), disse que o projeto tem melhorado a segurança da categoria. “É uma luta de décadas por esse modelo de corredor, para organizar o trânsito, tentar reduzir número de acidentes fatais.”

Riscos e benefícios

Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e membro do conselho de transportes de São Paulo na época da avaliação da medida, acredita que a faixa estimula o aumento da velocidade. “Você dá um limite para que passem muito mais rápido e assim as ocorrências de trânsito ficam mais graves, com colisões mais fortes.”

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“A gente já argumentou que as (novas) motofaixas não têm características suficientes para serem diferentes das anteriores”, disse. “Na nossa visão, isso é insistir no erro que já ocorreu anteriormente.”

Já Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, doutor em Engenharia com foco em Mobilidade Urbana, acredita que a iniciativa pode dar certo. “Eu vejo com bons olhos, mas sempre lembro da questão de fiscalização e educação, porque simplesmente só fazer a faixa não é suficiente, é preciso também de um trabalho educacional. Quando há uma parada nas faixas dos automóveis, a velocidade para a exclusiva da moto também tem de ser reduzida. Porque qualquer troca a 50 ou 60 km/h traria um risco muito grande de acidentes.” COLABOROU FABIO TARNAPOLSKY