Como ataque a pedradas no Bar Brahma mobilizou empresários por segurança na Avenida São João

Grupo se junta para cobrar poder público e quer instalar mais câmeras na região; para eles, atrair mais atividades de lazer e cultura são saídas para revitalizar o centro de São Paulo

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Eternizada pela música de Caetano Veloso, o encontro das avenidas São João com a Ipiranga também abriga a mobilização da comunidade diante dos problemas da região. Donos de restaurantes, bares e hotéis se juntam para buscar melhores condições de segurança, um dos principais desafios para quem trabalha perto da esquina mais famosa da cidade, que completa 470 anos nesta semana.

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Além de atuar coletivamente para pressionar o poder público, o grupo de empreendedores quer instalar câmeras de segurança particulares, por conta própria, e promove mais atividades culturais como contraposição à violência.

Com grandes eventos, esperam começar a mudar a imagem de insegurança. A ocupação - dizem eles e também os urbanistas - ajuda a revitalizar a área. Um dos exemplos é o fechamento da São João nesse domingo para veículos, quando um trecho de 1,5 km da via só abriu para pedestres e ciclistas. Foi um teste para avaliar se o Município replica o modelo já adotado na Avenida Paulista e na Liberdade.

“Nós nos mobilizamos como comunidade na São João. Vamos como grupo agora, não mais individualmente”, explica Cairê Aoas, 39 anos, um dos sócios do Bar Brahma, endereço icônico com 75 anos de história no centro.

Cairê Aoas, sócio do Bar Brahma, se juntou a outros empresários para pensar em saídas para a Avenida São João e entorno, no centro de SP Foto: Helcio Nagamine/Estadão

A ideia com as câmeras é registrar delitos em andamento e acionar autoridades. A iniciativa ainda está em análise para não ferir a violação da privacidade dos pedestres e a Lei Geral de Proteção dos Dados (LGPD).

O projeto corre paralelamente ao plano do poder municipal de instalar mais de 200 câmeras no centro para ajudar a reconhecer foragidos da justiça e identificar possíveis desaparecidos.

Pela 1ª vez, Avenida São João testou modelo de fechamento para carros aos domingos, como ocorre na Paulista e na Liberdade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A gota d’água para uma mobilização foi exatamente a depredação do Bar Brahma, em dezembro, depois que frequentadores da região reagiram a uma tentativa de furto. Imagens da depredação viralizaram nas redes sociais.

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Foi a primeira vez que o estabelecimento sofreu um ataque nessa proporção. Na região da República, segundo comerciantes ouvidos pelo Estadão, costuma ser frequente a atuação de gangues de bicicleta, focadas em furtos de celular.

Hoje com 39 anos, Cairê frequenta a região desde jovem, quando ia visitar o avô, dono de uma lojinha de canetas e relógios no centro histórico. O pai, Álvaro Aoas, foi um pioneiro com o bar São Paulo Antigo, endereço que remetia à capital do começo do século 20 e apostava na boa música ao vivo.

Em 2001, ele assumiu o Bar Brahma. Nos últimos anos, pai e filho montaram a Fábrica de Bares, que inclui endereços paulistanos icônicos, como Riviera, o Bar Léo, o Filial, Jacaré Grill e o Bar dos Arcos.

Três pilares para o centro

“Depois do que ocorreu no Bar Brahma, temos um grupo que envolve empresários de duas quadras com os hotéis da Ipiranga, da rua dos Timbiras, os restaurantes da São João, além de moradores, comerciantes e trabalhadores”, conta empresário Fábio Redondo, que está à frente da rede Buenas Hotéis, com sete empreendimentos na região central.

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“Temos outras regiões com demandas específicas, como a rua das motos, a Santa Ifigênia. Também temos essa preocupação abrangente, atuando no Centro Velho e Centro Novo”, afirma ele, também vice-presidente da Associação Pró-Centro.

Os empresários se falam em grupos do aplicativo de mensagens, para trocar informações, e se reúnem de forma presencial pelo menos uma vez por mês. “A estratégia de reocupação do centro passa por três pilares: comércio, turismo e moradia. Tivemos avanços nos últimos meses na questão da segurança pública, limpeza e zeladoria. Estamos fazendo ações para trazer as pessoas de volta”, afirma.

O cenário é de expectativa, opina José Renato Bonventi, de 56 anos, idealizador e proprietário do Shopping Moto e Aventura, também na São João. Seu estabelecimento, relata ele, vem dando prejuízo nos últimos anos.

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Por outro lado, comemora ter alugado duas lojas no final de 2023. São dados que apontam em direções opostas, mas que ele acredita ilustrar a transição. “O navio está vindo, mas ainda não chegou. Quando vai melhorar? Não sabemos”. O navio, em sua metáfora, é a tão revitalização do centro.

Estado e Prefeitura dizem reforçar segurança

A Secretaria de Segurança Pública, em nota, diz atuar para revitalizar o centro. Até novembro, informa, houve “queda de 7,2% nos furtos e redução de 16,4% dos roubos, em comparação com o mesmo período de 2022″. Foram presos ou apreendidos 5.983 infratores, alta de 26,8% ante o ano anterior.

Afirma ainda que reforçou o policiamento ostensivo e preventivo, com mais 120 PMs nas ruas. Além disso, “destacam-se as operações da Polícia Civil no enfrentamento ao crime organizado, como a bem-sucedida “Operação Resgate”, que no dia 12 fez 89 prisões na região.

Em nota, a Prefeitura afirma que intensificou a zeladoria na região, “com varrição três vezes ao dia, bem como a coleta de resíduos”. Além disso, aponta que o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) foi reforçado, com 1,6 mil agentes no centro.

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