A negociação que antecedeu a rendição do guarda civil Henrique Marival de Souza, que matou a tiros o secretário adjunto de Segurança e Controle Urbano de Osasco, Adilson Custódio Moreira, de 53 anos, foi delicada e mobilizou uma força-tarefa da Polícia Militar. Cerca de três horas se passaram entre o começo e o fim da ocorrência. Ao todo, 168 agentes foram mobilizados na ocorrência desta segunda-feira, 6, além de 23 viaturas.
Entre os equipamentos utilizados pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da PM, teve papel importante uma tecnologia israelense de nome Xaver, espécie de scanner que permitiu aos policiais enxergar a mancha de calor de quem estava dentro da sala onde os disparos foram efetuados, na prefeitura de Osasco, região metropolitana de São Paulo.
Foi esse equipamento, adquirido em 2021 pela PM, que permitiu que os policiais observassem que Moreira já não estava se mexendo. Uma chamada de vídeo feita com o atirador e a quantidade de disparos relatados por testemunhas – teriam sido ao menos 10, embora ainda não se saiba quantos atingiram a vítima – também foram importantes para o melhor atendimento da ocorrência. A polícia, então, mudou de rota.
”Esse conjunto de informações fez a gente ter certeza de que ele (Moreira), infelizmente, estava morto”, disse ao Estadão o comandante do policiamento de Choque, o tenente-coronel Valmor Racorti, um dos agentes que coordenaram a ação em Osasco. “Se a gente percebesse que tinha alguma possibilidade de vida, teria que fazer a invasão. Mas, percebendo que não havia, a gente mudou a estratégia”, acrescentou.
Entenda mais sobre o caso
Segundo o comandante, o Gate chegou já preparado para tentar fazer a invasão da sala em que estava o atirador – a informação inicial era de que havia reféns. Já estavam se posicionando no prédio da prefeitura e arredores, relatou Racorti, um arrombador tático e até um sniper. “Tem de ser tudo muito rápido nessas ocasiões, e cada um já sabe o que fazer”, disse o tenente-coronel.
Quando houve a constatação da morte do secretário adjunto e de que não havia outros reféns, o foco passou a ser em preservar a integridade dos policiais e do próprio atirador. Os negociadores, então, começaram o processo de convencimento para a rendição de Henrique Marival de Souza, em argumentação feita principalmente por telefone e que passou por altos e baixos.
“Quando chegamos lá, ele estava bastante nervoso, fora si. Mas a racionalidade foi voltando, a pessoa acaba se arrependendo”, disse Racorti. A equipe do Gate, então, orientou o atirador a acionar um advogado, que foi até lá para garantir a integridade de Souza. Os dois fizeram uma chamada de vídeo, com acompanhando da polícia, definindo os termos da liberação.
“Existe um protocolo de rendição: a gente fala que ele vai se encontrar com um operador com uma balaclava, para não se assustar, como ele deve deixar a arma para não oferecer risco a quem vai entrar, entre outras informações”, disse o comandante. Henrique Marival de Souza se entregou por volta das 20h. Ele foi conduzido em uma espécie de escolta até o carro, de forma a evitar linchamentos. Nesta terça-feira, 7, a Justiça converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva após audiência de custódia.
Mudança de função teria motivado ataque
Segundo as investigações preliminares, Souza se revoltou com uma mudança de funções decidida pela sua chefia e anunciada por Moreira. Ele deixaria de integrar a equipe de segurança pessoal do agora prefeito Gerson Pessoa (Podemos) para voltar a atuar nas ruas.
“Houve descontentamento da parte dele por sair de uma função burocrática administrativa, que ele estava em uma escala de segunda à sexta, das 8h às 17h, e passaria a executar uma escala de 12 por 36 – trabalhar 12 horas e descansar 36″, disse o comandante da Guarda Civil Municipal de Osasco, Erivan Gomes.
O velório do secretário adjunto da prefeitura de Osasco teve início às 8 horas da manhã desta terça, na sede da gestão municipal. A cerimônia começou restrita aos amigos e parentes. Às 10 horas, foi aberta ao público.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.