Assim como tantas cidades no Estado de São Paulo, Espírito Santo do Pinhal, a 192 km de distância da capital, cresceu com o café. Mas, muito mais do que só a produção do grão, a cidade tem hoje também atividades relacionadas à produção do vinho.
Tudo começou em 2001, quando um grupo de especialistas percebeu que a região, a menos de três horas da capital, também era propícia para o cultivo da uva. O negócio cresceu e atualmente Espírito Santo do Pinhal conta com dez vinícolas em operação.
No centro da cidade, a herança da época cafeeira é vista nos casarões do final do século XIX, no Theatro Avenida, construído por três cafeicultores, e na Estação Ferroviária, criada justamente para carregar os grãos pelo Estado.
Nas fazendas, os mais de 950 produtores de café mostram como o grão ainda é a base econômica do município. Dessas, cerca de 12 fazendas investem no Turismo do Café. Um dos passeios mais completos - e uma das primeiras experiências turísticas da cidade envolvendo o café e a história local - é o “Genoma à Xícara”.
“A ideia é a gente conhecer todo o caminho que o café percorre até chegar às xícaras. Afinal, Pinhal é considerado o maior cluster (cadeia) de café do mundo, temos todo o trade de corretores, exportadores, armazéns gerais, cooperativas, torrefações, e é preciso preservar nossa cultura e história, valorizando os envolvidos”, explica a engenheira agrônoma Andrea Squilace, criadora do passeio.
Tudo começa no centro da cidade, bem em frente ao Palácio do Café - que hoje é a Prefeitura - com Andrea explicando a importância histórica de Espírito Santo do Pinhal. “Somos o maior produtor de máquinas para café do mundo, exportamos para 120 países. Para ter uma noção, a cada dez xícaras de café tomadas no mundo, oito passam, pelo menos, por uma máquina de Pinhal”, garante.
Dali, cada turista segue Andrea pelas ruas da cidade em seu próprio carro, com a companhia de um “walkie-talkie”, no qual ela vai contando detalhes da história e das construções vistas no caminho. Ao chegar na fazenda, o visitante aprende as maneiras de colher e abanar o café e até pode experimentar um pouquinho desse processo. Para finalizar, todos se sentam numa mesa com bolos e pães para desfrutar de um café feito na hora por Andrea. Tudo leva cerca de três horas.
No Brasil são produzidas duas espécies de café: o Arábica e o Canéfora. Dentro do guarda-chuva do Canéfora, temos as variedades Conilon e o Robusta, que não têm as característica sensoriais que o Arábica possui e são mais fáceis de produzir. “Já no guarda-chuva do Arábica, temos as variedades que encontramos mais nas cafeterias: o Bourbon, Catuaí Amarelo, Catuaí Vermelho, Mundo Novo, Arara, Tucaí... cafés muito mais exigentes, que devem ser plantado acima de 800 metros de altitude, e que têm as características sensoriais”, detalha ela.
É bonito ver o amor de Andrea contando a sua história durante o passeio. “Quando eu nasci, meu pai já plantava café. Então, falo que é uma história de vida”, conta ela. “Cresci no meio da lavoura, venda, colheita, o cafezinho maduro, grãozinho maduro.”
Quando ela se formou engenheira, percebeu que as cadeias não se conversavam. “O produtor não sabia o que estava se passando no mercado e o mercado não sabia o que custava para o produtor produzir o café.” Assim, em 2004, passou a fazer um roteiro para mostrar para os consumidores o caminho que o café percorre até chegar a uma xícara.
Outros sabores de café
Nas outras fazendas da cidade, o passeio funciona parecido com o que seria o enoturismo para as vinícolas. É possível visitar as plantações, tirar dúvidas sobre os processos e, depois, degustar os resultados finais.
Na Fazenda Nova Cintra, por exemplo, o visitante paga R$ 130, conhece grande parte dos 860 hectares, incluindo a observação da colheita, que é dividida em 30% manual e 70% mecanizado.
Tudo é feito em uma kombi ou caminhonete, com paradas estratégicas para fotos e explicações. Além da cultura do café, que inclui plantações de grãos Bourbons, Mundo Novo e Catucaí, o passeio também tem visita às árvores milenares da fazenda e degustação de cinco tipos de mel que também são produzidos por ali.
A fazenda, criada em 1905 e comprada há 30 anos pela família Barbosa, era familiar e tinha produção 100% dedicada à venda. Mas, os proprietários decidiram abrir o espaço há um ano e oferecer visitas de duas horas aos turistas. “Nosso objetivo é mostrar um pouco da nossa fazenda e fazer com que as pessoas entendam a importância de todo o processo”, conta a proprietária Ana Lúcia Barbosa.
De acordo com o gerente Wilson Leandro Porreca, a maioria dos turistas busca conhecer uma fazenda em funcionamento e a cultura do café, mas também se encanta pela paisagem e pela degustação inclusa. “Essa época de maio a setembro é a melhor para visita, pois dá para ver com perfeição cada etapa da colheita”, diz.
Outras opção de turismo é feita pela Terra de Kurí, uma experiência voltada para o sensorial, especialmente o olfato e o paladar. Ou ainda na Toca do Kaynã, que além do tour do café oferece o do fubá de moinho de pedra.
Entre taças e xícaras
Em 2001, um grupo de estudiosos percebeu que o terroir (conjunto de características do solo) da região era também propício para a uva. “Existe uma correlação muito forte da produção da uva com o café por causa do clima, da altitude e do solo, então as duas se complementam, inclusive coincidem as safras, tanto o café quanto a uva são colhidas aqui em junho e julho, justamente pela transferência de safra da uva do verão para o inverno”, explica Fabrizia Zucherato, diretora executiva da Guaspari, a primeira a chegar na região.
“A cultura de produção de uva e vinho na região tem criado uma oportunidade para a nossa região de desenvolvimento muito interessante. E ver outras vinícolas chegarem por aqui, para nós, é um orgulho, faz parte da nossa missão produzir um dos melhores vinhos do mundo com o desenvolvimento regional. Para que onde nosso vinho vai, nossa cidade vai junto. Então, acreditamos nesse modelo de negócio, onde todos possam crescer e se desenvolver juntos”, garante ela.
No momento, a vinícola está passando por reformas - que devem durar até junho - e o único passeio possível é a degustação dos vinhos Guaspari (R$ 290), de quinta a domingo, às 10h30 ou às 15h30.
Hoje, a cidade conta com outras nove vinícolas em operação e outras tantas em projeto. Algo que fez aumentar a busca por turismo em Espírito Santo do Pinhal. Aqui você pode anotar alguns dos lugares que fazem parte da rota do vinho e café.
Uma das vinícolas que chegaram recentemente por ali é a InnVernia, que se destaca em oferecer a experiência do visitante plantar a própria parreira em setembro (R$ 290). “O nosso maior propósito é que as pessoas venham até nós e levem a experiência da InnVernia pra casa”, conta o sócio-proprietário Marcelo Luchesi.
“O meu sócio Eduardo sempre gostou muito de vinho e a gente começou a ver o potencial que Espírito Santo do Pinhal poderia ter, então decidimos vir pra cá. E o nosso diferencial é a experiência. Aqui você pode adotar sua videira, colher lavanda, girassol... O vinho te permite se transportar, viajar e é isso que a gente quer”, explica ele.
Quem visita o local pode degustar as cinco opções de vinho e fazer o tour do espaço por R$ 190 por pessoa.
Serviço
- Do Genoma à Xícara
Passeio custa R$ 150 por pessoa e é feito todos os dias sob demanda do turista. Para agendar:
Instagram: www.instagram.com/dogenomaaxicara
WhatsApp: (19) 99921-1272
- Fazenda Nova Cintra
Endereço: Av. Padre Mateus Von Herkhuizen, 1400
Visitas: quintas, sextas e sábados, das 8h às 17h
Mais informações: www.instagram.com/faznovacintra
- Vinícola Guaspari
Endereço: R. Pedro Ferrari, 300
Mais informações: www.vinicolaguaspari.com.br
- Vinícola InnVernia
Endereço: Rodovia SP-342, 204
Visitas: De quinta a domingo, das 10h às 17h, mediante agendamento
Instagram: www.instagram.com/innvernia
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.