Após dez anos de negociações, o restauro do Edifício Copan está mais perto de começar e, enfim, viabilizar a retirada da tela que esconde grande parte da icônica fachada. O projeto apresentado por uma empresa contratada pelo condomínio foi parcialmente aprovado e chamado de “excelente” pelos órgãos municipais de patrimônio, com a versão final a ser entregue ainda neste ano.
Criado por Oscar Niemeyer, com colaboração de Carlos Lemos, o edifício completa 70 anos de início da construção no ano que vem. Ao longo dos anos 2000, tem convivido com problemas de manutenção da fachada, como infiltrações, queda de pastilhas, descaracterização, desprendimento de concreto e até exposição da armadura, o que foi constatado em laudos e até denunciado a órgãos de patrimônio.
Embora o novo projeto tenha sido bem recebido no Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) e no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o síndico do Copan é cauteloso ao falar sobre a situação. Responsável pelo condomínio desde 1993, Affonso Celso Prazeres de Oliveira diz ainda procurar parcerias para a obra, por ter apenas uma parte dos milhões de reais do custeio. Ainda não há data de início.
Os órgãos de patrimônio municipais têm destacado, contudo, que ao menos as medidas mais emergenciais precisam ser iniciadas logo. Em reunião do Conpresp em agosto, foi ressaltado um trecho do projeto. “Embora o levantamento não aponte riscos estruturais para o edifício, em alguns pontos, como nos pilares da fachada sul e escadas de serviço, é possível verificar pontos críticos, com alto grau de deterioração do concreto e suas armaduras, que necessitam de tratamento urgente”.
Na ocasião, a proposta foi aprovada de forma unânime, com a exigência de apresentação dos relatórios das etapas das obras emergenciais. O arquiteto Valdir Arruda, do DPH, chegou a explicar que propostas de anos atrás não foram acatadas por envolverem materiais muito distantes do original, como pastilhas de vidro brilhosas. Além disso, abrangiam apenas a fachada voltada à Avenida Ipiranga, enquanto a nova é para toda a área externa.
Em novembro de 2019, o conselho havia acertado a entrega do projeto em março do ano seguinte – mas com a pandemia o prazo não foi cumprido. Embora seja um dos trabalhos mais conhecidos de Niemeyer, o edifício é tombado apenas no âmbito municipal (desde 2012) e não há processo de preservação em estudo nas esferas estadual e federal (de acordo com a Secretaria da Cultura e o Iphan). Portanto, do ponto de vista de patrimônio (o que não inclui outras permissões para obras), o restauro só depende de liberação do Conpresp e do DPH.
De fissuras a desagregação de concreto, Copan tem patologias diversas
Um diagnóstico feito em 2019 identificou patologias variadas no conjunto. Dentre elas, “intervenções errôneas” que descaracterizam a fachada, corrosão da armadura, fissuras, infiltrações, colônias biológicas e desagregação de concreto, dentre outras.
“A maior parte dos problemas é fruto da idade da edificação, falta de manutenção e algumas possíveis falhas executivas (...). A presença da umidade é um fator que acaba por agravar as manifestações patológicas, ampliando o ciclo de degradação”. E a progressiva queda do revestimento, “que funcionava como barreira protetora ao concreto, permite a entrada de umidade”, diz o levantamento.
Com base no material e em avaliações próprias, o Instituto Pedra elaborou o projeto de restauro com medidas separadas entre urgências (a fim de garantir a segurança do edifício e dos moradores, funcionários e frequentadores) e de médio e longo prazo. Entre as de aplicação imediata estão a recuperação dos revestimentos da fachada e a impermeabilização da marquise.
O projeto também sugere a retomada do monitoramento anual das fundações. Isso porque o diagnóstico apontou que as fissuras na fachada principal possivelmente decorrem do já conhecido afundamento do edifício (problema identificado ainda durante a construção).
A médio prazo, o Copan precisará lidar com a descaracterização cometida pelos proprietários dos apartamentos, que trocaram vidros por materiais completamente diferentes (coloridos ou foscos), retiraram cobogós, criaram janelas inexistentes, instalaram ar-condicionado sobre os brises e até fecharam áreas abertas com tijolos. Todas as intervenções terão de ser revertidas mais adiante. Ao todo, o edifício tem 1,6 mil apartamentos, além de lojas, uma antigo cinema e escritórios.
Outra indicação é a remoção das grades que envolvem a escada externa que dá acesso ao terraço. A indicação é a troca por uma estrutura com fechamento transparente, a fim de facilitar a visualização do projeto original.
Arquiteta-coordenadora no Instituto Pedra, Mariana Victor lembra que o projeto tem o objetivo de ser “conservativo”, a resolver o que precisa ser consertado. A fase atual dos trabalhos, diz, é de desenhos técnicos, quantificação de serviços e orçamento. A estimativa é de que as obras emergenciais levem de um ano e meio a dois anos, a depender da capacidade de investimento do condomínio. Segundo a arquiteta, o edifício poderá funcionar normalmente durante os trabalhos.
Outro ponto que destaca é a entrega de um caderno de conservação e boas práticas, que irá orientar os moradores sobre quais intervenções podem ser feitas na parte externa. “É importante ter diretrizes para instalações de janela, de ar condicionado. Isto gera toda uma noção de que aquele prédio precisa ser conservado, que é um bem tombado que faz parte da paisagem da cidade.”
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