Cracolândia atrai gente de fora de SP e ‘renova’ concentração de usuários de droga

Metade dos pacientes que buscam tratamento para dependência química em centro do governo estadual frequenta cenas de uso de entorpecentes há menos de um mês

PUBLICIDADE

Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

A chegada de novos usuários à Cracolândia tem desafiado a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Dos 28,8 mil atendimentos ao longo do último ano do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, centro de atendimento, triagem e direcionamento dependentes químicos, 54,7% declaram que estão frequentando as cenas abertas de uso há menos de um mês.

PUBLICIDADE

Entre os pacientes do hub, 30% frequentam a região há mais de um ano. Situado na Rua Prates, na região da Estação da Luz, o Hub serve como porta de entrada de urgência e emergência para pessoas que apresentam quadros agudos de dependência química.

“A Cracolândia está em constante renovação. Isso não é um fenômeno atual. Ele já existia. Ainda atrai pessoas que querem consumir drogas e se esconder da família, da polícia. Temos de acabar com esse círculo vicioso”, afirmou ao Estadão o vice-governador Felicio Ramuth (PSD).

Ele está à frente de uma ação conjunta entre os poderes estadual e municipal nas cenas abertas de uso em São Paulo. Diante da dificuldade de resolver o problema, que se estende há mais de três décadas, cresce a cobrança sobre a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Concentração de usuários de drogas na Rua dos Protestantes, no centro Foto: Werther Santana/Estadão

Uma das estratégias para diminuir o que o vice-governador chama de “influxo” à região é o aumento do uso da tecnologia de monitoramento. “Vamos mostrar que cada vez mais o centro está monitorado e assistido”, diz o vice-governador sem detalhar as próximas ações.

Publicidade

A renovação da principal cena aberta de uso da capital também tem relação com a chegada de usuários de outros pontos da cidade. Entre os que buscaram ajuda na hub, 24,5% vieram da região metropolitana; outros 2,4% são de outras cidades paulistas.

Descumprimento de medidas judiciais

De acordo com dados do governo estadual, 60% dos frequentadores da Cracolândia estão descumprindo medidas judiciais, como a progressão de pena ou a espera de julgamentos em liberdade, por exemplo. Além disso, 150 pessoas que circulam pela região são consideradas desaparecidas.

Atualmente, a principal concentração de usuários e dependentes químicos está na Rua dos Protestantes, entre Santa Ifigênia e Luz. Segundo balanço do Estado, 400 usuários estão na Cracolândia durante o dia; outros 1,1 mil estão lá no período noturno. Ramuth afirma que houve redução de 20% a 30% no número de usuários no último ano.

“Anos atrás, existiam várias concentrações de usuários, como a Praça da Sé. Existia um espalhamento; hoje há uma concentração. Se a gente contar todos os usuários, o resultado é uma diminuição. Temos 20% a 30% a menos de usuários”, afirma.

Dois anos atrás, uma megaoperação policial provocou a dispersão de usuários e traficantes da Praça Princesa Isabel. Cerca de 650 homens, das polícias Civil e Militar, Guarda Civil Metropolitana e funcionários da Prefeitura, desencadearam uma ação para retirar as barracas, lonas e tendas que estariam sendo usadas pelos traficantes para disfarçar o comércio de drogas.

Publicidade

Pessoas em situação de rua também ocupavam a praça. Depois disso, os grupos se dispersaram e chegaram a ocupar 11 pontos diferentes da cidade.

Mais vagas para internação

Os pacientes passam por avaliação clínica multidisciplinar e, quando necessário, são encaminhados para hospitais especializados, outros tipos de unidades de saúde e acolhimentos terapêuticos. As vagas em hospitais especializados saltaram de 150 para 641; nas comunidades terapêuticas, há 700 leitos.

A Secretaria de Estado da Saúde informa foram realizados 28,8 mil atendimentos na recepção de pronto atendimento. Deste total, 16 mil receberam cuidados, sendo 11,5 mil pessoas encaminhadas para tratamento de dependência química.

O local ainda oferece acompanhamento de atenção psicossocial para pacientes que já passaram pelo período de internação. Com quadros mais estabilizados de dependência química, o objetivo é auxiliar no processo de reinserção social.

Ramuth afirma que o hub vem cumprindo seus objetivos. “Ele tem cumprido os objetivos de atendimento individualizado. Temos muitos resultados para comemorar, mas temos muitos por fazer”.

Publicidade

Já a Secretaria Municipal da Saúde, da gestão Ricardo Nunes (MDB), afirma ter 102 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), distribuídos em 33 equipamentos da modalidade Infantojuvenil (IJ), 34 para atendimento à população adulta e 35 do tipo Álcool e Drogas (AD). Os Caps IJ e os Caps AD, direcionados, respectivamente, para a população infantojuvenil e adulta,.

“São equipamentos integrados por equipes multiprofissionais, incluindo médicos, psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem, agentes redutores de danos, oficineiros e demais profissionais de apoio, que trabalham de forma integrada com outros serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), visando proporcionar o cuidado integral”, acrescenta, em nota.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.