Cracolândia tem situação de 'insegurança humana', diz comissão da OEA

Delegação está no País para avaliar situação dos direitos humanos; até o dia 12, a comissão visitará Brasília e os Estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e Roraima

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Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos(OEA) fez na manhã desta quarta-feira, 7, uma inspeção na Cracolândia, na Luz, região central de São Paulo, para avaliar a situação dos direitos humanos. Os eixos transversais como discriminação, desigualdade, pobreza, institucionalidade democrática e políticas públicas estão sendo abordados pelos integrantes da comissão

A área da Cracolândia reúne centenas de usuários de drogas e população em situação de rua, sendo alvo de constante de operações da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana. A repressão foi intensificada depois das megaoperações policiais feitas em maio de 2017.

Região da Cracolândia, na Luz, região central de São Paulo, reúne centenas de usuários de drogas e população em situação de rua Foto: Werther Santana/Estadão

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A vice-presidente da CIDH, Esmeralda Arosemena, após conversar com alguns frequentadores e residentes da região, disse que as pessoas da área vivem em uma situação de completa de falta de segurança e garantia de direitos. "A forma como estão vivendo essas pessoas que acabamos de visitar, simplesmente estão em uma situação de insegurança humana. Para falar de segurança é preciso falar primeiro de segurança humana. Dar respostas a essa população", disse.

A população que vive na Cracolândia demanda ter, segundo a vice-presidente, não apenas "um prato de comida", mas os direitos básicos assegurados. "Isso traz a obrigação de oferecer saúde, moradia, educação, reconhecimento e alimentação. Eles reclamam até de não ter o direito de se movimentar livremente, de liberdade de andar, um direito fundamental. Não podem ir de um lado ao outro", disse.

Um dos moradores ouvidos pela comissão, Cleiton Ferreira, reclamou da constante violência policial na Cracolândia. "O que nós queremos é educação, respeito e igualdade social. Como ter igualdade se não tenho trabalho? Se não tenho nem uma latrina para defecar?", disse. Cleiton afirma que perdeu a visão de um dos olhos ao ser atingido por um destroço de bomba de gás lacrimogêneo.

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Um residente da Cracolândia que se identificou apenas como André, reclamou que, dependendo da aparência, as pessoas são impedidas de circular por determinados lugares pela Guarda Metropolitana ou pela Polícia Militar. "Se você está sem camisa, com um monte de latinhas [para reciclagem] na mão, não pode passar", exemplificou.

As autoridades responsáveis pelas ações e atendimento à população na região também serão ouvidas pela CIDH antes que a comissão elaborar as conclusões sobre a situação da Cracolândia. "É um assunto de saúde pública o que vimos hoje. Nós vamos ter a oportunidade de recolher toda as informações. Estar aqui, avaliando. Vamos conversar com as autoridades de forma que o conjunto da comissão possa fazer uma avaliação", disse a vice-presidente da CIDH.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Militar atua na Nova Luz como apoio à Guarda Civil Municipal. "Críticas pontuais às ações das Polícias ou demais órgãos devem ser formalizadas às corregedorias das instituições para que todas as circunstâncias sejam avaliadas. Após a operação deflagrada no ano passado na região, no dia 21 de maio, equipes do Denarc e do 13º BPM/M continuam atuando na área com objetivo de combater o tráfico de drogas", diz a nota, acrescentando que nesse período 2.274 pessoas foram presas e apreendidas, além da apreensão de 751,4 kg de drogas, 54 armas de fogo e R$ 750 mil em notas e moedas.

Em comunicado, a prefeitura informa que oferece diversos serviços para os usuários de drogas. "A Secretaria Municipal de Saúde informa que, de 26 de maio de 2017 até o dia 30 de outubro 2018, foram realizadas 7.552 internações voluntárias em leitos de desintoxicação em hospitais contratados, 324 encaminhamentos para leitos de PS e hospitais municipais e gerais, 230 para CAPS-AD III, 14 para o CRATOD e 363 para rede de atendimentos sociais", diz a nota.

Segundo a secretaria, as unidades emergenciais de atendimento, chamadas Atende, fazem parte do projeto Redenção, "cujo objetivo é resgatar e dar oportunidade de tratamento aos dependentes químicos". No total, conforme a secretaria, são cinco unidades que oferecem os seguintes serviços: alimentação, higiene pessoal e ressocialização. Desde o dia 21 de maio, foram feitas 279.189 abordagens na região: 242.925 com encaminhamento socioassistencial e 36.264 recusaram.

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Conforme a secretaria, as abordagens são individuais e feitas por agentes especializados. Sobre a participação da Guarda Municipal, a secretaria informa que esta apoia os agentes da subprefeitura Sé nas ações de zeladoria e limpeza. "Essa atividade é realizada diariamente desde o início da operação Redenção, da Prefeitura de São Paulo e conta com aproximadamente 100 agentes da GCM divididos em três turnos. Com objetivo de coibir o tráfico, a GCM não permite a montagem de tendas no local, bem como atua em apreensões quando há flagrantes".

Até o dia 12 de novembro, a comissão visitará Brasília e os Estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e Roraima./ AGÊNCIA BRASIL