Criança de 4 anos foi morta em Santos com modelo de arma usado pela PM, aponta laudo

Ryan Santos foi atingido por disparo quando brincava na rua em novembro; defesa do policial não comentou. Secretaria afirma que caso segue sob segredo de Justiça, mas diz que inquérito será concluído em breve

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Uma bala de calibre 12 matou o menino Ryan Silva Andrade Santos, de 4 anos, durante operação da Polícia Militar em Santos, no litoral paulista, em novembro do ano passado. É o que aponta o laudo da perícia anexado ao inquérito policial sobre o caso. Segundo a investigação, à qual o Estadão teve acesso, no dia dos fatos a única arma com esse calibre era a espingarda usada pelo cabo da PM Clovis Damasceno de Carvalho Junior.

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A Defensoria Pública de São Paulo atua em defesa do cabo. “Como de praxe, não nos manifestamos acerca de processos em andamento”, disse. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos outros seis policiais investigados.

A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso é investigado pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, mas está sob segredo de justiça. O laudo pericial sobre o disparo foi concluído e anexado aos autos do inquérito, que será concluído após mais uma oitiva, segundo a pasta. A atuação dos agentes foi alvo de inquérito policial militar, que já foi concluído e encaminhado à Justiça Militar.

O corpo de Ryan foi sepultado em Santos. Aos 4 anos, menino foi morto durante tiroteio em abordagem da PM Foto: Fernanda Luz/Estadao

Conforme o inquérito policial, enquanto os outros policiais portavam pistolas Glock .40 e Taurus 9 mm, além de um fuzil calibre 556, o cabo Clovis estava armado com uma espingarda Benelli, calibre 12. Nenhuma arma desse calibre foi apreendida com os suspeitos que se envolveram na ação. Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, também morreu durante a abordagem policial. Outro adolescente de 15 anos foi ferido, mas logo recebeu alta.

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Segundo o escritório de advocacia que representa a mãe de Ryan, Beatriz da Silva Rosa, assinada pelas advogadas Andrea dos Santos Lemos e Stefany Bageski Cruz, “embora o laudo aponte que não seja possível realizar comparação balística direta (por tratar-se de projétil destinado a armas longas não raiadas, como espingardas), é incontroverso que: o projeto recuperado é de calibre 12; e a única arma desse calibre em uso no local pertencia à Polícia Militar”.

A defesa da mãe de Ryan ressalta que as investigações pela Polícia Civil ainda estão em andamento “e o cenário pode ser reinterpretado”.

Ryan foi atingido por um disparo quando brincava na rua, no Morro de São Bento, em Santos, no dia 5 de novembro do ano passado. Ele levou um tiro na barriga quando os policiais abordaram suspeitos que teriam reagido à abordagem. O menino foi levado para a Santa Casa de Misericórdia de Santos, passou por cirurgia, mas não resistiu.

O laudo necroscópico aponta morte por “hemorragia aguda em decorrência de ferimentos recebidos, produzidos por projétil de arma de fogo”. Os peritos do IML analisaram o projétil que havia ficado alojado sob o mamilo esquerdo da criança. O laudo indica que o projétil ricocheteou em superfície dura antes de atingir o menino.

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Além de Clovis, são investigados no inquérito os PMs Jorge Luiz Tilly Filho, Marcelo Oliveira Silva, Mauro Gomes de Moraes Junior, Átila Araújo Valverde Delgado, Renan dos Anjos Anacleto e Michel Rodrigues da Silva. Os policiais afirmam que foram atacados por cerca de dez pessoas, entre eles os adolescentes baleados, de 15 e 17 anos, e reagiram em defesa própria. Com os suspeitos, foi apreendido um revólver calibre 38.

Os sete policiais militares foram afastados das ruas após o evento. A SSP não informou se eles continuam afastados. O inquérito apura “eventual delito de homicídio relacionado ao uso de força letal ou eventual legítima defesa”. No dia seguinte à morte de Ryan, a PM admitiu em coletiva que, pela dinâmica do tiroteio, era possível que o tiro “provavelmente” tivesse partido da arma de um policial.